sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Dilma: desgraça para gays


 Dilma: a pior desgraça para os LGBTs


por João Marinho

Quando estive na audiência pública do Senado, em 2007 (uma das vááárias que o projeto já teve: me pergunto por que ainda precisa de MAIS!), que discutia o PLC, vi Ideli Salvatti fazendo um apelo emocionado a favor do PLC 122, quase que com lágrimas nos olhos. Dizia ela que, se o projeto merecesse reparos, que fossem feitos, mas que não se deixasse de aprová-lo, dada a sua importância contra a violência, que vitima tantas famílias.

Seis anos depois, agora assisto à mesma Ideli atendendo ao pedido do Planalto para que adiem o PLC até as eleições de 2014, mostrando novamente como o governo petista e de Dilma Rousseff está de joelhos, desde já, frente ao fundamentalismo – e que papelão da Ideli! Eu pediria para sair, se agir significasse ir contra valores morais que eu mesmo preguei e condenar toda uma população a permanecer à margem do direito positivo, deixando de gozar um direito que seus algozes, os evangélicos, já possuem (a lei já protege contra a discriminação por motivo religioso).

Quero ver agora algum amigo petista ainda defender a "senhora presidenta". Não há dúvida alguma: Dilma Rousseff e seu governo foram a pior desgraça que já aconteceu no Brasil para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais desde a redemocratização.

Jamais terá meu voto novamente. Sim, voto nulo em 2014 se for necessário, mas nessa pessoa inescrupulosa que colocamos como presidente, jamais. Nem para síndica de prédio. Espero com ardor o dia em que será engolida pela história e envenenada pelas alianças espúrias que se propôs a fazer. Eu, que simpatizava com o PT.

"Vamos votar em uma mulher, um marco histórico para o Brasil", diziam os petistas que me convenceram em 2010. Que piada! Talvez Margaret Thatcher fosse menos pior para o Brasil. Ela, pelo menos, era franca: não se fazia de "defensora" dos direitos de minorias, enquanto dava a rasteira nessas mesmas minorias nos bastidores.

E anotem esses nomes, LGBTs: Wellington Dias (PT-PI) e Walter Pinheiro (PT-BA) não são merecedores de seus votos em 2014 .

Mais e por quê:
http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2013-12-13/por-2014-planalto-freia-projeto-que-criminaliza-homofobia.html

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Dia de Finados

Velas



por João Marinho

VELAS

Embora eu acredite que muitos de vocês não saibam, nunca foi segredo para ninguém que eu sou um “filho da igreja”, no sentido mais próprio do termo. Fui literalmente criado na Igreja Batista, denominação de que nunca saí até deixar o cristianismo – ainda que tenha transitado em dois segmentos internos, o da Convenção e o da Batista Bíblica –, e cedo me converti, aos 12 anos de idade; e me batizei aos 14.

Com isso, me irmanei ao restante da minha família nuclear: minha mãe e minhas duas irmãs, também evangélicas... Ou protestantes, termo que considero mais simpático para as denominações históricas.

Minha família, porém, sempre teve a singular diferença do meu pai, católico. “Sui generis”, é verdade... Não praticante, daqueles que reclamam do papa, criticam o cristianismo e a Bíblia, veem as diferentes igrejas de uma perspectiva não raro negativa e dificilmente entram em uma, a não ser em casamentos e batismos... E uma ou outra vez para ver eu e minhas irmãs cantando ou interpretando uma peça de temática bíblica, ou para passar o Natal e o Ano Novo em nossa companhia.

Acho que, no fundo, meu pai só se diz católico por tradição. Quando éramos bebês, em acordo com a minha mãe, que já era evangélica, fez questão de que fôssemos batizados por um padre – mas nunca expressou qualquer desejo de primeira comunhão ou de crisma. Devoto de algum santo? Não que eu saiba. Reza às vezes, mas não o Pai Nosso ou a Ave Maria: é mais como a oração dos evangélicos. Benze-se antes de sair de casa... E para por aí.

No entanto, ele sempre manteve outra tradição igualmente singular. Todo dia 2 de novembro, dirige-se a um cemitério e acende velas. Primeiro, para seus pais, meus avós, que há muitos anos se foram. Depois, para os amigos que ele tinha e que, idosos como ele, partiram antes – e isso sempre me chamou a atenção.

Quando eu estava na Igreja Batista, nutria, como o restante da família, o sentimento de ver meu pai convertido à religião evangélica. Isso nunca aconteceu, e eu tendia a considerar as críticas dele coisas de “incrédulo”, mas o tempo traz a experiência... E, tão surpreendente quanto foi minha desconversão para o restante da família, foi para mim o fato de que eu passei a entender o modo de ver de meu pai e as críticas que ele tecia. Muitas vezes, até concordamos.

Temos eu e ele uma relação muito boa, mesmo com a dificuldade que ele tem, dada sua criação nordestina e machista, com a minha homossexualidade. Há confiança, carinho e somos, inclusive, confidentes. Não sei se por eu ser gay e, por isso, supostamente já ter a mente mais aberta (embora eu tenha mesmo, hehehe), mas tenho a impressão de que meu pai entende que pode me contar “qualquer coisa”. Há certas confissões que me deixaram de cabelo em pé, rs – mas eu gostei delas, porque me fizeram enxergar uma realidade: nossos pais não são perfeitos, são humanos, erram, têm seus medos, segredos... E já pisaram muito no tomate quando jovens.

Essa não tão súbita maior proximidade e entendimento me fez prestar ainda mais atenção ao ritual do dia 2, a ponto de, certa vez, ali pelo segundo ou terceiro ano de faculdade, eu perguntar a minha amiga Thais Iervolino por que os católicos acendiam velas, iam a cemitérios e rezavam para as pessoas que se foram. Na minha igreja, dizia-se que evangélico mesmo só ia ao cemitério duas vezes a cada morte: no sepultamento do ente querido e na hora em que ele próprio viesse a morrer. Ela me explicou que era para ajudar-lhes a encontrar o caminho, ajudar-lhes a superar os rigores do purgatório e também para nos lembrarmos deles.

Purgatório é uma tese estranha a ouvidos evangélicos. As igrejas protestantes acreditam que há apenas dois destinos finais: paraíso ou inferno, definidos pela crença em Jesus Cristo. Defendi isso por muitos anos. Verdade seja dita, porém, a tese de um terceiro lugar me soava mais simpática. Especialmente no final do meu processo de desconversão, sempre achei a lei divina interpretada pelos evangélicos radical demais. Definitiva. Sem chance de remissão.

Thais nunca soube, mas aquela conversa me impactou – e me mudou. Então, um dia, para surpresa da minha família, eu anunciei que iria com meu pai ao cemitério no dia 2 de novembro. Ele ficou muito feliz. Foi um dia mágico, na verdade, porque me senti compartilhando com meu pai algo que lhe era muito íntimo, até dolorido, e que ele vivia sozinho.

“Sui generis” como ele é, não acredito que meu pai creia que as velas que acende de fato ajudarão meus avós ou seus amigos em qualquer atividade no outro plano. Nem mesmo sei se ele tem certeza de onde eles estão na suposta outra vida.

Embora nunca tenhamos conversado sobre essa parte do ritual, percebi que, na verdade, para ele, ir ao cemitério e acender suas velas é mais como um memorial. Uma forma de homenagear aquelas pessoas queridas que não estão mais entre nós, externar a falta que elas fazem, refletir sobre o curso da vida e lembrar os momentos que com elas passamos e que, muitas vezes, na correria do dia a dia, deixamos desbotar. Rezar por elas também, é claro – e, de um ponto de vista, compartilhar esse sentimento de respeito, em silêncio, com outros que estão fazendo a mesma coisa e que conhecem a mesma dor. Sinceramente, achei isso muito bonito e, pelo menos, foi a forma pela qual passei a entender e sentir o Dia de Finados, já que a ideia de céu, inferno e purgatório faz pouco sentido para um desconvertido.

Muitos amigos não entendem por que, não sendo eu mais um “cristão”, guardo essa data. Estranham ainda que eu tenha iniciado a tradição depois de desconvertido.

São essas as razões.

Já perdi algumas pessoas, algumas muito jovens e quando eu era muito jovem. Não sei se o fato de eu elevar meu pensamento a elas as ajuda, nem mesmo se existe outro plano, nem se elas estão lá – mas faz bem. Honrar a própria história e lembrar-se de quem merece é algo que comove. Por isso, amanhã, estarei novamente lá, acendendo minhas velas – e vendo-as queimar com minhas lembranças.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Homem feminista? Repensando



O Deus Forseti, movimento de homens e a imagem da igualdade como meta




por João Marinho



Por muitos anos, eu me considerei um homem feminista, como até já postei várias vezes aqui e em textos meus.

Afinal, sempre fui a favor da igualdade de condições entre homens e mulheres – desde criança, como minhas irmãs podem atestar.

No entanto, tenho repensado essa classificação.

Na semana passada, tivemos eu e meu amigo, Ricardo, uma experiência péssima com mulheres feministas na discussão sobre os vagões exclusivos para mulheres que querem os políticos implantar no metrô de São Paulo.

Tratava-se de um evento das feministas contra a implantação, e, embora eu concordasse com isso desde o começo, e o Ricardo, posteriormente, logo fomos acusados de coisas nada agradáveis.

Ricardo, verdade seja dita, é muito mais feminista que eu. Embora, a princípio, discordasse das mulheres do manifesto contra a implantação dos vagões, sempre escreveu a partir de uma visão feminista e do direito e bem-estar das mulheres.

Eu não.

Estava defendendo outros valores, entre eles a injustiça de considerar qualquer homem um abusador/estuprador em potencial apenas por ser homem e por prevenção (Minority Report?) e ainda reduzir, para nós, a oferta de um serviço público pela metade (mantendo o mesmo custo).

As acusações? De estarmos fazendo "mansplaining" até sermos parte dos opressores apenas porque somos homens.

Argumentei que era impossível que nos colocassem nessa posição, não apenas por nosso histórico, mas também por nossa própria condição de gays. Afinal, que "opressores" são esses que se assumem e são demitidos, levam lampadada na rua se demonstram seu amor, são expulsos de casa por suas famílias (mesmo suas mães) e são mortos ou presos apenas por serem quem são em mais de 80 países?

Algumas concordaram comigo, mas as mais radicais deletaram tudo, em represália. Outro amigo meu teve experiência similar.

Ocorreu-me, então, que eu talvez não seja, afinal, feminista. Isso porque o que defendo é uma igualdade de condições e, eventualmente, para atingi-la, a necessidade de leis diferenciadas para contrapor desvantagens prévias ou impostas.

Essa posição, muitas vezes, me fará estar ao lado das feministas... Mas, muitas vezes, me fará estar em oposição a elas – e não para "reafirmar o poder do macho", como faz um machista.

No entanto, como não posso sair e deixar meu gênero, minha identidade de gênero, minha cissexualidade e minha orientação sexual em casa, sempre vou me colocar contra qualquer pauta que represente para mim, enquanto homem gay, algo que considero injusto ou a inclusão em um grupo que perde direitos quando o meu grupo sequer os atingiu todos. Ser homem e ser gay significa defender meus interesses como tal, um direito que me assiste.

Por isso, por exemplo, sou contra aposentadoria diferenciada para mulheres e homens. Contra licença-maternidade e paternidade diferenciadas apenas pelo sexo do pai/mãe (proponho a licença-parentalidade flexível, uma estendida e outra reduzida) e contra a Lei Maria da Penha não estar escrita em termos jurídicos neutros.

Por quê? Porque os argumentos que usam para justificar esses desníveis não me concernem e não me incluem enquanto homem gay. Enquanto homem gay, jamais contribuirei para a "dupla jornada" feminina e não vejo razão para que eu seja responsabilizado se parte dos héteros não encontram arranjos mais igualitários em seus casamentos; sou a favor da igualdade de salários e vencimentos, mas discordo que deva ser resolvida na aposentadoria, especialmente colocando para trabalhar 5 anos a mais quem, estatisticamente, vive 5 anos a menos e, não raro, começa mais cedo; enquanto gay que deverá adotar com seu companheiro, considero injusto que não gozemos de uma licença similar e negociada para nossos rebentos; e, enquanto gay e sabendo de caso de violência doméstica em relação homoafetiva (e de violência em que a mulher é agressora), causa-me desconforto que esses casos tenham sido deixados fora da legislação positiva apenas por não serem majoritários.

Pelo que entendo, sobretudo para as feministas que consideram que "ter pênis = ser do mal", tais posições entram em conflito com as suas demandas.

Então, o que sou? As imagens de alguns Deuses me vieram à cabeça. Têmis, a titânide que segura a balança visando ao equilíbrio, mas sem a espada de sua filha Dice ou da romana Iustitia, foi uma: o equilíbrio sem violência, dosando as diferenças até a balança ficar horizontal – aliás, "equilíbrio" é uma palavra que inclui, em sua origem, a palavra latina para "balança": "libra".

No entanto, alguém poderia imaginar que automaticamente eu seria acusado de "roubar" uma imagem feminina, uma vez ser Têmis uma representação em forma de mulher.

Forseti, então, me pareceu mais adequado. Um Deus da mitologia nórdica, Forseti (c) também é identificado com a justiça naqueles povos antigos e da forma que me veio à cabeça.

Filho de Balder, um Deus de paz e muito amado, tanto a ponto de ser assassinado por Loki, e Nanna, Forseti é identificado com Fosite, dos frísios, e seu domínio era resolver querelas entre homens e deuses, promovendo a reconciliação. Ouvia ambos os lados com imparcialidade e seus julgamentos eram tão justos que jamais couberam correções. Mais aqui.

Uma imagem forte... E quem sabe não criamos nós outros uma palavra? Será que soa bem me definir como forsetista? Podia virar até um movimento de homens – e de homens gays...

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Mamãe já sabe...



Encontrei o texto abaixo no meu antigo blog, o Herege

Tem a data exata em que contei para minha mãe que era gay: 9 de janeiro de 2003. Nossa, já faz mais de 10 anos?

Percebam as reações dela. Preciso mencionar que, às vezes, subestimamos nossos pais.

Ao longo do tempo, mesmo evangélica, minha mãe evoluiu, chegando a me consolar quando fiquei solteiro em 2010.

No meu último aniversário, de 22/08/2013, me deu um de meus melhores presentes, ao dizer que não queria que eu fosse em nada diferente do que sou.

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Mamãe já sabe

por João Marinho



A mensagem abaixo foi escrita para a lista GospelGLTTB, mas, mesmo para quem não tem a mesma tradição religiosa (e os textos e referências serão inócuos), vale a pena ler, para saber quais "revoluções" andam acontecendo na minha vida...

"Então disse Sarai a Abrão: Meu agravo seja sobre ti; minha serva pus eu em teu regaço; vendo ela agora que concebeu, sou menosprezada aos seus olhos; o Senhor julgue entre mim e ti. E disse Abrão a Sarai: Eis que tua serva está na tua mão; faze-lhe o que bom é aos teus olhos. E afligiu-a Sarai, e ela fugiu de sua face.

E o anjo do Senhor a achou junto a uma fonte de água no deserto, junto à fonte no caminho de Sur. E disse: Agar, serva de Sarai, donde vens, e para onde vais? E ela disse: Venho fugida da face de Sarai, minha senhora. Então lhe disse o anjo do Senhor: Torna-te para tua senhora, e humilha-te debaixo de suas mãos"
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Gênesis 16:5-9

Não é do meu costume iniciar um texto para esta lista (GospelGLTTB) por uma passagem bíblica. Sabemos que nós temos interpretações diferentes da Palavra e, eventualmente, uma mesma passagem terá significados diversos que serão arduamente debatidos por aqui.

Entretanto, eu não podia deixar de colocar este texto, porque foi o que me veio à cabeça logo depois do que ocorreu hoje. Hoje, por volta das 9h da manhã, contei para minha mãe a verdade sobre minha sexualidade. Com isso, agora apenas o meu pai resta saber, pois, no final do ano que passou, descobri que minhas duas irmãs já tinham conhecimento de tudo.

O que ocorreu a respeito das minhas irmãs foi algo um tanto complexo, e a história, que se iniciou com um e-mail que recebi por esta mesma lista (aquele que o Paulão enviou à sua mãe e redirecionou para nós), é muito grande e não convém relatá-la detalhadamente aqui. Eu gostaria, porém, de pedir que vocês acessassem meu blog nos endereços abaixo e lessem os posts, pois eles contam tudo a respeito (NR: desnecessário fornecer os links aqui, no Herege, pois seus leitores, é claro, já sabem de tudo).

Com relação à minha mãe, eu não tinha em mente contar para ela hoje. Acordei atrasado para o trabalho, me arrumei e acabamos conversando sobre diversos assuntos, e Deus foi envolvido na conversa. Foi, então, que, tencionando lhe fornecer mais algumas pistas sobre mim, falei que havia certas coisas a meu respeito que ela não sabia, e que eu ainda não tinha achado o momento para contar – que seria definido por Deus.

No final de tudo, resumindo, ela me perguntou se eu era gay. Respondi na lata: "sou". Também lhe contei que o Wagner é meu namorado, que todos os meus amigos, companheiros de trabalho, colegas da faculdade e etc. sabiam a meu respeito e que o único local que ainda restava na condição de "não saber" era, oficialmente, minha casa.

A conversa transcorreu de forma mais tranqüila do que eu pensava. Evidentemente, ela disse que não aceitava, mas a reação foi similar à de minha irmã mais velha: ao que parece, não mudará, ao menos por enquanto, a relação carinhosa de mãe e filho.

Minha mãe chegou a arriscar certas frases típicas, do tipo: "era tudo o que eu não queria", "a gente cria um filho na igreja, dá tudo por ele, e resulta nisso", "você sabe o que a Bíblia diz sobre isso", "homem com homem é muito feio" e "deveria buscar a Deus e pedir para te livrar".

Eu lhe respondi. Disse que não havia motivos para se considerar a homossexualidade tão horrível, que não ia entrar em questões religiosas, mas que tinha razões bem concretas para saber que Deus nada tem contra mim, que já o busquei e essa foi a resposta que Ele me deu. Falei da passagem em que a Bíblia fala que os efeminados não entram no reino do céu, dizendo que, há algum tempo, a palavra original era traduzida por masturbadores.

Disse-lhe que orasse, para que Deus a ajudasse. Que se fosse da vontade Dele, por sua vez, que me casasse com uma mulher e tivesse filhos, que assim fosse, pois eu não resistiria: ao contrário, já até tinha procurado por isso, durante anos. Só que, para mim, a resposta de Deus já estava dada – e não envolvia nada daquilo.

Disse mais: que ela poderia me magoar com aquela história de ter me criado na igreja e ter dado tudo por mim, pois parecia que eles tinham falhado em minha criação e que eu era o pior dos seres simplesmente por amar outro homem, quando, na verdade, sempre me constou que eu era um bom filho: ajudava e ajudo em casa, nunca lhes levei problemas, nunca me viram envolvido em bebedeiras, usando drogas ou coisa do tipo.

Isso, disse eu, é que é importante e deveria ser levado em conta nessa hora, pois é a comprovação de que eles não falharam e de que o que aprendi, carrego comigo. Ela se desculpou, disse que não queria dizer que eu era um mau filho, que estava com a cabeça quente.

A conversa, assim, foi sem sobressaltos, e eu me mantive tranqüilo em todo o tempo. Apenas minha mãe disse que eu nunca falasse nada para meu pai (que é do tipo "machão do Nordeste"), pois ele me admira muito e tem orgulho de mim, e, se eu falar, ele é capaz de morrer. Além disso, ele está numa péssima fase estressada.

Eu lhe disse que morrer, ele não morre (pode até me pôr pra fora de casa, mas não morrer...) e que não falarei "amanhã". Mas, em algum dia, ele deverá saber porque não posso seguir enganando as pessoas, e a descoberta pode vir por outros meios, inclusive pela boca de terceiros.

O que posso dizer é que tudo ocorreu como ocorreu porque Deus, creio eu, estava comigo. Ainda nesta semana, orei a Ele depois de um acontecimento chato com um wallpaper do meu computador (NR: vocês leram sobre isso aqui, no Herege) e pedi que Ele assumisse a direção, que mostrasse a hora certa e a forma certa de contar para meus pais, que eu não iria mais me preocupar com o assunto. A hora, ao menos da minha mãe, veio. Deus deve ter me ouvido, assim como ouviu com relação às minhas irmãs.

No momento, estou um tanto confuso, como quando soube que minhas irmãs já sabiam a verdade. Não sei o que sentir. A situação e a angústia de não saber o porvir já me fizeram chorar por mais de uma vez, junto ao meu fofucho, desde o início do processo. Mas a época da depressão e do desespero já passou, ficou alguns anos para trás, quando eu esquecia de contar as bênçãos (como já pus aqui*) e pensava que Deus não me ouvia e me rejeitava por um "pecado tão vil", quando pensei que morrer seria o melhor para todos.

Deus me tem mostrado que não é assim, que nunca foi assim, a despeito do que outros tantos tenham a dizer em contrário. Talvez o choro seja fruto da perda do controle da minha vida e da queda de todo um castelo de mentiras que criei ao longo de minha adolescência. É difícil ver uma construção sua caindo, mesmo que mentirosa.

O texto de Gênesis me veio à cabeça (Deus?) porque a primeira idéia que tive foi não ir para casa hoje. Liguei para ela posteriormente, aqui do trabalho, para ver como estava, se chorava, etc. Não estava chorando e conversamos normalmente. Talvez o início seja mesmo difícil, mas eu não devo tentar fugir: é hora de enfrentar a minha senhora. Ainda bem.

(*NR: i. e., na lista GospelGLTTB)

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Cuba e a medicina da discórdia

Cubanos


por João Marinho

A notícia da semana é a chegada dos médicos estrangeiros ao Brasil, atendendo ao programa Mais Médicos, do governo federal, e a um convênio com Cuba – e as vaias com que foram recepcionados em Fortaleza/CE. Como não podia deixar de ser, resolvi também dar meu pitaco.

De cara, eu digo que o maior problema nessa discussão toda é que todos têm razão em um ponto – e o problema é que, por causa disso, advogam em causa própria, com fortes cores ideológicas, sem admitir os erros de sua posição ou as deficiências do quadro completo.

Para isso, é preciso considerar alguns “falsos argumentos” que tenho visto por aí.

1. O problema do SUS não será resolvido com mais médicos, se faltam condições de trabalho mínimas.


Este é o argumento preferido da oposição ao programa e ao convênio, e há razão. Não é preciso ir longe para perceber a carência de que sofre o Sistema Único de Saúde: nas periferias das grandes cidades, como São Paulo, faltam equipamentos, faltam remédios, falta gaze, falta tudo. Pessoas, inclusive, morrem em filas de hospitais.

No entanto, essa não é toda a verdade. Existem, sim, casos em que há condições de trabalho, postos novinhos, equipamentos de última geração: o que não há são médicos.

Resumo da ópera: o SUS tem muito de ser melhorado e a carência de profissionais de medicina é crônica no Brasil, além da distribuição desigual desses profissionais. Dito isso, é verdade que a contratação de mais médicos, por si só, não resolve o problema da saúde – mas também é verdade que a contratação de mais médicos para regiões onde há carência de profissionais é, sim, parte da solução!

2. Se o problema da infraestrutura do SUS for resolvido, médicos irão aos rincões do País.

O problema desse argumento é que ele é pura especulação. De verdade, não critico os médicos que optam por viver em grandes cidades e/ou localidades mais estruturadas. Eu mesmo não viveria numa tribo da Amazônia – e, provavelmente, não faria jornalismo gonzo ali.

As pessoas são livres para decidirem o que é melhor para si. Em relação aos médicos, não são apenas os salários que contam. Quando se pensa em ir para uma cidade, levamos em conta as condições de vida, as escolas, o transporte. Médicos não são diferentes, e há aqueles que, por motivos personalíssimos, preferem não se arriscar e trilhar carreiras onde os ganhos são maiores, o que também não é moralmente errado.

Há, porém, aqueles que têm a paixão e a motivação pelo desafio. O problema é que, historicamente, eles têm sido menos que o necessário. Assim, não é possível dizer, com certeza cartesiana, de que, com infraestrutura adequada, ainda assim, uma cidadezinha do Amapá atrairia milhares de profissionais.

Então, temos de nos guiar pelo que temos em mãos: essas cidades não têm atraído profissionais suficientes... Assim, se há profissionais que se dispõem a ir a esses lugares, devem ser estimulados a tal, independentemente de onde venham.

Afinal, há uma questão de urgência: todos sabemos que o SUS precisa melhorar, mas não podemos pedir às pessoas doentes: “olha, esperem o SUS melhorar que, depois, haverá médicos aqui”. No “depois”, a pessoa já estará morta. Ela precisa de um profissional para agora, mesmo que as condições não sejam ideais...

3. Os médicos cubanos são “escravos”.

Não há dúvida de que o convênio entre Brasil e Cuba precisa ser mais elucidado, sob pena de desrespeitarmos nossa CLT.

Afinal, como Cuba é comunista, a bolsa de R$ 10 mil não será paga diretamente aos cubanos. O dinheiro vai para a Organização Panamericana de Saúde, que o encaminhará ao governo cubano, que reterá uma parte e dará a outra ao profissional.

O problema: não se sabe qual quantia será efetivamente recebida pelo profissional. As autoridades brasileiras falam entre R$ 2,5 mil e R$ 4 mil. A oposição e os veículos nacionais – “Folha” e “Época” na dianteira , como em artigo de Ruth de Aquino – rebatem, dizendo que, na Venezuela, segundo “fontes independentes”, um médico cubano recebe módicos R$ 550.

Fui atrás e pesquisei sobre isso.

O problema: as tais fontes “independentes” respondem pelo nome de Ramón Guillermo Aveledo, oposicionista direitista do regime de Chávez/Maduro.

Embora isso não o torne automaticamente um mentiroso, seria interessante que fosse informado ao leitor, pois dá margem a analisar a informação ideologicamente, ou, ao menos, pesquisá-la antes de lhe dar a chancela de verdade inquestionável.

Segundo Aveledo, um médico cubano na Venezuela recebe 1.200 bolívares, o que, convertido em real, daria R$ 550 segundo um câmbio mais antigo.

O problema: segundo averiguei, a informação de Aveledo é baseada em dólar – e encontrei um blog sobre medicina cubana que dá valores mais exatos.

O blog é mantido por um médico cubano, Dr. Eloy A. González, e está no ar desde 2005. Traz notícias sobre a situação de médicos cubanos no exterior e, por sinal, é crítico quanto à retenção de valores pelo governo de Havana.

Segundo González, fontes também independentes dão conta de que, na Venezuela, o médico recebe cerca de 230 dólares, outros 125 a 225 dólares são depositados em uma conta em Cuba para serem resgatados ao fim do programa e mais 50 dólares vão para a família do médico na ilha, tudo mensalmente.

Questionei o Dr. González sobre as fontes independentes, e estou aguardando. Enquanto isso não acontece, porém, somando tudo, o valor geral que um médico cubano ganha na Venezuela, segundo ele, chegaria a mais de 2,5 mil bolívares – pouco mais do que o salário mínimo venezuelano.

Resumo da ópera: médicos cubanos ganham pouco frente a estrangeiros naturais de seus próprios países, sobretudo na Venezuela; existe polêmica sobre o valor que Cuba retém para o governo, mas o convênio, por si só, não significa escravidão, estando dentro dos parâmetros mínimos venezuelanos (e brasileiros).

Os módicos “R$ 550” são por causa do câmbio, pois o real vale mais que o bolívar – e causam uma distorção da realidade por sua causa... Que vergonha, Aquino!

Segundo: o Brasil não é a Venezuela. O próprio González admite que, na África do Sul, onde trabalhou, os médicos cubanos recebiam mais.

É preciso que essa questão de salário seja melhor esclarecida pelo governo federal, sem dúvida – mas, se o governo estiver com a razão, ainda que os cubanos recebam menos que os brasileiros, não caracteriza escravidão...

Além de que os valores em dólares, quando na realidade cubana, significam um inquestionável alívio para o profissional e sua família em um contexto de carestia, como o da ilha.

4. Houve racismo em Fortaleza.

Essa é uma das preferidas do pessoal pró-Dilma acrítico. Vejam o vídeo aqui. Há muitos médicos brancos igualmente hostilizados.

Os médicos de Fortaleza foram imbecis, pois cubanos e outros (eram 96 estrangeiros, dos quais 79 cubanos) vieram atendendo a um programa governamental.

Se esse programa é questionado pelos médicos do Brasil, os estrangeiros não têm culpa. Que os brasileiros resolvam essa questão entre si.

Houve, sim, xenofobia dos médicos brasileiros no Ceará. Mas não necessariamente racismo.

Dito tudo isso, o que fica: o governo brasileiro precisa deixar mais claras as condições do programa Mais Médicos e do convênio com Cuba, sim, e é preciso fiscalização para que algo que é parte de uma solução não se torne a solução... Mas a vinda de médicos de fora, em si, é parte dela e não merecem eles ser hostilizados por assuntos internos nossos.

Resta saber se os pró-Dilma acríticos e os conservadores vão querer encarar as coisas com equilíbrio e realismo.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

22 de agosto de 2013



Celebração da vida




por João Marinho



... E aconteceu ontem. Exatamente às 6h30 da manhã, horário em que meu despertador costuma tocar me chamando para um novo dia de trabalho – malhação – estudar inglês (o que não tenho feito) – ver séries (o que tenho pouco feito) – ler livros – arrumar a casa – etc., etc., etc., eu fiz 35 anos de vida.

Tem um significado especial por ser uma comemoração “redonda”. Sabem como é: a gente “marca” as coisas de 5 em 5 ou de 10 em 10, de 20 em 20 e por aí vai...

Então, agora, aos 35 anos completos, estou exatamente na metade da terceira década de vida, lutando contra pelos brancos (até no peito, rsrsr), cabelos rareando e um pouco menos disposto do que quando eu tinha 25... Ou 15. Ah, sim, e cuidando mais da saúde por necessidade e também por esperar me tornar uma “maricona” apresentável daqui a mais alguns anos, hehehe.

Baladas que duram a noite toda? Passar noites em claro “freelando”, estudando e ter o pique para trabalhar e fazer hora extra? Dá mais não. Tem de rearranjar os horários para dar conta, e agora prefiro um cineminha com restaurante e dormir na minha cama quentinha, abraçado com meu namorado, uma boa noite de pelo menos 7 horas de sono – houve um tempo em que 6 me bastavam.

Em compensação, é legal saber que cheguei aqui me sentindo bem comigo mesmo, apesar dos pesares. Acho até que tô mais bonitinho do que quando eu era mais lolito e, se não, ao menos estou mais experiente, embora, verdade seja dita, eu não me sinta cognitivamente tããão diferente assim de quando eu tinha 18 anos. Ainda bem que tem quem discorde de mim nesse tópico...

Quando eu era evangélico e estava no segundo grau, fui levado a me perguntar por que comemoramos aniversários. Isso porque, na época, uma então conhecida minha se converteu às Testemunhas de Jeová e, embalada por sua doutrina, não viu mais necessidade de festejar a data.

Hoje, eu penso que eu seria uma testemunha de Jeová muito chinfrim. Isso porque convenci a mim mesmo que, diante de um mundo tão difícil – para todas as espécies, inclusive, já que a natureza é tão bela quanto incrivelmente cruel –, precisamos de algo que nos deixe felizes de vez em quando.

Pessoas morrem todos os dias, e todos sabemos que, cedo ou tarde, nossa hora chegará. Costuma ser uma certeza bastante angustiante para quem não vê nela uma forma de libertação, via suicídio – mas que mantém seu aspecto de angústia, uma vez que a pessoa que decide por tirar a própria vida não o faz sem senti-la.

Nós vivemos o luto por aqueles que se foram, lutamos para ficar por aqui mais tempo e tememos pelo derradeiro momento. Mesmo quem tem uma religião, porque, por mais que cada uma delas tenha sua versão sobre o pós-morte, a verdade é que ninguém tem uma certeza objetiva do que vem depois. SE vem depois. Algumas religiões mesmo ampliam o sofrimento, por condenar à danação eterna pessoas que, aqui, nos são caras.

Assim, comemorar o aniversário é uma forma de dizer, para o aniversariante, um “que bom”. “Que bom que você ainda está aqui, que pudemos passar esse tempo juntos – e eu espero que possamos passar mais um tempo assim”. É o oposto do luto. A resposta da vida perante a certeza da morte.

Não conheço pessoalmente ou intimamente todos que me escreveram aqui, mas quer seja o desejo e celebração dessa convivência físicos ou virtuais, é válido. Afinal, também nos aproximamos das pessoas pelas ideias, pelos escritos, pelas fotos e compartilhamos sentimentos e emoções afins.

Por isso, quero deixar aqui meu muito obrigado a todos que me escreveram, que me ligaram ontem ou me deram os parabéns pessoalmente. Tem de ser coletivo, porque foi um bocado de gente, hehehe, mas eu vi todas as mensagens e estejam certos de que as guardei no meu coração. Agradecimentos especialmente a meu namorado, meus amigos chegadinhos, minha família. Eu ainda estou aqui – e espero que o universo me ajude a ficar um bom tempo, pois não estou com pressa de partir.

Juntos, somos mais fortes


... E, então, eu ajudei uma trans

por João Marinho

 Aconteceu há alguns dias. Dezoito, para ser mais exato.

Eu estava postando um de meus artigos na comunidade LGBT Brasil, no Facebook, quando li um pedido de socorro. J., uma mulher bi do litoral paulista, procurou a comunidade para ajudar C., uma trans que sofria agressão severa por parte de sua "família" no interior de São Paulo. O motivo? Unicamente, ser trans. Coloco, inclusive, família entre aspas porque não acredito que a expressão se coadune com quem tem o mesmo sangue e faz esse tipo de coisa.

A situação era tão séria que C., segundo J., corria até mesmo risco de morte. Muitos se mobilizaram na comunidade, a maior parte com informações indicando o que C. podia fazer do ponto de vista legal, a começar com o registro de Boletim de Ocorrência.

No entanto, sabemos que as coisas não são tão simples assim. Evidentemente, buscar o poder público é importante e necessário, mas, quando a vítima se encontra em situação de vulnerabilidade, dependente e morando na mesma casa que o agressor, a situação se complica. Entendo eu, particularmente, que, antes de tudo, é preciso tirá-la daquela situação para que possa, então, exercer seus direitos e buscar a Justiça, se o desejar.

Foi o que fiz. Entrei em contato particular com J., que me passou todas as informações, e ajudei com uma determinada quantia em dinheiro, via transferência bancária, para pagar as passagens de C. do interior paulista para o litoral. Na ocasião, C. estava passando os dias na biblioteca e voltava para casa apenas à noite, a fim de evitar situações em que pudesse ser agredida.

Deu tudo certo. Hoje, recebi uma foto de J. mostrando ela, C. e um amigo bem, no litoral. Ela conseguiu acessar a transferência, pagar as duas passagens de que precisava – uma para Sorocaba e, de lá, outra para o litoral – e sair de sua cidade. Agora, Jully a está ajudando em sua nova casa, que já tinha conseguido para ela, e também deverá dar apoio na (re-)inserção profissional.

Não sei dizer se outras pessoas ajudaram, além de J. e de mim. Penso que sim e quero acreditar que sim (quem sabe mesmo a pessoa que forneceu o local onde C. agora mora?) – mas, de minha parte, fico feliz por ter contribuído e, quem sabe, mesmo ter ajudado a salvar a vida de uma trans.


Claro que foi uma coisa de alto risco. Deu certo porque J. é uma pessoa de bem, idônea... Mas uma situação muito similar poderia ser um golpe. No entanto, valeu a pena – uma demonstração de que juntos, nós, LGBTs, somos mais fortes.

Publico a história porque agora finalmente se inaugura um novo capítulo na vida de C. e também para estimular todos nós a que pensemos que somos uma tribo e devemos nos ajudar contra a homofobia. 


Mais importante: para deixar uma sugestão. Não seria demais se houvesse como instituir um fundo de caridade para ajudar lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais em situação de vulnerabilidade físico-psicológica, vítimas de violência? Poderia ser uma tremenda ferramenta para o movimento LGBT fazer – ainda mais – a diferença.

PS: preservo os nomes e as localidades por questões óbvias de segurança.

sábado, 3 de agosto de 2013

Felix, um personagem da ficção das 21h00

A militância sempre exagera com as questões LGBTs e a exposição nas teledramaturgias. Eu fico a pensar
que muitos gays acham que a vida deles, em família, tomará uma guinada de 180 graus uma vez que seus pais virem um beijo gay em uma novela da Globo, ou como aquele moço (bom moço) sofreu com a morte de seu namorado, tentando levar uma vida totalmente digna, dentro da “normalidade”, da moral cristã e seus costumes “nobres”, ainda que seja gay. Seria isso um lobby gay ou um lobby heteronormativo? Deixo essa para  outra oportunidade.

É, sem embargo, a coisa mais estúpida e contraproducente que eu já vivenciei por aqui e, pelo jeito, não está longe de ter um fim... Essa ingenuidade  intelectual só se explica pela sofreguidão da vontade em fazer as coisas acontecer, mas que na verdade enterra uma gama de assuntos mais imperiosos e pontuais que deveríamos lutar e defender.  Por exemplo, é muito mais fácil, e muito mais eficaz, que sua família veja você protagonizando um beijo gay do que o casal homossexual da novela;  é muito mais profícuo que você saia do armário em sua casa, que o Felix, na novela, seja exposto em sua homossexualidade a Suzana Vieira e ao Antonio Fagundes...  

O que eu quero dizer com isso? Será que eu desejo destruir as estruturas familiares? Será que eu desejo que os gays sejam deserdados e postos para fora de suas casas, tocados como cachorros sarnentos, jogados ao vento? Absolutamente, não! Mas, se há a vontade sequiosa de que se tenha mudanças, não espere que elas venham por conta dessa ou daquela novela da Globo. Para sua família ser gay é algo extremamente aceitável, desde que gay seja o filho do vizinho, nunca o meu filho... “o meu melhor amigo tem um filho gay, o rapaz é até gente boa, desejo o melhor para ele, ainda bem que você tem uma noiva linda Godofredo!”. Assim, o deputado federal Jean  Wyllys comenta em seu artigo para o sitio IG: “...A família sempre é a primeira saber e a última a acreditar...”. Diria eu, a última a aceitar e, talvez, não aceite nunca!

Os gays apostam todas as suas fichas nas mudanças que a teledramaturgia pode promover, o ledo engano que a exposição muda o Ethos... Não muda, traz o fato como algo próximo, expõe, mas não transforma, pois essa transformação só acontecerá quando dentro do nicho familiar o ethos cultural for possível para minha família, for verificado nela, dentro dela, arraigado, amalgamado, intrínseco em sua condição final.

Não estou dizendo com isso que a teledramaturgia seja descartável, ou que ela não deveria abordar tais assuntos, não é isso, mas apenas digo que as fichas da mudança do preconceito não acontecem por conta de uma novela, ou da exposição que essa possa promover, mas as fichas da mudança devem ser alçadas no comportamento do homossexual e a sua submissão cega à vontade de seus familiares, no desejo desses de ter uma família normal, e nisso o homossexual é descartado sumariamente.

Quer mudanças? Mude você! Não espere que a novela faça isso por sua felicidade, por sua condição existencial, pois ela não fará e nem poder para isso ela tem. Quer respeito? Tenha orgulho de si mesmo e se enxergue como algo digno, como uma pessoa que tem identidade própria, direitos e deveres, afinal, o Felix continuará sendo um personagem da ficção das 21h00 e você continuará sentindo as consequências disso.



terça-feira, 30 de julho de 2013

Estratégia católica?

Francisco e os gays

por João Marinho

De verdade, penso que nós, LGBTs, devemos ter cuidado com Jorge Mario Bergoglio, atualmente conhecido como papa Francisco. Tenho visto muitos empolgados com suas declarações recentes, de que gays não devem ser marginalizados, e até dizendo que ele “defendeu nossos direitos”.

Na verdade, não defendeu, não.

Na continuação da entrevista, ao falar sobre o “lobby gay” no Vaticano, ele declarou que o problema não era a orientação sexual, mas o “lobby” envolvendo a orientação – e que o problema estava em qualquer “lobby”.

É uma declaração dúbia, que tanto pode ser entendida como uma crítica direta aos bastidores nem sempre limpos da política e do alto escalão vaticano – quanto, mais perigosamente, pode ser entendida como uma “condenação generalista”, de que qualquer “lobby gay” é algo a ser visto com desconfiança.

O problema é que, no Ocidente, a maioria dos países vive em regimes democráticos. A união de grupos em torno de interesses comuns faz parte da democracia e é saudável, como já observava Alexis de Tocqueville em sua obra A Democracia na América, análise do regime norte-americano.

Só que, para os adversários de uma demanda, qualquer união nesse sentido pode ser entendida e referida, negativamente, como “lobby”. Do ponto de vista geral, lobby é a pressão que grupos organizados fazem em cima do poder público para aprovar suas propostas, mas, do ponto de vista restrito e negativo, é a mesma pressão visando a atender a interesses privados, em vez de uma genuína preocupação com a coisa pública.

Seria “lobby” a tentativa LGBT de instituir o casamento homoafetivo, o reconhecimento da identidade de gênero dos/as transexuais e o acesso à cirurgia, a proteção contra a homofobia? Para os adversários, sim, e de forma negativa – afinal, não argumentam eles que são demandas que “atendem somente a uma minoria” e não representam “avanço” para a coisa pública? Ora, se lobby é ruim, como disse Francisco, como é que fica, então, a pressão política LGBT para aprovação de suas demandas?

Pensando assim, a frase de Francisco sobre integrar os gays à sociedade ganha outros ares. Uma vez que ele não vai – e nem pode ir – contra o catecismo oficial da igreja católica, essa integração pode ser entendida, também, do ponto de vista heteronormativo. Vale informar que o catecismo faz diferenciação entre orientação sexual e ato sexual. Uma vez que uma pessoa é homossexual, é sua “cruz” praticar a castidade, segundo o catecismo, pois os atos homossexuais são intrinsecamente desordenados.

A que integração Francisco se referiu, então? Ok, não se pode julgar os gays que buscam a Deus e estes devem ser integrados à sociedade – desde que mantenham a prevalência da heterossexualidade como único caminho digno e desistam de fazer “lobbies” em torno de seus direitos mais fundamentais, contra os quais a igreja católica formalmente se opôs em todos os países em que foram levados à discussão? Garanto que muitos não viram as declarações por esse ângulo – mas vejam o perigo...

É claro que é difícil dizer a real intenção de Francisco sem cair em injustiça ou especulações vazias. No entanto, dado o histórico da igreja católica e a atitude dos últimos dois papas que pude conhecer em vida (Jesus, como tô velha!), os patentemente homofóbicos João Paulo 2º (que vai ser canonizado pelo mesmo Francisco!) e Bento 16, que vociferavam – ainda que disfarçadamente, com voz doce – contra nós outros e nossos direitos até em pronunciamentos de Natal, eu diria que “pôr as barbas de molho” é a coisa mais certa a fazer. Prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém, não é assim?

Também não podemos deixar de ter em mente que, enquanto cardeal, Bergoglio se opôs veementemente à aprovação do casamento gay sob o governo de Cristina Kirchner, na Argentina – e não apenas como religioso, mas incutindo-se na esfera pública para influenciar a política de um Estado laico, o que é sempre perigoso... Um... Lobby? Curioso, né? E não, Bergoglio e Francisco não são duas pessoas diferentes só porque trocou o homem de nome. A encíclica escrita a quatro mãos com Bento 16 reforçou seu histórico de oposição a tais direitos de homossexuais, inclusive – e, mesmo não sendo eu católico, sei perfeitamente que uma encíclica tem mais importância que uma declaração a jornalistas.

Há, porém, ao menos um fato que merece ser analisado positivamente nas declarações de Francisco. O tom com que falou dos homossexuais representou, de fato, uma mudança na abordagem feita por seus antecessores. Enquanto cardeal, diz-se, se opôs ao casamento gay, mas admitiu a união civil. Eu diria que a dubiedade a que me aludi mais atrás, inclusive, não foi fora de propósito.

Francisco está francamente atrás de conter o escape de fiéis, e assim, você pode não ter notado, mas, sob o “manto do amor”, tem reforçado os dogmas católicos. Reza com pastores na assembleia de deus, mas a posição de que a igreja católica é a única onde encontrar a salvação está “positiva e operante” como nunca. O papa, no fim, é pop e bastante inteligente – um excelente garoto-propaganda, que se mostra humilde e conquista simpatia, ao mesmo tempo em que solidifica a ideia de correção e hegemonia de tudo que é dito por sua igreja. Para o bem e para o mal. Isso pode ser percebido na questão dos gays, se minha chave interpretativa estiver correta.

Embora suas declarações possam ser um “morde e assopra”, têm a vantagem, que também não me é casual (ele é inteligente, lembre-se!), de marcar uma diferença entre a forma católica e a forma não católica (em outras palavras, evangélica) de tratar a questão. As reações de Silas Malafaia e Marco Feliciano, respectivamente, à popularidade e ao discurso de humildade do papa e à declaração sobre gays mostram que eles também sentiram isso – e se incomodaram, mesmo negando.

Se o papa estiver mesmo engajado numa “guerra fria” contra as religiões evangélicas – mordendo-as e assoprando-as também –, religiões essas que, via políticos fundamentalistas, têm se tornado uma verdadeira pedra no sapato do Brasil laico, tanto melhor. O inimigo do meu inimigo é meu “amigo”. Entretanto, enquanto LGBTs, precisamos ser maquiavélicos (no sentido de Maquiavel), saber aproveitar esse momento, mas estar cientes de que essa “amizade” vai até à página dois, antes de ir beijar os pés de Sua Santidade. Todo cuidado é pouco: e essencial para que não compremos um cordeiro e terminemos com um lobo nos devorando em casa.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Porque investem as prefeituras em eventos gays?


Pink money com autoestima

Sim, gays têm dinheiro, mas pode não ser tanto assim –
e, principalmente, não deve ser para todo mundo!

por João Marinho

Dois milhões e duzentos mil reais. Informados por seu diretor executivo, Nelson Matias, em uma reportagem publicada no portal iG e assinada por Pedro Carvalho, os custos da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, cuja 17ª edição foi realizada em 2 de junho de 2013, impressionam – e se tornaram fonte de crítica por parte de setores conservadores e religiosos tradicionalmente avessos a eventos com foco no público de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.
Isso porque, do total de R$ 2,2 milhões, a Prefeitura de São Paulo bancou, ainda segundo a reportagem, R$ 1,6 milhão. Foi o que bastou para que religiosos e conservadores reclamassem, em sites da imprensa, evangélicos e afins, da “conta absurda” a ser paga por dinheiro público, que deveria ser usado para o bem de todos – e não de uma “minoria”.

Lucro alto
A Parada de São Paulo, como outras pelo Brasil e pelo mundo, surgiu espontânea, fruto da mobilização de ativistas LGBTs. Apenas posteriormente, passou a fazer parte de calendários oficiais do poder público. A verdade nua e crua, porém, é que não existe almoço grátis – e isso se aplica ao apoio dos governos.
Dito isso, é necessário considerar que os custos da Parada de São Paulo, tradicionalmente a maior do País, representam apenas a ponta do iceberg – e o que está debaixo dela se reverte, sim, em benefícios extremos para a população e para o poder público.
Sem levar em conta que os gastos da Prefeitura são com infraestrutura, o que já os justificaria, a mesma reportagem do iG informa que, segundo dados da São Paulo Turismo (SPTuris), 39,5% do público da Parada é de turistas, que gastam, em média, R$ 1.272 no fim de semana do evento.
Bem, 39,5% de 600 mil pessoas (estimativa do público segundo a Polícia Militar no ano de 2013) ou 39,5% de 220 mil pessoas (estimativa do Datafolha) resultam, respectivamente, em 237 mil pessoas e 86,9 mil pessoas. Cada uma gastando, em média, R$ 1.272, isso significa que os turistas deixaram aproximadamente, na cidade de São Paulo, quase R$ 301,5 milhões, ou, se apelarmos para os números de público do Datafolha, mais de R$ 110,5 milhões.
Com esse retorno – dinheiro que os turistas gastam em hotéis, alimentação, transporte, lojas, etc. –, quem, em sã consciência, não gastaria R$ 1,6 milhão no evento? Em termos comparativos, isso significa que, para cada R$ 1 gasto pela Prefeitura de São Paulo no evento, são retornados cerca de outros R$ 187 que ficam na cidade, ou mais de R$ 68, seguindo as estatísticas do Datafolha.
Se a Parada fosse uma poupança e o dinheiro público fosse ali aplicado, ela renderia, em um fim de semana, 18.741,50% de juros, considerando o público estimado pela PM, ou 6.808,55%, considerando o público estimado pelo Datafolha. Isso falando apenas dos turistas, sem levar em conta o dinheiro que os próprios habitantes da cidade e municípios próximos gastam, em transporte, comida, compras.
Posso estar errado, mas acredito que nenhum banco, no Brasil ou em outros países, forneça taxas de juros tão formidáveis em sua carteira de investimentos. Portanto, em vez de reclamar porque o poder público gastou R$ 1,6 milhão, por que não agradecer pelo verdadeiro investimento que ele fez?
Parte dos outros R$ 600 mil não bancados pela Prefeitura veio de empresas públicas, como Caixa e Petrobras. Não foi possível definir, para este artigo, quanto do dinheiro deixado em São Paulo é recolhido em impostos federais, mas a julgar por números tão expressivos e impostos tão universais quanto os brasileiros, não soa imprudente dizer que o governo federal recebe, também, um gordo quinhão.

Marginalidade e baixa autoestima
Os números impressionantes se repetem em outra cidade com uma tradição de eventos LGBTs: Juiz de Fora, em Minas Gerais, que realiza sua 36ª edição do Miss Brasil Gay em agosto/2013 e seu igualmente tradicional Rainbow Fest, no mesmo mês. As últimas estatísticas sobre o Rainbow, datadas de 2006, mostram que, naquele ano, 10 mil turistas injetaram nada mais, nada menos que R$ 4 milhões na cidade. Estratosféricas, novamente.
Os dados de São Paulo e Juiz de Fora parecem fazer jus à fama do pink money. A expressão é oriunda do final da década de 1970, nos Estados Unidos. Na época, grupos de direitos de homossexuais não dispunham de patrocinadores para suas ações e tiveram uma ideia brilhante: em um dia de protesto nacional, toda nota de dólar que passasse na mão de um gay deveria ser riscada com uma caneta rosa, no canto. Isso mostraria o potencial que os patrocinadores estavam perdendo.
De lá para cá, cresceu o interesse no “dinheiro cor-de-rosa”, que movimentaria mercados bilionários envolvendo a população LGBT: respectivamente, cerca de US$ 100 bilhões anuais no Brasil e US$ 800 bilhões nos Estados Unidos, segundo reportagem publicada há dois anos na revista IstoÉ Dinheiro. O texto ainda se refere a uma estatística do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo a qual essa população gasta, em média, 30% mais que seus pares heterossexuais em consumo e lazer.
No entanto, toda essa “orgia financeira” tem três lados que são bem negativos.
O primeiro e mais premente é que, no Brasil, não se vê as empresas – sobretudo as grandes marcas – envolvidas fortemente na conquista desse público. Com uma visão embotada de negócios e com receios extremados de “desagradar” a população conservadora, LGBTs permanecem, para essas marcas, relegados a uma posição marginal e oculta.
Se, nos Estados Unidos, companhias como Apple e Google se envolvem em campanhas pró-diversidade sexual, no Brasil, são comuns comerciais polêmicos, como o da marca de cuecas Lupo – que, se não pode ser considerado homofóbico per se, ao menos é de gosto duvidoso e flertou com uma ideologia, no mínimo, questionável. Na Parada de São Paulo, para manter o exemplo, a única empresa privada a adquirir uma cota de patrocínio foi a marca de camisinhas Olla.
Os empresários com negócios voltados diretamente aos LGBTs não fazem mais bonito. Tirando honrosas exceções, investem pouco pelo dinheiro que recebem e falham no treinamento de funcionários, sobretudo seguranças. Casos de espancamentos homofóbicos em boates GLS – absurdo! – têm tomado os jornais ultimamente. Finalmente, o poder público tampouco faz jus ao que recebe. Como se explica o desbotado combate à homofobia em cidades que recebem tantos milhões de reais do bolso do público LGBT?
O segundo lado diz respeito ao fato de que a tese do pink money esconde uma questão social importante: não; o público LGBT não é necessariamente endinheirado, branco, de classe média e disposto a gastar centenas ou milhares de reais por noite. Em termos estatísticos, se, no Brasil, a maioria da população é de classe média-baixa (a atual classe C) a classes menos abastadas, isso se reflete entre os LGBTs. Especialmente no caso do/as transexuais e travestis, tão maltratados/as que, não raro, são vítimas da evasão escolar, com oportunidades profissionais mais restritas.
Essas pessoas têm de ser tratadas com respeito – não por causa do dinheiro que podem gastar, mas por seu lugar como cidadãos e cidadãs. O pink money pode nublar a existência de demandas sociais, reais, objetivas e prementes para a população LGBT. Ora, se está endinheirada, o que falta a essa população? Na verdade, falta tudo, a começar pelo combate à homofobia/transfobia, passando por políticas públicas de prevenção à violência e promoção da saúde e de promoção da autoestima. Gay morto não gasta. Gay agredido não consome: deixa o salário no hospital – e tanto pior quando se está frente à realidade de que não há tanto dinheiro assim no bolso.
Finalmente, um terceiro lado ecoa uma questão que acabamos de mencionar: a autoestima ela-mesma. Cercados por uma cultura homofóbica e sofrendo de preconceito internalizado, LGBTs estão ainda longe de serem “craques” nessa faceta tão importante para o ser humano. É comum que “encontrem” desculpas para a homofobia de terceiros, especialmente quando compram e consomem.
Se, nos Estados Unidos, boicotes promovidos pela GLAAD (antes, Gay & Lesbian Alliance Against Defamation) são efetivos e temidos pelas marcas, no Brasil, consumidores LGBTs se esmeram em “justificar” comportamentos discriminatórios de empresas e comerciais, mesmo quando patentes. Pior: às vezes, sequer se preocupam em investir em lugares que os respeitam.
Quem nunca teve um amigo ou amiga que se recusa a ir a um lugar porque “é gay demais” ou “tem muito ‘viado’”? Ou que, ao presenciar um flagrante desrespeito em um ambiente comercial, como em um restaurante que tenta impedir uma simples troca de beijos homoafetiva (“selinho”), concorda com o estabelecimento, em vez de se colocar ao lado do consumidor injustiçado que, no limite, é gay como ele?
É preciso, portanto, ter em mente que o pink money tem, sim, sua relevância, mas que ele, por si só, é insuficiente para conquistar cidadania. Esta se conquista por meio de luta política, de mobilização social – e, sobretudo, por meio de um intenso e interno trabalho de autoestima. Inclusive na hora de se recusar a deixar parte do salário, normalmente ganho a duras penas e em ambientes nem sempre liberais e libertários, nas mãos de quem não merece.

Pense nisso. 
 

 
Texto originalmente publicado no Rainbow Guia do 16º Juiz de Fora Rainbow Fest.
 

Referências: