Hoje, domingo, 27 de fevereiro de 2011, sem nada para fazer e, em casa, com a chuva caindo sobre a cidade de Belo Horizonte, comecei a percorrer os canais da TV, em clima de nostalgia, de quem não quer ficar em casa, mas, nas devidas circunstâncias, está impedido de sair! Foi quando me deparei com o Pr. Márcio Valadão, na Rede Super, no culto da noite. Igreja lotada, aproximadamente 7.500 pessoas no templo, e uma mensagem que me despertou à atenção. Não, caro leitor, não pelo fato dela ser atraente, mas pelo fato da estranheza, de que embora, pretensamente evangélica, de EVANGELHO ela nada continha.
Márcio falava da fé, e nesse exato momento foi que sintonizei o canal: “fé é a certeza de coisas que se esperam, e a convicção de fatos que se não veem.”. Citava o pastor o texto de Hebreus 11,1. O curioso foi o fato de ele ter ligado este versículo com o texto que diz do aleijado que estava há 35 anos sem poder andar e Jesus o curou. Desta feita o cura d’almas afirmava que aquele coxo teve que se imaginar andando, ver-se sarado, pois se ele não sonhasse com isso, se ele não gerasse no espírito (ou no mundo espiritual) tal coisa, ele não seria agraciado com o milagre. Fiquei embasbacado!
Tudo bem, caro leitor, que sou eu de Confissão Evangélica Luterana do Brasil, mas mesmo se não fosse; meu embasbacar se deu pelo absurdo conceitual que o pastor submeteu seu rebanho. Há muito que as igrejas batistas andam com um conceito de mescla entre pregação bíblica e técnicas de autoajuda sem precedentes na história cristã.
A fé, do livro de Hebreus, é uma definição da própria bíblia sobre o conceito cristão de fé, na hermenêutica se denomina de interpretação autêntica e, em Hebreus, tem todo um sentido para lá ser contida da forma como se está.
Os cristãos, nesta carta, estavam sofrendo perseguições, e lembravam-se de um passado saudosista, um apelo para retornar àquilo que haviam deixado para trás, portanto, o autor procura acentuar que a fé é um movimento futuro , contra a apostasia eminente no seio da Igreja. Ele desafia aos exilados a não se desanimarem, pois a vida cristã é uma perspectiva de peregrinação para a pátria celestial, tendo Cristo como a perfeita revelação, superior a Moisés, que nutre a fé-esperança, que outrora guiou os antepassados patriarcas judeus.
A fé relatada em Hebreus fala da salvação em Cristo, perfeita revelação superior a qualquer patriarca hebreu, mas que esses mesmos patriarcas se mantiveram firmes diante das adversidades e não se desanimaram ou abandonaram as promessas do próprio Deus. Ainda, essa fé é substancial e recai sobre a divindade real de Jesus, a humanidade real dele, um sacerdócio real e um ministério real num santuário real.
Assim a certeza das coisas que se esperam e a convicção de fatos que não se veem, não está sistematicamente relacionada com uma mística ‘espiritualoide’, com uma vara de condão, donde o cristão é convidado a ficar gerando no mundo espiritual seus desejos e vontades egoístas e mimadas, para que no final, deus, um sádico tirano, venha conceder algumas migalhas para que esse mesmo cristão continue implorando seu favor e o fazendo compadecer nisso, como se fosse um bobo da corte no mundo celestial.
Escutava o Márcio dizer que o aleijado ficava se imaginado caminhar, e sonhando com isso, no entanto, a bíblia diz que ele somente acreditou em Jesus e obedeceu aquilo que Cristo havia lhe ordenado. O texto não diz de sonho, de vontade de gestação no mundo espiritual, apenas diz da vontade de Deus curar alguém para o anúncio do Evangelho do Reino.
Meu Deus, e fico a pensar que são estes os evangélicos que nos acusam de pecadores, por sermos homossexuais. Jesus, eles não sabem, sequer, interpretar uma mensagem bíblica, transformaram o cristianismo numa religião diferente dos ensinamentos de Cristo, e ainda querem dizer ao mundo o que é certo e errado, baseado nos equívocos hermenêuticos que comentem em todos os cultos e sessões que se reúnem.
Bem, eles se denominam de evangélicos e cristãos, para mim, não passam de anátemas, que transformaram os ensinos do Cristo em obra caricaturada e circense!