domingo, 13 de julho de 2008

Agressividade ideológica: o sol que é tampado com peneira

Um tema difícil, mas real; a agressividade no homem é inata e instintiva. O que me faz lembrar um texto a muito lido, na época de minha formação acadêmica, O mal- estar da civilização, de Freud. Lembrei-me disso, e pensei na agressividade religiosa, que é de cunho ideológico e sublimativo , e reflete, como qualquer tipo de agressividade, esse caráter intrínseco da espécie humana. Imagine que a agressividade é a capacidade de alguém se satisfazer à força, atacando, imediatamente, o objeto que inibe o princípio do prazer. Em outras palavras, seria destruir aquilo que causa frustração.

O simbolismo construído sobre os gays na sociedade moderna, e contemporânea, que procura manter a identidade sobre princípios do pátrio poder, é oriundo da concepção judaico- cristã. A ideologia composta, neste pensamento, é de um Deus masculinizado, teocraticamente, governando seu reino. Que tem seus chefes estabelecidos, concretamente, nas mãos masculinas dos sacerdotes, reis e profetas.

Destarte, o papel feminino, na sociedade judaica, era comparado às posses do homem- em muitos textos judeus, nas Escrituras, as mulheres são listadas junto aos bens materiais; bem como os animais- ovelhas, cabras, galinhas, etc.

O mundo judaico-cristão foi estabelecido mediante a submissão do feminino, desde o uso do véu nas assembléias, à proibição do ensino religioso; uma vez que diante dos homens as mulheres deveriam permanecer caladas. Reflexo, imediato, do relacionamento a dois, do qual o marido é o cabeça não sendo questionado por sua esposa.

O gay masculino, ainda que não traga em si às marcas da feminilidade, ao se envolver em relações sexuais homólogas, cumpre, na sua essência, o papel da mulher. O que traz a proibição, no tocante, na esfera do sagrado, pois perturba a própria concepção cosmológica da ordem "natural" dos poderes envolvidos e suas representações. O macho não pode ser submetido, relacionando-se da mesma forma que uma mulher se torna submisso como ela. Desta feita, os textos sagrados punem com a morte tal comportamento dos homens, mas há total ausência no que diz respeito a homossexualidade feminina. Isso acontece, pois a mulher, na cosmologia, já é inferior ao homem e submissa a ele, seu comportamento com outra mulher não atinge o sagrado, nem fala de sua estrutura cosmológica.

A ideologia judaico-cristã chega a contemporaneidade perdendo sua força, mas não totalmente. O fato do homem inverter à ordem do cosmos em si,trocando os papeis de representação social, ainda mexe com a mística burguesa. No período vitoriano, o homem moderno teve sua crise de identidade frente ao papel feminino que ultrapassou às condições de mero coadjuvante, na estrutura da sociedade, quando as mulheres ocuparam posições, outrora, tipicamente, masculinizadas. A ruptura dos papéis representativos jogou o homem burguês- vitoriano- em sua crise da masculinidade. Daí, na história, iniciá-se o culto do homem viril, macho, burguês e destemido. Esse homem tem que ser, necessariamente, oposto de tudo o que é suave ou delicado.

A questão é simples, a mulher não vigora mais como uma subcategoria na esfera metafísica, ela é um ser, independente, livre e não sujeitada. Aquilo que gerava a proibição para o homem, na representação do personagem feminino, já não existe mais... É possível, é real, sem desigualdades dos atores. A mulher está frente-a- frente com o homem pronta para questioná-lo. Ela pode, sem embargo, masculinizar-se, ocupar cargos que os homens ocupam, fazer tarefas que os homens fazem, sem demérito, sem se perder ou banalizar. O inverso, também, é possível. Mas, ao homem à crise, pois desconstruir o mito que se enraizou no imaginário- homem burguês- é tomar-lhe, de assalto, a própria identidade.

Assim, o discurso vitoriano se ligou diretamente dentro das igrejas; sejam elas católicas ou oriundas do cisma do séc XV. Acontece desta feita, pois foi através da própria religião que os papéis do masculino e feminino foram definidos ao longo da história. Hoje, a gritaria evangélica, dizendo contra os gays, reflete essa postura fundamentalista de um masculino, em crise, agredindo ao feminino por sua frustração. A ideologia agressiva de falar mal do homossexual, dizendo ser
este pecador, e condenado ao inferno, é aquela ideologia pronta para tampar o sol com a peneira. Atacam-se o gays, pois eles foram aqueles que, ousadamente, tornaram possíveis os temores do imaginário à atitude concreta.

A velha frase de para-choque de caminhão: "Deus ama o pecador, mas rejeita o pecado", falando dos relacionamentos homossexuais, é agressiva e inútil, e disfarça o verdadeiro temor que os líderes religiosos carregam em si; a possibilidade da feminilidade em seus próprios corpos.

Vários pastores evangélicos que esbravejam uma postura de macho diante de programas televisivos, senadores da república que combatem aquilo que é contrário aos "bons costumes", só fazem assim por temerem em si mesmos aquilo que é oculto do público, mas não deles mesmos. Como aquele pastor Norte-americano que, combatia a homossexualidade com veemência e, foi pego com um garoto de programas... Enquanto mais agressivo na ideologia, mais se percebe a frustração ou aquilo que se quer esconder para deixar o mundinho do "eu" intacto. Mundo construído sobre uma ideologia, que se se perder jogará em crise o próprio ator , nos desejos que este aprendeu a camuflar para manter a ordem de seu ideal perfeita.

Sendo assim, só há combate contra a criminalização da homofobia por parte daquele que não tem certeza, real, sobre sua sexualidade- e orientação.

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