sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O Deus da Inclusão se fez Gente e entre nós habitou!

Mensagem de Natal para os leitores e leitoras do Blog Gospel LGBT

Rev. Márcio Retamero*

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“Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes, eis que vieram magos do Oriente a Jerusalém.” Mt 2.1

“Havia, naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite. E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles...” Lc 2.8-9

Nos dois versículos acima destacados, encontramos as marcas da inclusão em dois dos Evangelhos Sinóticos: Mateus e Lucas. Ambos constroem teologicamente seus relatos do nascimento de Jesus de maneiras distintas, contudo, ambos imprimem a marca da inclusão em ambos os relatos: Mateus na figura dos magos do Oriente e Lucas na figura dos pastores de ovelhas.

Sim, segundo os evangelistas Mateus e Lucas, os primeiros olhos, depois dos pais do Menino, a serem postos sobre Ele, foram olhos de seres humanos excluídos pela religião!

Sabemos hoje em dia, através dos estudos bíblicos que priorizam a abordagem histórico-crítico das Escrituras, que ambos evangelistas incluem dados mitológicos na narrativa do nascimento de Jesus. Contudo, tais dados visam nos ensinar algo profundo, conforme veremos.

A presença dos magos na narrativa de Mateus nos aponta que pessoas de uma religião diferente, que chamavam Deus por outro nome, nascidas em outra geografia, bem longe de ser “sagrada”, e produtos de um meio cultural totalmente diferente do palestino, tiveram a felicidade de contemplarem o Verbo Encarnado, presenteando-O com ouro, incenso e mirra, presentes ofertados aos príncipes.

Diferente dos religiosos judeus, que tudo entendiam de “bíblia” e “teologia”, os magos do Oriente liam nas estrelas, faziam uso da astrologia, para conhecer os sinais sagrados. Tais magos que não adoravam o Deus de Israel, jamais poderiam pisar no Templo de Jerusalém, para adorarem o mesmo Deus, senão num pátio destinado aos estrangeiros, bem longe do Santo dos santos. Neste pátio uma inscrição avisava: se ultrapassarem este espaço, serão mortos. Portanto, os magos do Oriente eram excluídos pela religião do “único Deus”.

Os pastores da narrativa de Lucas não são diferentes em matéria de exclusão dos magos da narrativa de Mateus. Pastores era a escória de sua sociedade, eram considerados pessoas não confiáveis, sem caráter, ladrões em potencial; pessoas não afeitas à religião, cuja palavra não valia no tribunal do Sinédrio, o tribunal oficial dos judeus.

Na construção teológica dos evangelistas, os magos e os pastores representam, desde o início da Encarnação do Verbo, as pessoas para as quais este mesmo Verbo se encarnou. É óbvio que Jesus veio para todos e todas, contudo, seus discursos e ações, como dizem os teólogos da libertação, demonstram sua “opção preferencial” pelos marginalizados e excluídos, os rejeitados, os párias, os sem voz e vez.

Os teólogos e religiosos tentaram enganar os pastores, ajudando Herodes no plano diabólico de matar o “rei dos judeus”, o Messias. Os religiosos e os teólogos não estavam segundo Lucas, na cena da Natividade do Senhor; estavam em outros lugares, fazendo o que sempre fizeram: afirmando coisas e corroborando outras que Deus jamais afirmaria, nem corroboraria!

No Natal, religiosos e teólogos não tiveram lugar ao lado da manjedoura, somente os excluídos pela religião e pela lei judaica tiveram lugar junto a José e Maria com o Menino.

Os emissários de Deus, os anjos, anunciam aos excluídos a Boa Notícia: paz na terra aos homens de boa vontade, pois vos nasceu, na cidade de Davi, o Cristo, o Senhor, o Salvador! São os excluídos o alvo e, ao mesmo tempo, os portadores da Boa Notícia do nascimento daquele que “derruba dos tronos os poderosos, despede de mãos vazias os ricos e rejeita os que, no coração, maquinam maldades e trazem a soberba”.

Tal como ontem, hoje, o Natal continua sendo motivo de alegria e júbilo para os párias, os excluídos e marginalizados pela lei e pela religião. O Natal é o anúncio de um novo amanhecer, de um novo tempo, de um novo sentido para a vida dos que vivem à margem, longe so status quo e da norma.

O Natal é nosso, povo LGBT, pois somos nós os excluídos, os marginalizados, os párias, os sem voz e sem vez, bem como todos os outros sem voz e sem vez da nossa sociedade!

Rejeitados pela religião, condenados pelos teólogos e pastores, pelas doutrinas eclesiásticas; relegados à margem da lei, “meio cidadãos”, portanto, não cidadãos, excluídos dos templos, obrigados a vivermos à margem, no portão, nós somos hoje, os pastores e os magos de antanho!

Precisamos nos apropriar e nos empoderar desta história de salvação narrada pelos evangelistas Mateus e Lucas. Jesus veio para eu e você e para todos e todas que, de alguma maneira, são postos pelos bem postos como a escória da nossa sociedade!

Jesus veio para nós, falou para nós, ensinou a nós, morreu e ressuscitou por nós! Jesus veio nos ensinar um caminho novo, nos dar um novo rumo e uma vida em abundância jamais vivida por nós. Não precisamos – jamais! – da autorização, da aceitação dos religiosos, teólogos e pastores da religião! Deixemos para eles o papel que na época do nascimento do Salvador coube aos seus antecessores, pois este papel cumprem com maestria: usar da religião para servir ao poder e ao dinheiro.

Jesus rejeitou, enquanto aqui caminhou os religiosos; andou, comeu e viveu com os rejeitados. Optou claramente. O convite dele continua de pé: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.” Ap 3.20

Seja o teu coração gay a manjedoura do Menino Jesus neste Natal! Ele veio por você e por mim e para todos e todas que são excluídos pela religião que mata e faz matar. O deus da religião está morto! Viva o Deus da Inclusão, que se encarnou em Jesus Cristo, marginal que viveu entre marginais, o Sol da Justiça que trouxe salvação e libertação ao povo excluído e rejeitado em suas asas!

Feliz Natal e um ano novo repleto de alegrias, saúde, paz e amor!

Deus nos abençoe abundantemente!

* Rev. Márcio Retamero, 36 anos, é teólogo e historiador, mestre em História Moderna pela UFF/Niterói. É pastor da Comunidade Betel/ICM RJ e da Igreja Presbiteriana da Praia de Botafogo. É autor de "O Banquete dos Excluídos" e "Pode a Bíblia Incluir?", ambos publicados pela Editora Metanoia. E-mail: marcio.retamero@gmail.com.

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