domingo, 12 de abril de 2009

Da ausência do cristianismo: páscoa (passagem) e ressurreição

E por se multiplicar a iniquidade o amor de muitos se esfriará (Mt 24,12).


A Semana Santa, que passou, foi para mim diferente de todas as que já vivi. Creio eu que num sentido negativo, um sentido dessentido! Uma ausência total de significados, onde a mensagem cristã, se quer, fez cócegas em meu eu.

Tudo normal, em relação aos anos anteriores. Assisti a um ritual, muito bonito, na madrugada de quinta-feira, chamado À hora das trevas... Ritual, esse, católico (mas como sou luterano...), medieval, que trata da luz que se esvanece, dando lugar a algo sombrio, frio, confuso... Na verdade, Jesus está sendo preso, e será encaminhado para a morte: eis o significado do ritual; lembrar essa triste passagem das Escrituras.

Na sexta-feira assisti alguns filmes, e nenhum atingiu meus olhos, ou me fez chorar, como antes acontecia. Nem a dor do Cristo, nem seu calvário, muito menos a cruz. Estava eu insensível? Talvez incrédulo! O que importa... Não conseguia parar de pensar na riqueza auferida por determinados pastores evangélicos, que construíram verdadeiros impérios financeiros e patrimoniais, vendendo essa história de Jesus. Não há sentido me entristecer pela dor de um homem crucificado, enquanto alguns ganham milhões cantando sua morte ou apelando a ela, com cinismo e hipocrisia, erguendo castelos e mansões, enquanto outros milhões se deixam enganar por acreditarem, que talvez, tudo isso os salvará. Meu Deus, e só me resta à pergunta: “Os salvará de que, se nem ao menos eles conseguem se salvar de si mesmos?”.

Quando aprendi sobre Direito das Obrigações na faculdade, uma coisa me incomodou, e exatamente, à proposição de que a obrigação tem caráter patrimonial compulsório. Ou seja, uma obrigação que não se extingui pela vontade de se colocar termo num acordo de dar, fazer ou não fazer, necessariamente, incidirá sobre o patrimônio daquele que descumprir o acordo de vontades, será nisso compulsório. E talvez, você que me lê, agora, possa pensar, mas isso é certo, por que te incomodou? Para ser exato, angustiou, e pela forma deu ter associado tudo isso ao cristianismo!

A fé hoje é algo de caráter patrimonial e compulsória, imagine as taxas de 10% ao mês, os votos de fé e as ofertas, tudo incidindo sobre o patrimônio e compelindo este, para que a graça seja alcançada. E a história é velha, foi combatida na Reforma, mas a Reforma falhou, a venda de Jesus Cristo prevaleceu. Meu Deus e eu do que tenho que ser salvo? Senhor salve-me de tua Igreja!

Olhei para a Semana Santa e não consegui ver outra coisa nos teatros, que não fosse TEATRO, não consegui ver outra coisa na paixão de Cristo que não fosse comércio, não consegui ser atingido pelo rosto do ator do filme que fingia dor, ao ser espancado por chicotes ou preso na cruz, pois tudo aquilo vinha de uma produtora de cinema, e o que é o Evangelho, será ele um roteiro de Hollywood? Estava eu num drama de Shakespeare?

Acho que estamos ainda na hora das trevas, há iniquidade. Iniquidade significa essência de algo extremamente malévolo, injusto, do mal. Não vislumbro a passagem, sei que o amor de milhões se esvai, e enquanto mais cristãos mais iniquidade... Senhor, por que não ressuscitas?

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