sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Enfim, A PAZ!

GLÓRIA A DEUS NO MAIS ALTO DOS CÉUS, E PAZ NA TERRA AOS HOMENS POR ELE AMADOS (Lc 2,14).

Paz é a expressão que se escutará nos próximos dias, em todo o ocidente, por conta de um desejo, de um sentimento coletivo; um ciclo se finda, e com ele nasce um novo ciclo. A esperança de que, nesse novo ciclo, a vida se encontre plena de felicidade faz parte do ideal do ego- o princípio do prazer.


Entretanto, o desejo de paz não é idêntico ao sentimento de paz. Há, aqui, um abismo entre aquilo que se deseja; aquilo que se sente e aquilo que se ordena no cotidiano. E isso acontece, exatamente, por um princípio natural: a agressividade é inerente ao ser humano. Há quem discuta sobre o papel da mesma na constituição biológica- psíquica do ser como fato material, ou como instinto formal do pertencer ao estar vivo. Ainda, é consenso que o ambiente e suas formas trazem os meios de integrar, positiva ou negativamente, a agressividade, sendo responsável pela adaptação ou não do indivíduo e sua potencialidade.

Desta feita, pode-se entender uma evolução no conceito da paz, que até o século XIX era um entendimento restrito, negativo, e falava de um equilíbrio entre as relações de poder e potências bélicas: pax absentia belli. Literalmente, a paz é a ausência da guerra. O estado de paz era a ausência do conflito armado, ou da disputa bélica pelo poder. Assim tal definição não era suficiente à compreensão, ou não correspondia, epistemologicamente, ao todo finalístico, uma vez que o conteúdo é mera ausência de, e seu sentido restringido ao alcance: apenas guerra. Não se tinha no que consiste a paz.

Na segunda metade do século XIX, e princípio século XX houve uma progressão do conceito de paz, o seu núcleo adquiriu forma abrangente, e a paz um conceito de construção intimamente ligada à justiça: pax opus iustitiae. Contudo, seria primário considerar o esgotamento do problema pala abrangência do sentido com alteração do núcleo. Da guerra à violência, o entendimento da paz como obra da justiça trata de forma positiva, ampla, contudo, estruturalmente e indireta à violência. Assim, tem-se que a paz positiva existe quando há justiça social, harmonia, satisfação das necessidades básicas, autonomia, diálogo, integração e igualdade de direitos e deveres.

Há, entretanto, dois problemas com o conceito positivo da paz. O primeiro de forma geral se dá quando a questão da dominação geradora de violência vem camuflada com mecanismos de disfarce: faz-se guerra para ter a paz, ou grupos religiosos, étnicos e minorias históricas se insurgem de modo agressivo. Tais indicadores revelam um problema quanto o modelo de paz positiva estrutural. E, assim, apontam para o segundo problema: a agressividade inata, que no modelo da paz como obra da justiça não contempla em seu conceito tal possibilidade. Assim, paz seria a capacidade de uma sociedade se tornar visível e resolver favoravelmente os tipos de violência nela existentes (Jorge Brovetto). Contudo a relação intrínseca, o princípio causal ainda está sendo, nessa concepção, ignorado e a paz continua sendo um conceito abstrato de ausência de... Na mudança da guerra para violência, mas violência meramente formal. Ou seja, a questão do conflito não foi superada e a abrangência na mudança do núcleo não refletida em sua totalidade.

A agressividade inata foi domesticada pelo processo civilizatório, mas não deixou de existir, foi sublimada e, ainda, permitida em determinadas situações com o conceito do INIMIGO EXTERNO. Tal conceito explica à necessidade das guerras e, até mesmo, nos orienta à compreensão do sentido de se perdurar durante séculos o conceito da paz como ausência do conflito bélico.

Tal conceito também nos revela o caráter frágil de se modelar a compreensão da paz como o incentivo da solução dos fatores sociais carentes da justiça, uma vez que, a violência e agressividade estão presentes no sujeito como fatores de pulsões. E a agressividade é conditio sine qua non à cultura, e estabelecida, sendo através dela que o controle, a lei, a proibição se dá como renúncia de um estado primitivo para a vida em sociedade, mas não de forma efetiva ou total.

Essa renúncia, agora, encontra um fator teológico. Uma vez Cristo disse: “... Aquele que quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me (Lc 9, 23).” Esse é sentindo da paz, uma renúncia de um estado dominador, controlado pela satisfação ou disputa de um desejo em que faz a todos ou a tudo que se encontra se submeter. Cristo diz, afirma, enfatiza, que tal estado primitivo deve ser negado, mortificado (tome sua cruz) numa construção da paz que é diferente da conquista do mundo, dos desejos e dos ideais... Assim ele conclui no mesmo texto: “... Do que adianta o homem conquistar o mundo inteiro, perdendo-se, destruindo-se a si mesmo? (Lc 9, 25)”.

Destarte, a paz é um passo positivo ao outro, construída no indivíduo, que abre mão de seu individualismo, egoísmo e caminha em direção ao próximo, sendo capaz de renunciar a si mesmo, perdoar os excessos e as mazelas alheias em amor a si mesmo, a Deus, amando por um ato de renúncia da vontade de agredir seu semelhante em prol da harmonia.

Pode parecer utópico, então toda a paz seria utópica. A guerra nasce de uma palavra mal dita; de uma ofensa ao irmão, à mãe, ao pai; de um gesto antipático para com o amigo, para com o vizinho, com o colega de trabalho; de uma intolerância para com o diferente, para com alguém que possuía entendimento diverso. Nasce do desejo de querer estar sempre certo, sempre no controle ou sempre satisfeito, levando a melhor em toda ou qualquer situação. Nasce do sentimento da vingança, ou do não levar o desaforo, o de ir à forra.

A paz surge quando se dá a outra face, quando se caminha duas léguas, quando se é obrigado a caminhar uma, quando se dá a outra túnica, quando uma se é tomada. Nasce a paz quando se nega a si mesmo, os próprios desejos e se diz: POR HOJE EU VOU AMAR!

FELIZ 2010 A TODOS VOCÊS, UM ANO CHEIO DE PAZ E BEM!

2 comentários:

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