sexta-feira, 28 de junho de 2013

Triângulos Rosas




Dia do Orgulho Gay



por João Marinho


Não se confunda. Eu realmente gosto da Bandeira do Arco-Íris, um dos símbolos mais conhecidos da comunidade LGBT.

No entanto, para mim, como homem gay, nenhum símbolo representa o espectro gay da comunidade e sua luta particular contra a homofobia mais que o Triângulo Rosa.

A ideia do uso do Triângulo Rosa é verdadeiramente bela. Este símbolo foi usado em campos de concentração durante a era nazista, para identificar prisioneiros homossexuais masculinos.

Vermelho, verde, azul, roxo e preto foram as outras cores usadas para identificar, respectivamente, inimigos políticos (especialmente comunistas), criminosos comuns, emigrantes (prisioneiros de outros países), Testemunhas de Jeová e pessoas consideradas "antissociais". Lésbicas estavam entre elas. Amarelo foi a cor para os judeus. Vejam em: http://s769.photobucket.com/user/Infidelzfun/media/historical%20data/2.jpg.html.

Quando os aliados atacaram o Terceiro Reich, cada um dos prisioneiros dos nazistas foi libertado – exceto os homens gays. Eles tiveram de esperar, porque a homossexualidade entre homens ainda era crime sob a lei alemã – o Parágrafo 175 –, mesmo antes da era nazista.

Para mim, isso representa as dificuldades de ser um homem gay. Mesmo em um contexto de liberdade, as pessoas podem manter seu preconceito contra nós. Só no final dos anos 60, a homossexualidade entre homens foi derrubada como crime, tanto na Alemanha Oriental quanto na Ocidental, mas resquícios foram mantidos até 1994, após a reunificação, quando o Parágrafo 175 foi completamente cancelado.

É uma história interessante e romântica que o Triângulo Rosa tenha sido usado por homossexuais como um símbolo de luta, de serem orgulhosos de si mesmos, mesmo durante o período da Rebelião de Stonewall. Rebelião que começou em Nova York, em 28 de junho de 1969, e marca o atual Dia do Orgulho Gay.

Os presos homossexuais sob a era nazista (e depois) foram heróis, e eles ainda são, em países em que a homossexualidade ainda é crime, como na maioria dos muçulmanos. É por isso que, para mim, chamar o movimento gay de "gayzista" é uma das piores ofensas dirigidas a nós. É triste que venha se tornando tão popular no Brasil entre os evangélicos.

Para mim, minha homossexualidade é uma marca de orgulho. Não porque ser homossexual me dá algum tipo de poder ou habilidade específica, mas porque, na minha vida, minha sexualidade foi uma porta, pela qual eu passei, e me ajudou a desenvolver a empatia, ser mais compreensivo, mais flexível e até mesmo estudar mais, apesar da minha criação dentro da Igreja Batista.


Sou uma pessoa melhor agora porque me descobri gay, o que me levou a abandonar as ideias conservadoras e retrógradas, que antes apoiava. Então, seja orgulhoso, seja feliz. E pense nos heróis LGBTs que ainda estão entre nós.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

"Cura gay": por que ser contra



É correto falar de "cura gay" para o projeto de João Campos (PSDB) e Marco Feliciano (PSC)?

por João Marinho

Adiantando a resposta: sim, é correto.

A fim de esclarecer o tópico, vale passar o link com a Resolução completa do CFP 01/99 e discutir a manipulação que se observa por parte dos religiosos fundamentalistas:
http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/1999/03/resolucao1999_1.pdf

Vamos agora à análise.

Os termos em que se fundamenta a resolução são bem claros:

- Os psicólogos são profissionais de saúde;
- Os psicólogos são interpelados sobre sexualidade;
- Os psicólogos devem considerar a identidade sexual como parte da totalidade do sujeito;
- A homossexualidade não é reconhecida como distúrbio ou perversão;
- Existe um preconceito social atinente a práticas sexuais minoritárias;
- A psicologia deve contribuir para o esclarecimento dessas práticas.

Assim, toda a resolução do Conselho Federal de Psicologia tem de ser entendida à luz desses fatores.

Vamos a eles.

O artigo 1º diz que os psicólogos atuarão segundo os princípios éticos da profissão, notadamente, entre eles, os que dizem respeito ao bem-estar das pessoas.

Isso significa, ao contrário do que dizem os defensores da “cura gay”, que, não, nenhum psicólogo está "proibido" de atender homossexuais. Ao contrário. À luz dos princípios da não discriminação e do bem-estar do paciente, ele deve atendê-los.

Alvo do projeto de Campos, o artigo 3º diz, no entanto, que os psicólogos não exercerão ação que favoreça a patologização do homoerotismo.

A orientação é clara. Os psicólogos podem e devem oferecer apoio ao paciente que os busca insatisfeito com sua orientação sexual (artigo 1º), mas não podem tratar da questão como se doença fosse, por ser incompatível com o consenso científico atual.


A este respeito, vale estabelecer um paralelo com o HIV, embora este seja doença: o médico pode e deve fornecer apoio ao soropositivo, mas não pode prometer uma cura que inexiste sob o consenso científico. O psicólogo pode e deve fornecer apoio ao paciente, homossexual ou não, mas não pode ofertar uma cura para algo que, sob consenso científico, não é doença.

O artigo 3º se complementa ao enfatizar que o psicólogo não pode coagir o paciente para tratamentos não solicitados e, como a homossexualidade não é doença e, portanto, não é passível de cura, também estão vetados de participar de eventos e serviços que a proponham pelo mesmo motivo: não podem compactuar com a informação, incorreta cientificamente falando, que a homossexualidade é doença passível de ser curada.

O artigo 4º, também alvo de Campos/Feliciano, veta que psicólogos participem de pronunciamentos públicos que, literalmente, reforcem a ideia de os homossexuais serem portadores, por conta de sua homossexualidade, de desordem psíquica. Qual a razão disso? Se homossexualidade não é doença e nem distúrbio à luz da psicologia, não cabe ao psicólogo sair divulgando essa ideia, incorreta cientificamente.

Percebam, no entanto, que não existe qualquer proibição de o psicólogo religioso, por exemplo, considerar a homossexualidade "pecado", nem de crer no poder transformador e espiritual divino, uma vez que isso não faz parte da atribuição científica e nem jurisdicional do CFP.
O psicólogo pode, então, dizer que a homossexualidade é pecado? Como religioso, pode. Como profissional, não pode é dizer que é desvio psíquico. Simples assim.

Apoiadores da “cura gay” também dizem que a resolução do CFP é fruto de uma “militância extremista” dos homossexuais e que impede a pesquisa científica envolvendo a homossexualidade.

Pode até haver essa militância “extremista”,  o que quer que seja ela, mas o que baseia a resolução não é a “militância”: é não haver consenso científico sobre homossexualidade como desvio e o fato de a mesma não ser reconhecida como tal desde os anos 90 pela OMS. Ponto.


A resolução sequer toca em pesquisa científica, uma "inflação" que só encontra eco nesse povo religioso que acha tudo o "fim do mundo". Resoluções semelhantes existem em todo o mundo, e as pesquisas sobre a homossexualidade continuam existindo como sempre.

A resolução também não proíbe o atendimento aos homossexuais insatisfeitos com sua orientação sexual. Também não proíbe que homossexuais procurem psicólogos, nem que acreditem que possam ser "curados" por uma interferência espiritual, ervas ou algo que o valha. O que seria ridículo: o CFP determina normas para os psicólogos, não para os pacientes.

O que a resolução diz é que o psicólogo tem de se guiar pela ciência – e a ciência diz que a homossexualidade não é distúrbio, não é doença, não é passível de tratamento. Ponto.

Assim, no caso de ser procurado por um homossexual insatisfeito com sua orientação sexual, o psicólogo deve tratar suas neuroses, trabalhar seus sentimentos negativos e buscar, com anuência desse paciente, uma forma de equilibrar sua vida e sua psique na existência de uma orientação sexual que ele rejeita.

Homossexuais sempre puderam buscar atendimento psicológico. Sempre puderam ser tratados sobre sua sexualidade. Tenho duas amigas que se descobriram lésbicas, uma religiosa, e foram buscar atendimento psicológico para se entenderem e abordarem seus conflitos. Um dos rapazes que se descobriu gay na minha ex-igreja fez o mesmo. Em nenhum caso, os psicólogos foram "impedidos" de prestar atendimento. Eu mesmo sou gay, já tive problemas com minhas práticas sexuais e faço terapia há anos!

Aliás, meu psicólogo, João Pedrosa, conduziu uma pesquisa sobre homossexualidade anos atrás, da qual participei como voluntário, e que virou um livro: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=3251593. O que prova, mais uma vez, que essa história tosca de "pesquisas não podem ser feitas por causa da resolução" é pura e simplesmente mentira!

A resolução é exorbitantemente simples: o que o psicólogo não pode fazer é falar de mudar a orientação sexual do paciente, de curá-la, de alterá-la, porque isso inexiste no consenso científico. E porque não é doença.

Ao tentar derrubar os citados artigos, o que João Campos faz é tentar abrir as portas para uma categoria bem específica de psicólogos: os psicólogos evangélicos fundamentalistas, para que estes possam defender que a homossexualidade é doentia e aplicar, em seus consult
órios, ferramentas de cunho religioso – já que inexistem ferramentas científicas sob consenso – voltadas para a "reorientação" sexual sem sofrerem sanção dos Conselhos. É também permitir que esses psicólogos se associem a igrejas neopentecostais e suas práticas "espirituais" e questionáveis de "reorientação" sexual.

Em suma, uma abertura para o charlatanismo.

Similar, por exemplo, a permitir que os médicos possam praticar exorcismo sem considerar que essa prática não encontra consenso científico e sem poder fazer nada para separá-la da práxis profissional, que, no entanto, deve(ria) ser guiada pelo mesmo.


Estamos conversados?

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Feliciano, Ronaldo, Mara e as críticas sem cérebro



HOMOFOBIA, TRANSFOBIA, MACHISMO E MISOGINIA: POR QUE INTERNALIZAMOS (E EXTERNALIZAMOS) TUDO ISSO?

por João Marinho

Tenho me mantido quieto até agora sobre certos protestos que acompanhei no Facebook envolvendo Marco Feliciano, Ronaldo “Fenômeno” e Mara “Maravilha”, mas penso que certas reflexões são, no momento, pertinentes.

Em primeiro lugar, devo dizer que sou plenamente a favor de manifestações críticas a esses personagens.

Marco Feliciano é um pulha, incapaz de tecer qualquer comentário relevante sobre o momento histórico que vive o Brasil, incapaz de apresentar qualquer projeto relevante – mas é o primeiro da fila quando se trata de “fiscalizar” os ânus alheios.

Ronaldo “Fenômeno” foi muito infeliz ao dizer, no momento em que a população – correta ou inadequadamente – pedia por melhoria nos serviços públicos, que Copa não se faz com hospital. Irmanou-se a Pelé, que quis tornar a seleção mais importante que a coisa pública. Seleção é legal de assistir, mas não resolve saúde, educação, transporte. Nem vida.

Mara “Maravilha”, tanto pior. Ao defender Feliciano e chamar gays de “aberração”, une-se ao que de mais retrógrado, fundamentalista e moralmente condenável existe na política, na sociedade e na religião brasileiras.

Merecem todos serem criticados... Mas o problema está NA FORMA como parte dessas críticas têm surgido.

Para Feliciano, tem sido comum dizer que ele é “gay enrustido”, “bicha crente”, “passiva não assumida”, que “precisa de um pau” e outras coisas desse naipe.

Para Ronaldo “Fenômeno”, vi fotos “respondendo” a ele que, se Copa não se faz com hospital, orgia não se faz com travestis.

Mara “Maravilha” tem sido crucificada por ter posado nua e acusada de “hipócrita”, “sirigaita”, “velha” e “decadente”. Aqui, subentende-se que gays não são “aberração”, mas ela, que teve a pachorra de posar nua!

Ora, o que essas críticas dizem a respeito de nós mesmos, externadas, inclusive, por LGBTs e por mulheres?

A meu ver, nada de bom.

Não sei de onde vem a ideia de que homofóbicos são “gays enrustidos”.

Antes que me digam que existem estudos apontando para isso, devo dizer que eu conheço esses estudos e sei, também, ao contrário da maioria, que eles se remetem a certos tipos de homofobia e a certas categorias populacionais. Seus próprios autores alertam que não podem ser generalizados para outros grupos ou populações em termos amplos.

É de se pensar que, de fato, muitos homofóbicos, especialmente os mais agressivos, são, na verdade, pessoas com profundos problemas sexuais e que, tal como a pessoa maníaca por limpeza, tentam “reprimir” desejos do que consideram “sujeira” apelando para o extremo oposto.

No entanto, a homofobia não possui apenas essa face, mais agressiva.

No Ocidente e no Oriente Médio, ela é fortemente calcada em uma cultura judaico-cristã e islâmica, que, inclusive, espalhou-se para outros povos.

A extrema dicotomia artificialmente construída para homens e mulheres – muito superior a qualquer fundamentação biológica possível de analisar – resvala na tese de que o gay, a lésbica, o/a bi é um/a “desviado/a”, que não contempla seu papel dado pela “natureza”. Pior ainda para travestis e transexuais. Argumentos errôneos, sabendo-se hoje que, mesmo em outras espécies, existe comportamento homoerótico e transexual.

Culturalmente, porém, isso ainda contém um forte apelo popular – e resultam daí as milhares de faces da homofobia e de suas derivadas. Da mãe e do pai que se perguntam “onde foi que erraram” ao fato de “viado” (ou “veado”) ser um xingamento comum, no que é possível perceber a herança, difusa e obscena, de considerar o “homem que dá a bunda” como inferior ao “macho”.

O que me constrange nas tirinhas contra Feliciano, publicadas INCLUSIVE POR GAYS, é as pessoas não perceberem toda essa herança verdadeiramente maldita e reforçarem-na.

Sim, porque, não importa quanta raiva justificada você tenha de Feliciano, ao dizer que ele é “gay enrustido”, “bicha crente”, “passiva não assumida”, que “precisa de um pau”, você está, sim, fazendo o mesmíssimo uso homofóbico de considerar a homossexualidade de alguém, real ou suposta, como índice de inferioridade. Como vai exigir respeito depois quando, frente a um preconceituoso, for você o alvo de idêntica estratégia?

É homofobia internalizada, pura e simplesmente.

O que você pensaria, por exemplo, se visse um negro criticando outro partindo justamente da cor da pele daquele outro, porque “se não fez na entrada, faz na saída”? Ou um judeu criticando outro partindo justamente do fato de o segundo ter, vejam só, mãe judia, porque judeus, “óbvio”, são “mãos de vaca e interesseiros”?!

Ridículo, não é?

Então, por que raios criticar Feliciano partindo de uma homossexualidade “suspeita” porque, “claro”, só “bichas malresolvidas” perseguem “as demais”?

Não sei vocês, mas eu não nasci “fora do armário” – e não me recordo, da época em que me escondia entre mofos e gavetas, de, por isso, ter me tornado um Feliciano da vida...

Ora, se Feliciano é homofóbico – e ele o é –, é isso que deve ser criticado, e não sua suposta sexualidade. Mesmo porque, na sociedade homofóbica e heteronormativa em que vivemos, não é preciso ser “enrustido” para ter preconceito. Basta seguir a maré.

O caso de Ronaldo “Fenômeno” já flerta com a transfobia. Não dá para acreditar na história de que ele “se confundiu” com travestis e mulheres. Quem vive em grandes cidades, como São Paulo e Rio, metrópoles que conheço bem – e foi no Rio onde se desenvolveu o imbróglio –, sabe perfeitamente que garotas, garotos e travestis de programa, até por necessidade de público-alvo, não dividem o mesmo espaço urbano. Existe uma divisão geográfica, ainda que informal.

No entanto, se Ronaldo se deixa levar por uma transfobia cultural e prefere passar pelo “carão” de “confuso” em vez de assumir que realmente tinha interesse nas travestis, é esse aspecto transfóbico que deve ser criticado.

O que não pode é explorar uma mensagem que coloca as travestis, já tão marginalizadas, como um anátema, portadoras de algum aspecto “nojento”, que as impediria de serem candidatas a momentos de prazer com outrem, ainda que num bacanal.

As críticas direcionadas a Mara “Maravilha” já flertam com o machismo e a misoginia. Sim, Mara foi infeliz até a medula em sua declaração e merece toda a nossa revolta por isso.

No entanto, que fique claro. O que deve ser criticado em Mara é sua homofobia e seu fundamentalismo religioso da pior espécie. Não é o fato de ter posado nua, de ser “sirigaita”, de ter “dado mais que chuchu na serra”, de estar “velha”.

Mara ou não, o corpo da mulher é da mulher – e o uso que ela faz dele é de foro personalíssimo. Até quando flertaremos com a ideia de que o número de parceiros sexuais ou a exposição do corpo e da nudez determinam o grau de empatia, moralidade, respeitabilidade de alguém?

Há mulheres prostitutas, e muito felizes, como na censurada campanha do Ministério da Saúde, que dão um banho em termos de respeito ao próximo frente à beata virgem mais intransigente. Ademais, idade, que eu saiba, não é defeito.

Ao criticar Mara por ter posado nua, flerta-se com a pior espécie de machismo. Aquele que quer ter controle sobre o corpo da mulher – e que, na impossibilidade de tê-lo, faz do corpo da mulher e do uso soberano que a mesma lhe dá razão para agredi-la socialmente.

Então, você gay, você lésbica, você mulher, você travesti, trans, bissexual... E você hétero consciente... PAREM! Parem de fazer uso dessa cultura triste e brasileira e saibam criticar sem utilizar os mesmos argumentos do que aqueles imbecis que, vira e mexe, atacam você.

sábado, 22 de junho de 2013

Exija o PSDB contra a cura gay!


EXIJA O PSDB CONTRA A CURA GAY!


por João Marinho

Não, você não leu errado: os fatos sobre a "cura gay" vão além da briga entre PT e PSDB, não importa de que lado você esteja no espectro político.
 

Primeiro, vamos aos fatos que têm responsabilidade do PT na subida de Marco Feliciano, do fundamentalista PSC, à Comissão de Direitos Humanos.

O PT é parcialmente responsável por isso? É, sim. Desistiu da comissão histórica em favor de "outras mais importantes", e o jogo realizado com a base aliada permitiu ao PSC pleitear a comissão. E ganhar o direito de indicar seu presidente.

Só que tem outro detalhe. PMDB (do Temer e Calheiros), PSDB (do Aécio) e PP (do Maluf) também têm responsabilidade, porque cederam, juntos, cinco vagas para o PSC na comissão depois que o PSC assumiu com a estratégia do PT.

PSB (sim, o partido da Erundina!), o PTB, o PSD, o PR e o PV (do Gabeira) também têm a sua, porque indicaram parlamentares evangélicos para a comissão. Confira: http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,sessao-que-elegeria-pastor-nos-direitos-humanos-e-suspensa-na-camara,1005182,0.htm.

A união desses parlamentares e das cinco vagas permitiu que Feliciano fosse eleito presidente da comissão, após indicação do PSC.

Resumindo: nas próximas eleições, avalie você gay, você lésbica, você travesti, bissexual ou trans, analise com bastante critério os candidatos do PT, PMDB, PSDB, PP, PSB, PTB, PSD e PV porque todos esses partidos nos traíram! Os fundamentalistas PR e PSC, não é nem pra cogitar votar!

Mas e a "cura gay"? Aí, existe responsabilidade do PSDB também. O autor do projeto de "cura gay" é mesmo do PSDB: o deputado-pastor João Campos.

Sim, o PSC do Feliciano é da base aliada e um câncer, cujas responsabilidades acabamos de apurar acima. E o PSC tem sua cota particular de responsabilidade: Feliciano pôs um pastor pra relatar o projeto! E o pôs em votação, agindo também para garantir a aprovação. E a comissão está dominada por evangélicos fundamentalistas agora.

No entanto, a verdade é que, sem projeto, não haveria relator e nem votação em comissão. E o projeto só existe por causa do João Campos do PSDB. Agindo e pressionando, realmente o PSDB poderia fazer o Campos retirar o projeto de pauta.

Então, a pressão é válida, sim, sobre o PSDB - ainda mais tendo um pré-candidato à presidência da República que se declarou a favor da união homoafetiva.

Pressionem o PSDB e não mirem apenas no Feliciano. João Campos é um outro câncer, autor não só da "cura gay", mas também do projeto que permite às igrejas interferirem no Supremo - e está passando "pianinho" nisso.


http://www.psdb.org.br/psdb/fale-conosco/

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Abram passagem!

© Reprodução


DE BOA, EU APOIO OS PROTESTOS EM SP E NO BRASIL CONTRA O AUMENTO DAS PASSAGENS DE ÔNIBUS.


por João Marinho

... E digo mais: eu fico besta com a miopia de parte da população paulistana.

Não, eu não sou a favor de depredar o patrimônio público, como estações de metrô em São Paulo – mas sei também que não foram as 5 mil ou 10 mil pessoas que estavam lá e fizeram isso, mas uma minoria, que utiliza o protesto como catapulta.

No entanto, a demanda é mais do que justa. Pode parecer pouco: o aumento da passagem foi de R$ 0,20 em São Paulo (de R$ 3 para R$ 3,20) e foi dentro da inflação.

Ocorre que existem outros dados que maquiam a realidade. Um deles é o fato de que desde que a passagem de ônibus de São Paulo, a segunda mais cara do Brasil, passou de R$ 0,50 para R$ 3,20 nos últimos anos, já superou em muito a inflação do período.

Mais do que isso: o serviço de transporte público na capital e na região metropolitana é deficitário, sobretudo na periferia, e não condizente com o valor que é cobrado.

Some-se a isso o fato de que metrô e CPTM também aumentaram os preços – e que a população que mora na periferia e trabalha na região central usa até 3 conduções de ida e 3 conduções de volta para trabalhar, nem todas elas cobertas pelas empresas.

O Bilhete Único, válido na capital, alivia, mas não resolve (inclusive porque tem prazo de 2 horas para funcionar), e, no limite, as pessoas pagam caro para ficarem em pé, sem conforto, em veículos com falta de manutenção e demorando horas para ir e voltar para casa. Já se preocuparam em contar quantas vezes houve panes no metrô e na CPTM nos últimos tempos?! Além disso, o metrô e a CPTM fazem greves por causa do descaso do governo e prejudicam milhares, em estações lotadas e ônibus piores ainda. A questão gera problemas para as empresas, porque fatalmente as pessoas não podem trabalhar nesses casos.

Resultado: uma hora, tudo isso explode.

De resto, façam uma conta, matemática mesmo. Uma pessoa que é arrimo de uma família de 3 pessoas em que cada uma utiliza 2 conduções para ir e duas para voltar terá gasto cerca de R$ 28,50 por dia com essa despesa (já descontado o Bilhete Único). Multiplicados por 24 dias úteis e 12 meses, dá R$ 8.208 reais por ano.

Com o aumento da tarifa, a mesma pessoa ganharia uma despesa de R$ 30,36 por dia. Ao ano, R$ 8.743,68. É uma diferença de mais de R$ 500. Algo bem superior aos R$ 0,20 que tanto alardeiam. É quase um salário mínimo a mais por ano, considerando que essas pessoas que pagam esse valor não ganham tanto assim também.

Também considero que é preciso lembrar que a PM paulista não é lá muito inocente. O Movimento Passe Livre comenta que os casos de vandalismo começaram após a polícia responder com força excessiva. Bom, ninguém apanha de graça.

E a Polícia não andou agredindo ATÉ JORNALISTAS?! Isso diz muito.

Entendo também que existe muita revolta nessa população que protesta, jovem. Não apenas por causa do serviço deficitário de transporte, mas porque vemos a polícia usando até de helicópteros nessas manifestações, mas totalmente apática tanto no centro quanto na periferia, dos quais os arrastões, os dentistas queimados e as chacinas nos bairros afastados são apenas a ponta do iceberg. Onde fica toda essa força policial, quando os jovens morrem à luz do dia?

Tudo isso também explode.

Então, ainda que eu não concorde com os excessos, parte deles eu entendo – e, ainda que entenda e não apoie esses excessos, a verdade é que as manifestações são legítimas, sim – e é preciso que se proteste e saia da apatia.

E um aviso aos navegantes, que, sempre que ocorrem mobilizações populares, dizem que "há coisas mais importantes para protestar". Considero uma idiotia sem tamanho, porque, para um caso como o que relatei na conta, um salário mínimo a mais por ano (o que, para muitos, equivale a quase 1 mês a mais de trabalho!) já é importante o suficiente para protestar.

Mais do que isso: e onde estão essas pessoas que sempre acham que "tem coisa mais importante" quando essas coisas mais importantes estão em voga? Nada fazem, nunca vão, e só sabem torcer o nariz diante do computador, no conforto de suas casas, enquanto alguns tentam, ainda que apenas pela passagem de ônibus, conter os desmandos que cotidianamente têm lugar no Brasil.

A Prefeitura e o Governo do Estado dizem que não têm dinheiro para pagar as diferenças inflacionárias. Não têm? São os governos que podem reduzir os impostos. São os governos que podem auferir se as empresas de ônibus estão lucrando mais do que determina a lei (em Porto Alegre, o Tribunal de Contas já desconfia que sim) – e, se apenas 1 deputado estadual ou 1 vereador deixar de receber suas benesses, desconfio que, em 1 ano, boa parte do gasto adicional com os subsídios para manter o preço já estaria sanada.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

40 mil evangélicos em Brasília

"VIBRA, CAPETA", OU QUESTIONAMENTOS SOBRE A POLÍTICA FUNDAMENTALISTA EVANGÉLICA EM BRASÍLIA
 
por João Marinho
 
Demorei alguns dias para me posicionar a respeito da manifestação antigay e evangélica realizada em Brasília na semana passada, que, segundo a PM local, reuniu 40 mil pessoas.
 
As manifestações que tenho lido oscilaram entre um excesso de confiança por parte dos evangélicos malafaístas – muitos dos quais utilizaram, em fóruns dominados pelo fundamentalismo, o jargão de Silas: "Chora, capeta!" – e o excesso de desprezo por parte de muitos opositores (e, para deixar claro, eu sou um opositor), que deram à manifestação o status de "fracasso".
 
Optando pelo caminho do meio, como ensina Aristóteles, não deixa de ser assustador que 40 mil pessoas tenham se unido em torno de uma pauta política negativa, no sentido de rejeitar a uma parcela da população a consecução de direitos iguais, como determina a Constituição republicana.
 
Curioso é que esses mesmos direitos são desfrutados pelos manifestantes e o eram por todos os demais até agora, desde que entre homem e mulher, inclusive por representantes a quem os evangélicos também se opõem, como os ateus e os membros de qualquer outra religião.
 
Entre essas, a católica. Afinal, a despeito da singular participação de Jair Bolsonaro supostamente representando esse segmento - ele, que é recasado e, portanto, vai contra a doutrina católica antidivórcio! -, a verdade é que qualquer ex-evangélico, como este que vos escreve, ou evangélico sabe, no fundo, que tais igrejas dedicam à Igreja Católica adjetivos bem pouco abonadores, que variam de idólatra a apóstata.
 
É assustador e preocupante. Definitivamente, não foi um fracasso – mas não é de aterrorizar. Os evangélicos presentes ao evento superestimaram seu alcance. Embora 40 mil seja um público relevante, não deixa de ser uma excelente notícia que a manifestação tenha ocorrido com 60% menos público que o anunciado por Malafaia, que prometia 100 mil. Os mais empolgados falavam até em 300 mil.
 
Também interessante notar as ausências, politicamente bastante representativas (http://ciatriangulorosa.info/?p=426#comment-750), o que demonstra que a influência de Malafaia não é, a rigor, tão grande quanto ele alardeia, ainda que eu não compartilhe de todo o otimismo do link há pouco discriminado.
 
Malafaia também alardeou que a manifestação ocorreu sem uso de dinheiro público – "como a Parada Gay" –, mas, além de ser necessário informar de que o poder público também apoia manifestações como a Marcha para Jesus, é incontestável que o prestígio dos cantores gospel frente àquele público e o fato de ter sido parte dos fiéis levada com ônibus e lanches pagos por igrejas demonstra um "aliciamento" relevante: a mesma Associação da Parada de São Paulo, tão atacada pelo pastor assembleiano, não promoveu semelhantes "incentivos" para reunir 600 mil apoiadores na Avenida Paulista.
 
Uma demonstração do alcance se deu na eleição de Luís Roberto Barroso, ao STF, no mesmo dia. Foi um dia tumultuado, em que o infame Estatuto do Nascituro, apoiado pelos religiosos fundamentalistas, avançou, mas que Barroso, em quem Malafaia prometeu "descer a ripa", ganhou seu assento com esmagadora maioria no Senado, após ser sabatinado por cerca de 7 horas e defender publicamente suas posições nos julgamentos do Supremo sobre fetos anencéfalos e união homoafetiva.
 
Se por "capeta", os evangélicos malafaístas entendem a defesa dos direitos humanos e da diversidade brasileira – inclusive sexual e ideológica –, ele, o capeta, definitivamente não estava chorando, mas se mobilizando na garantia de um assento no STF a um ministro antenado com o mais moderno entendimento sobre garantia de direitos fundamentais.
 
Dito isso, o que depreender efetivamente da manifestação? Ora, excetuando-se as famílias homoafetivas, a união entre pessoas de mesmo sexo e o casamento gay não geram direitos ou deveres que interfiram nas famílias de quem não é homoafetivo e não tem parceiro do mesmo sexo, como é o caso dos próprios evangélicos.
 
Portanto, rigorosamente falando, considero totalmente injusta e carente de fundamento a mobilização evangélica – mas, se formos falar de pesquisas, a população brasileira encontra-se dividida sobre a questão, mas com vantagem para o reconhecimento da união homoafetiva e/ou casamento gay (http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2013/05/37-dos-brasileiros-nao-aceitariam-ter-um-filho-homossexual-diz-pesquisa.html e http://www.meionorte.com/noticias/geral/pesquisa-maioria-dos-brasileiros-ja-e-a-favor-do-casamento-gay-176606.html). Em suma, certamente, é arriscado falar que esses 40 mil respondam pelos 200 milhões de brasileiros – e certeiro observar que tentam impor regras a quem não compartilha de seus valores.
 
Pior ainda é observar em como tantos milhares de pessoas se colocam voluntariamente como massa de manobra. Lembremos do Kit Escola Sem Homofobia, que tinha como objetivo combater o bullying homofóbico.
 
Desde a instauração do programa Brasil Sem Homofobia, o governo já dispõe de estatísticas que denotam ser esse um problema enfrentado nas escolas, que prejudica o desempenho de uma gama de alunos (sejam LGBTs ou não: basta apenas ser "apontado" como um), aumenta a evasão escolar, as taxas de suicídio entre jovens e adolescentes LGBTs e a vulnerabilidade a DSTs e morbidade (há estatísticas nacionais e internacionais sobre isso) em relação aos alunos autodeclarados héteros.
 
Nesse sentido, como bem pontuou o agora ministro Barroso, é preciso considerar que as maiorias podem muito, mas não podem tudo. A resistência de uma parte da população, mesmo que majoritária, ao tema da homossexualidade como tabu não necessariamente deve se sobrepor ao interesse dos jovens LGBTs, uma vez que é questionável que a manutenção de uma ideologia conservadora cristã se sobreponha à questão do suicídio, aumento da morbidade, mortalidade e evasão escolar: todas essas outras esferas, constitucionalmente, inclusive, mais importantes e direitos fundamentais das pessoas.
 
O Kit, que, por sinal, não era direcionado a crianças e adolescentes - mas aos professores - e teve o aval da Unesco, infelizmente sofreu uma campanha de desinformação por parte da bancada evangélica. Foi cancelado. No entanto, pior ainda, não por causa do "interesse da maioria da população" ou "por causa dos valores cristãos" evangélicos, mas numa manobra governista para atender à bancada religiosa com vistas a manter um ministro, Antonio Palocci, no cargo diante da ameaça dessa mesma bancada de investigar seus supostos ilícitos.
 
A realidade, portanto, é bem mais suja - participando dessa sujeira a bancada religiosa evangélica e fundamentalista. É muito entristecedor que, ainda que não representativas da maioria (como se vê em estatísticas acima), 40 mil pessoas se disponham a ir a Brasília contra direitos que não lhes dizem respeito – e aos que supostamente diriam, como o PLC 122, sejam também alvos de desinformação, especialmente com a redação atual do projeto.
 
Graças à agenda eleitoreira, também o governo de Dilma tem se tornado refém desse tipo de interesse escuso. E, enquanto isso, o Brasil retrocede no combate ao HIV/Aids, na redução dos crimes homofóbicos, nos direitos fundamentais da cidadania, na evasão escolar e no suicídio de jovens e adolescentes LGBTs. Enquanto os evangélicos não perdem e nunca perderam um direito, comprando tevês e rádios e cinemas e, ainda assim, sob hipnose pastoral, se sentindo "perseguidos".
 
Em suma, muita pouca realidade, muita massificação, muita enganação e muita manipulação envolvendo um jogo político sujo, erguido sobre corpos de homens, mulheres, jovens, crianças e adolescentes inocentes.
 
Tais manifestações malafaístas só terão efetivo sentido cristão e religioso quando e se os mesmos evangélicos fundamentalistas se levantarem contra os casamentos de membros de outras religiões (que criam seus filhos na idolatria e na apostasia, segundo eles, o que é antibíblico), contra famílias monoparentais (o que também é desaconselhado pela doutrina), contra a Fertilização In Vitro (que é antinatural) e a favor da proibição do divórcio tal como na lei civil (que também é antibíblico). O fato de não o fazerem diz muito a respeito do que realmente está por trás: o que tem muito menos a ver com a "defesa da família tradicional" do que eles dizem ter.