sábado, 31 de dezembro de 2005

Pedofilia e Homossexualidade





Editorial da Sex Boys 20



Pedofilia e homossexualidade



Fundador do GGB - Grupo Gay da Bahia e importante personalidade do movimento homossexual brasileiro, Luiz Mott é também um respeitado antropólogo. Entre suas contribuições, há um estudo de como a Inquisição agiu no Brasil com relação à sodomia (sexo anal), especialmente a praticada entre homens - então considerada o "pecado nefando".



Centenas de anos se passaram, mas manchetes da imprensa têm me levado a pensar que mantivemos o conceito de pecado nefando, posto hoje ocupado pela pedofilia. Claro que não vou defendê-la. Ao contrário da mera prática do sexo anal, a pedofilia tem aspectos e conseqüências cruéis. Chama a atenção, porém, a histeria que ela proporciona.



Sim, devemos nos indignar - mas basta acusar uma pessoa de ser pedófila para haver uma caça às bruxas. Se a inocência é verificada, ainda assim a vida dela fica destruída. Exemplos não faltam. No Brasil, o da Escola Base é o mais notório.



Pior ainda é a tentativa, empreendida por conservadores, de associar pedofilia e homossexualidade. Isso veio à tona nos escândalos com padres norte-americanos e acabou reforçado pelo recente documento do Vaticano sobre o ingresso de homossexuais no clero.



Esse tipo de coisa não ajuda em nada. Pedófilos, além de cometer um crime, são pessoas que precisam de acompanhamento psicológico - e sua condição não é fruto da orientação sexual, qualquer que seja ela (e há pedófilos héteros, gays e bis), mas de uma conjunção de fatores patológicos.



Qualquer tentativa de atrelar a pedofilia à simples existência de uma orientação sexual é apenas uma forma de se aproveitar do sofrimento infantil para reforçar o preconceito contra pessoas já injustamente marginalizadas. No caso, os homossexuais. Isso é desumano, é imoral, e não difere muito do crime de que aquelas crianças foram vítimas.



O Editor










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terça-feira, 13 de dezembro de 2005

EU PRECISO DE COLO


Ainda, na noite de ontem, caminhado pela avenida, na pista de Cooper, com meus sentimentos que nada sentiam... Totalmente anulados pela indiferença e desprezo, meus olhos lacrimejaram. Uma vontade súbita de pedir socorro, um desejo, enorme, de me aconchegar em um colo... Sim, desejava o colo de minha mãe! Não tinha uma mãe por perto para que pudesse me acolher, nem receber minha dor, que na indiferença não era percebida.

Avistei uma mulher de 50 anos, aproximadamente, pedi para que ela me ouvisse, mas com medo, ela se recusou parar e me dar atenção. Foi quando, ao longe, vi uma senhora de cabelos grisalhos, com 67 anos, aproximadamente, alongando-se na ponte que atravessa a pista. Devagar, eu me aproximei e pedi, para que se não sendo incomodo, talvez, um pouco de atenção e conselho, pois precisava falar com alguém, pois precisava de uma mãe. 

Aquela senhora, se prontificou a me ouvir... Disse a ela que eu era gay, e pedi que ela não se assustasse, e contei tudo o que havia acontecido comigo. Com o olhar materno, pensativo, afetuoso, ela me escutou, pacientemente, toda a história, até que eu acabei... Foi quando desejei que ela fosse minha mãe. Suas primeiras palavras saiam em aceitação e empatia: "não há nada de errado com você ser gay, você amou uma pessoa que só desejava brincar com seus sentimentos; gente assim, que brinca com o coração dos outros não é feliz meu filho". Admirado escutava os conselhos de Dona Fleurips, que na sua experiência de vida, animava-me, e me ensinava a viver a vida.

Se todos nós pudéssemos ter a aceitação da família que essa doce senhora me proporcionou... Se todos nós pudéssemos deitar no colo de nossas mães, quando solapados na existência, e chorar as magoas, e ouvir que somos maiores do que isso, e que toda lagrima é bobagem, sendo amados e recebidos como somos, e não por aquilo que fazemos ou com quem transamos.

Fui embora, agradecendo muito aquela pessoa maravilhosa, que sumiu sem eu ver ou dar conta para onde ela pudesse ter ido. Um pensamento místico tomou conta de mim: "hoje Maria, a mãe de Deus, apareceu para mim e me aconselhou, e me confortou e me deu forças". Não sei ao certo quem era aquela doce senhora, só sei que para mim era, foi e será a NOSSA SENHORA, que em seu seio de mãe calou meu desejo e me confortou em minha miséria. 

Nós gays precisamos de mães que nos aceitem, e não que nos estapeiem, essa foi uma doce lição que aprendi. Nem sempre nossa família faz da nossa vida algo melhor a ser vivida e explorada. Isso é um fato, um pesado fato. Ontem, desejei um colo de mãe, e graças a Deus encontrei uma mãe, que quero acreditar ser Maria.


domingo, 11 de dezembro de 2005


Por que sofremos?

Foi ontem, ao fim de um processo doloroso, que no consultório quis responder à pergunta que me foi trazida com certa angustia.

De agosto a dezembro, precisamente, ontem, chorei, emagreci, angustiei-me, sofri. A dor solitária que penetra no fundo da alma e eclipsa a razão, que nos confunde, nos abate.

Abatido, sem alma, sem chão, nem o choro me servia de lamento. Troquei as boas coisas, por coisas quaisquer; troquei a alegria do semblante que contemplava a vida, por um olhar turvo, que não se encontra, que não se ama, que nada vê. Errei na caminhada; julguei pessoas que não mereciam meu juízo. Desfiz do trigo e comprei o joio.

Quase perdi os amigos, por me apegar à dor... Sofri pela tolice de se desejar o que não se pode ter. Por não vislumbrar no processo as perdas e ganhos, e o interesse último que nos faz caminhar na vida social. Sendo assim, disse coisas boas a quem não merecia ouvir, dei meu amor a quem não soube me amar, joguei pérolas na lama, e minha recompensa foi receber um dizer frio, raivoso, destruidor, que na expressividade do "tenho nojo de você", trouxe-me, novamente, o que sou!

Eu não tenho nojo de mim, e no campo minado, a última bomba que restava ser explodida, sim, fez-me ressurgir. A dor se foi... O lamento não existe, a angustia cessou.

Tudo isso seria trágico, se não fosse lúdico! A ironia se encontra que, no sofrimento, e na prisão da alma, ganhei um amigo que de longe não nunca esperei ter. Faz-se sentir que nesse processo vivi, fiz poesias, fiz declarações, dissimulei situações, errei muito, e não perdi nada! Ao passo que tudo perdi.

Queria ter errado mais... Bem mais do que errei, enfim toda a dor do erro me modelou, fez-me uma nova pessoa, converteu-me à humanidade, sem julgá-la boa ou má, sem vingá-la no meu "azar".

Por que sofremos? Sim, sofremos para que possa existir a poesia, sofremos para que possa existir a vida, sofremos para que possa existir a música, sofremos para encontrarmos nos amigos o verdadeiro tesouro da partilha do eu para o "além do eu". Sofremos para aprender que juízos, raivas, nojos, antipatias fazem parte do processo humano, mas que não devem ser levados a serio com o peso cabal das afirmações últimas... E de igual forma, que nenhum amor, esperança ou paixão devam ser levados tão a serio, que não se possa movimentar a vida em nós mesmos, em prol dos ideais simbólicos que, essas bandeiras, nos fazem levantar.

Dessa forma, sofremos para nos transformarmos em pessoas melhores, se do sofrimento aprendermos à lição: NÃO LEVE A VIDA TÃO A SÉRIO... APENAS VIVA E SE DEIXE VIVER!
Por: Renato Hoffmann.

domingo, 28 de agosto de 2005

Sociedade, que bicho é esse?

Quando falamos dos direitos de gays e lésbicas e de qualquer outra coisa que, via de regra, "contrarie" valores estabelecidos pelo status quo social, é comum fazermos referência à expressão ?modelos (ou padrões) impostos pela sociedade?. Entretanto, o que realmente queremos dizer com isso?

Muitas vezes, as pessoas parecem se referir à sociedade como se ela fosse um ente à parte com corpo e vontade próprias, que diz às pessoas o que quer e as obriga a segui-la.

De fato, existe, digamos, um "fator independente" na sociedade. Para apontá-lo, citaremos dois pensadores cruciais. Primeiro, Nietzsche, para quem os homens criam os conceitos, "esquecem-se" de que os criaram e se tornam escravos do que eles próprios fizeram.

Segundo, Marx, que, com a noção de ideologia, demonstrou como esta é criada a partir de uma condição sócio-histórica definida, mas passa a reger o pensamento dos homens, como se tivesse vida própria. É por isso que a sociedade parece um monstro que anda pelas próprias pernas.

Ora, embora pareça um monstro, a sociedade é criação nossa e, no limite, somos nós. Os valores, a ideologia, a moral, a ética são criações humanas- e, portanto, passíveis de mudança e até de destruição.

Nietzsche e Marx nos fazem concluir que, se somos os criadores, também podemos tomar as rédeas e nos ver como responsáveis por tudo isso, em vez de, como costumamos fazer, os atribuirmos a um ser superior ou a um conceito ou idéia fora de nós.

Da próxima vez que você vir algo que pensa ser "naturalmente" certo ou errado ou que "fere" o que um ser superior disse que devia ser feito, reflita se, na verdade, você não está confundindo criador e criatura. É um bom exercício, que pode até começar com alguns textos desta edição. Confira nas próximas páginas.



O Editor


Fonte: Editorial da Sex Boys 18

domingo, 7 de agosto de 2005

Esta reflexão é inter-religiosa; e vem de um representante do Zoroastrismo, quando li, não tive dúvidas em publicá-la, por expressar a verdeira face de Deus: A vida!!

DEUS, QUE PALAVRÃO!*

Deus. Que palavra ruim e carregada!

Ela implica tanta história de morte e de domínio que causa arrepios em muita gente. Enquanto, para outros, continua sendo uma fuga de responsabilidade, ou pior, uma arma de exclusão!

Para muitos, Deus é tudo que esconde de mal resolvido em si mesmo: medo, desejo de vingança, egoísmo (do tipo eu sou salvo, você vai para o inferno), a baixa auto-estima (terrível o mandamento de se negar a si mesmo), de tabus (não pode sexo, não pode nudez, não pode o melhor de tudo), de validação de poderes (do governo, do pai, do sacerdote, do próspero etc). Esse Deus é a desculpa para se ir construindo esse mundo desigual, apocalíptico (já que vai acabar mesmo, por que não explorá-lo ao máximo?!), e mal governado (afinal tem que se obedecer a toda autoridade constituída). Ainda, Deus pode ser apenas o nome de nossas fantasias, do mistério que nos cerca ou, do desejo de resolução mágica dos problemas que criamos em nome desse mesmo Deus e, do "pecado" e "morte" que ele inventou.

Se de alguma forma queremos ainda usar essa palavra que seja para expressar a nossa admiração e prazer diante da beleza do mundo. Que a palavra Vida seja o sinônimo mais fiel de Deus. E, que ela expresse o nosso desejo de abertura para o diferente e de cuidado pelo mundo.
Claro que, essa paranóia de se ter que defender a existência de um Deus único (geralmente o meu, o da minha religião ou povo) só prova que temos feito esse Deus mais fraco do que nós mesmos, pois dependente de nossa defesa, martírio, fanatismo e terrorismo.

Ajoelhar-se, adorar ou louvar são coisas que têm a ver com escravidão e barganha barata. Se há Deus, a Vida de nossa vida, Deus não pode ser: ele, pai, rei, senhor etc (tudo no masculino, pois esse Deus é uma invenção dos machos), porque todos esses termos falam de nossa própria vontade sadomasoquista de domínio. Deus, a Vida, então, é a força que nos coloca de pé, iguais e dignos. Tudo que nos quer de joelhos é o contrário do bem e inimigo da Vida!

A Boa Consciência nos convida a despirmos Deus desses mitos danosos, de suas iras e exclusivismos e, também, de nossa defesa. Seria bom achar um outro vocabulário, aberto e diverso, para falarmos de beleza, espiritualidade e amor.

Que tal abrir-se para esse sublime exercício?

*Onaldo Alves Pereira
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terça-feira, 2 de agosto de 2005

GAY SÓ PENSA EM SEXO?
Por: João Marinho

Antes de começar a expor minhas idéias, é preciso deixar claro que o que escreverei aqui não se baseia em estudos acadêmicos ou comprovações de cunho científico, mas em minha experiência pessoal enquanto jornalista envolvido com a sexualidade, namorado, gay e amigo de algumas dezenas de outros homossexuais.

O tema do texto são as clássicas perguntas: será verdade que os gays são promíscuos e não querem nada sério? Que ninguém se interessa em namorar e manter um relacionamento estável? Que os héteros estão em melhores condições, já que, na maior parte das vezes, casam-se, formam família e têm filhos?
Questionamentos desse tipo sempre me soaram como sintomas de uma forte carência afetiva e uma acentuada baixa auto-estima, muitas vezes originadas de um preconceito internalizado.
Explico: ser gay ainda é difícil. Nossos pais, em geral, não nos criam levando em consideração que é possível, no futuro, gostarmos de alguém do mesmo sexo. A sociedade, mediante instituições como a família, a igreja e até mesmo a escola, dedica-se a desencorajar comportamentos homoeróticos em favor dos heterossexuais.
Quando o gay percebe sua verdadeira orientação sexual, faltam modelos e conceitos positivos pelos quais possa se guiar. A pessoa sempre foi educada que o "certo" é "Mariazinha ficar com Zezinho". O que acontece quando ela percebe que o "Joãozinho" é mais atraente?
Essa conclusão, até certo ponto simples, não raramente passa despercebida pelos homossexuais. Isso porque a constatação de que se está ?fora dos modelos? freqüentemente resulta em sentimento de culpa, e o gay passa a acreditar que realmente existe algo de errado consigo.

Desajustados?

A primeira reação, portanto, não será a de criticar os modelos, mas de tentar ajustar-se a eles. Quando se percebe que isso não é possível, sobrevém mais sofrimento, e a pessoa passa a desenvolver uma baixa auto-estima, acumular carências e até chegar a sérios problemas psicológicos.
Como não é possível eliminar o desejo, também fica fácil entrar em um processo negativo de sexo desenfreado, pois a baixa auto-estima não apenas faz com que a pessoa não se veja como alguém capaz de ter um envolvimento emocional com outra, mas passa a influenciar negativamente sua própria visão quanto às demais pessoas.
Nesse ponto, um relacionamento estável aparece como uma solução mágica. Encontrar alguém confiável e capaz de redimir todas as angústias com seu amor e romper o círculo do sexo sem compromisso e sem sentimento passa a ser uma meta de vida.
O problema é que o modelo de relacionamento adotado é também o que nossos pais nos ensinaram ? e dirigido aos heterossexuais: uma relação monogâmica, fiel, que dure para toda a vida, etc.
Por que isso é um problema? Porque esse modelo muitas vezes não funciona sequer para os heterossexuais. Evidentemente, há pessoas que o seguem e são felizes assim, mas o número delas é bem menor do que a sociedade nos faz pensar.
Esse modelo despreza a plasticidade das relações humanas, a possível atração sexual por outras pessoas independentemente do amor e uma série de nuances que certamente entram na equação que leva muitos casais héteros ao divórcio, à manutenção de amantes ou à adoção de práticas sexuais consideradas heterodoxas, como o swing (troca de casais) ou o ménage (sexo a três).

Crítica aos modelos

Entre os gays, pessoas para as quais esse modelo não foi criado, a situação é ainda mais complicada, especialmente se enviesada pela carência e baixa auto- estima a que nos referimos há pouco.
O resultado óbvio é o de que muitos namoros "não dão certo", e o gay passa a acreditar na velha história de que os outros gays não querem nada mais do que sexo casual e são ?naturalmente? promíscuos ? história, aliás, criada por homófobos (pessoas que rejeitam a homossexualidade) para manter os homossexuais à margem da sociedade. O gay passa, então, a adotar o discurso do opressor.
O ponto de partida para romper esse estado de coisas é criticar os modelos que nos foram propostos desde cedo. Ser gay não é fácil porque, até certo ponto, é "remar contra a maré", mas também guarda um potencial de quebra de paradigmas que pode ser benéfico para toda a sociedade e não pode ser desprezado.
Por possuirmos uma orientação sexual que, em si mesma, não se ajusta ao que nos ensinaram, temos também mais "material bruto" para criticar as hipocrisias sociais que dizem respeito à sexualidade.
Trata-se, portanto, de partir da condição de homossexual e olhar as convenções sociais e seus próprios pensamentos de uma forma mais crítica, mais sincera, a fim de detectar a real origem de nossas carências, inseguranças, medos e visões deturpadas de mundo.
Uma vez feito isso, procure trabalhar sua auto-estima ? e nada melhor do que contar com amigos e outros gays que já passaram por esse processo e foram vitoriosos. Estudar a homossexualidade e a história humana também ajuda, pois assim você certamente verá que não há mesmo nada de errado com você.
Resolvidas essas questões, o resultado quase sempre é uma incrível paz de espírito. Então, aí, sim, você estará preparado para relacionamentos maduros, pois terá algo a oferecer ? e para trocar. Se assim for, certamente você encontrará alguém, pois, ao contrário do que se diz, há muitos gays por aí querendo, sim, construir um futuro com outra pessoa.
Pode ser também que você simplesmente opte por permanecer no sexo casual ou mesmo por manter uma relação aberta com duas ou mais pessoas. Isso tampouco é ruim, afinal, a crítica aos modelos já não foi feita? Quem prova que a felicidade está apenas no relacionamento tradicional? Há relações assim que simplesmente acabam com as vidas das pessoas.
A diferença é que, se você optar por essas outras vias, o fará por maturidade, e não por inconseqüência ? e poderá, afinal, aproveitar o que de melhor a liberdade sexual tem a oferecer.

sábado, 30 de julho de 2005

A promiscuidade e as questões da prática teológica na inserção dos grupos marginalizados.

Não é uma questão simples, e tem-se, de fato, um problema, enquanto teologia em sua ação prática, na abordagem de um pensamento cristão, aos meios que se fazem à margem. O discurso evangélico, aquele que nos diz do Cristo, enquanto cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, é um discurso cultural inclusivo. O Cristo é o que faz, radicalmente, a opção por aqueles que vivem como pecadores e com eles se mistura. Pensar na radicalidade do Cristo é questionar, até que ponto, ele manteve comunhão com grupos excluídos por terem um comportamento, dito, minoria na cultura judaica. Isso, pelo fato, desta comunhão trazer esse mesmo Cristo, que é o próprio Deus, totalmente mergulhado com as questões, que para muitos, era o escândalo mais indigno que alguém poderia ter sobre si mesmo.

A teologia institucionalizada, fechada e conservadora, resolveu esse problema, trazendo um falseamento na ideologia final, à própria teleologia kerigmática da Revelação. Eles disseram que Cristo viveu tudo, profundamente, no meio dos pecadores, mas sem misturar no pecado. Mas, antes de se acreditar nessa proposição, devotamente, dever-se-ia voltar os olhos a radicalidade da narrativa do Cristo no meio dos pecadores, e seu simbolismo na teologia dos judeus. Enquanto ruptura, no aspecto teológico, Cristo a promoveu numa simbólica sem voltas. O Cristo dos evangelhos, seria tão pecador, como os demais pecadores, pelo motivo da associação a eles. Associação, tão profunda, que o faz dividir seus momentos mais íntimos, mais pessoais; na partilha do alimento, no descanso nas casas, na alegria do vinho. É nesse movimento, que o Evangelho de Marcos registra, como anuncio dessa radicalidade total, na quebra do decoro, da ética e da própria moral judaica, o anuncio que segue: E tornou a sair para o mar, e toda a multidão ia ter com ele, e ele os ensinava. E, passando, viu Levi,filho D'Alfeu, sentado na alfândega, e disse-lhe: Segue-me. E levantando-se o seguiu.

E aconteceu, que estando sentado à mesa em casa deste, também estavam sentados à mesa com Jesus e seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque eram muitos, e o tinham seguido. E os escribas e fariseus, vendo-o comer com os publicanos e pecadores, disseram aos seus discípulos: Por que come e bebe ele com os publicanos e pecadores?

E Jesus, tendo ouvido isto, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médicos, mas sim, os que estão doentes, eu não vim chamar justos, mas sim pecadores.

O dizer do médico para doentes e do chamar pecadores ao invés de justos é inútil à compreensão judaica como proposta de juízo moral, na sua teologia corrente. Uma vez que, o assentar-se à mesa já era ser doente com os demais, e o comer e beber com pecadores, à semelhança destes, se igualar em pecado. Tornar-se imundo, e de fato Cristo se fez imundo por opção, não porque ele era o que iria os purificar, e muito menos o que iria curar, mas o fato é: "Vim chamar os que são como eu; doentes e pecadores". A questão radical está na livre escolha em se igualar, e mostrar preferência. Tal atitude era o escândalo mais terrível que alguém poderia fazer contra a tradição e códigos mosaicos. Cristo via, no olhar das comunidades que relatam sua inserção salvifica, a única forma de salvar a humanidade; o ser profundamente humano. Neste aspecto, não era o código moral que iria dizer o que era, e é, o ser homem, muito menos, as preferências sociais. Mas, o que iria dizer ao Cristo o que era ser homem, seria a própria vivencia na humanidade doente e pecadora (afastada de si mesma, e portanto de Deus). Na profundeza do homem Cristo é Deus!

Ali, na comunhão com os pecadores, igual aos pecadores, em tudo, na doença e na imundice, talvez uma palavra não usual (palavrão), um olhar mais inflamado e sensual, um acariciar libidinoso, o pênis em ereção. Isso tudo é se relacionar, profundamente, sendo humano! À semelhança dos pecadores que se fazia na comunhão plena de sua pessoa. Não posso aceitar que Cristo não tenha vivenciado esse pecado promiscuo, em sua natureza; humana- divina. Pois, senão, ele não seria humano, em sua profundeza, sendo Deus. Aliás, promiscuo é, literalmente, ser agregado sem ordem nem distinção, misturado, confuso. Ele se promiscuía com os pecadores. E no seu mergulho, na lama da humanidade, enrijeceu a arvore frondosa e bela que nos trouxe comunhão e liberdade.

Neste aspecto, posso aceitar o fato do Cristo não ter tido o "pecado original", aquele pecado que afasta o homem de si mesmo, e portanto de Deus. Cristo não era afastado de sua condição humana, mas na sua condição humana pode compreender que o pecado, não a moral, das obras e das ações, mas o pecado, que destrói a humanidade é a indiferença do homem para consigo mesmo. Essa indiferença que destrói a natureza, poluindo-a, desmatando-a. Que nos leva a tratar-nos como inimigos, que nos faz matar uns aos outros e ser insensíveis a tudo o que está a nossa volta. Ainda que, tenhamos o instinto da autopreservação da vida, individualmente, nós a alienamos, não nos destruímos, imediatamente, mas em doses sutis, até não mais ter volta. Essa alienação o Cristo não possuía, por isso, pode promiscuir-se aos pecadores, e amá-los, salvando- os de serem alienados, ainda que, doente e imundo aos conceitos morais e absolutos da religião judaica.

De certa forma, o arquétipo moral cristão ortodoxo vem carregado de um discurso diferente do kerigma dos evangelhos. A teologia gay ao refleti-lo, reflete o etnocentrismo judaico, a exacerbação estóica, e a homofobia vitoriana. Por isso, muitos gays evangélicos estão às clinicas de psicologia, pois não se sentem alicerçados em nada. A questão da tolerância, enquanto discurso para inclusão dos gays, mas não de seu meio, é hipócrita. Isso, pelo fato, do próprio verbete, tolerância, ser maculado em si mesmo. Ele foi usado pela primeira vez nos glossários iluministas, e significava o efeito de se aceitar um mal necessário. Claro que hoje isso é reinterpretado, mas tolerar, ainda, vem carregado de enfado, custeio.

A teologia gay não tem que tolerar os gays e rechaçá-los em seu meio. A teologia gay tem que ser o que ela é; GAY, e promiscua nessa causa, para efeito de sua santificação. Tal como Cristo fez com os homens em seu pecado e prosmicuidade. Caso não tenhamos uma teologia que alcance a prática do homossexual em sua cultura, sem jogá-la e julgá-la na esfera do sub, a teologia nesse meio não encontrará o processo para ser libertadora. O homossexual cristão tem que ser radical à sua própria causa; aos gays. O teólogo homossexual tem que ser convertido ao gay e ao seu meio, e não ao credo moral da Igreja Cristã. Caso contrário não teremos uma teologia libertaria que seja, realmente, eficaz frente à problemática da fé. Reproduzir o discurso moral como arquétipo de santidade da Igreja dominante, é discriminar o gay, alienadamente, em uma causa que, fatalmente, culminará ao eclipse do seu ideal último.



Renato Hoffmann

domingo, 26 de junho de 2005

Seminário GLBT discutirá igualdade de direitos

Compromisso com respeito e igualdade de direitos. Com esse propósito, as comissões de Legislação Participativa, Direitos Humanos e Minorias e a de Educação e Cultura, além da Frente Parlamentar pela Livre Expressão Sexual, realizarão na próxima terça-feira (28), Dia Mundial do Orgulho GLBT, o 2º Seminário Nacional da comunidade de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros. O evento acontecerá no plenário 5 da Câmara dos Deputados.

Quatro mesas de debates estão previstas para o encontro. Participarão dos debates especialistas da área jurídica, representantes de organizações que lutam pelo reconhecimento dos direitos da comunidade GLBT, no Brasil e na América Latina, junto com parlamentares comprometidos com a promoção da igualdade de direitos, independentemente da orientação sexual. A união civil, o combate à homofobia e a garantia de cidadania plena aos GLBTs serão os pontos centrais do seminário.

Para a deputada Fátima Bezerra (PT-RN), presidente da Comissão de Legislação Participativa, o seminário é necessário para que os parlamentares reflitam sobre os mecanismos e instrumentos que garantam os direitos de GLBTs. "Vamos discutir formas de garantir esses direitos que, apesar de serem direitos humanos, ainda não estão sendo respeitados, porque existe uma cultura na sociedade de preconceito e discriminação, que gera situações de violência", ressaltou.

O encontro conta com o apoio da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, do Conselho Nacional de Combate à Discriminação, do Programa Nacional de DST/AIDS do Ministério da Saúde e da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros (ABGLT).

Emendas na LDO


A deputada Iara Bernardi (PT-SP) e o deputado Luciano Zica (PT-SP) apresentaram duas emendas à LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) referentes a políticas públicas voltadas para a comunidade GLBT.

A emenda da deputada Iara foi apresentada para o Programa "Educação para a Diversidade e Cidadania", para que sejam implementados 27 projetos (um por estado) de qualificação de profissionais de educação no respeito à diversidade de orientação e identidade sexual.

O deputado Luciano Zica apresentou emenda ao Programa "Gestão de Política de Direitos Humanos", na ação "Gestão e Administração do Programa" para que sejam implementados 200 projetos de combate à violência e discriminação contra a comunidade GLBT.

Agência Informes (www.informes.org.br)
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SER
OU NÃO SER

Renato Hoffmann


Certo dia, conversando com alguns conhecidos, o
assunto homossexualidade surgiu, e de uma maneira, até então, por mim
nunca vivenciada. De certa forma, eu achei oportuno, mas não esperava uma
abordagem tão diretiva, que em certo momento me interiorizou.


Vanessa na mesa do restaurante com seu namorado e outros amigos,
olhando para mim, foi sem cerimônias: "Renato, o que é ser gay?".
Imediatamente, com as defesas do ego armadas, sorrindo, talvez sem graça,
disse: "gay é aquele pessoa que gosta de outra do mesmo sexo, você não
sabe?". Claro que procurei fugir do assunto, não por medo, mas pela
pergunta específica envolver algo que nunca havia respondido. Obviamente
que ela sabia o que é o conceito de ser gay, mas não a perspectiva do gay
em si mesma. Eu me assustei, pois estava assentado com evangélicos, e o
primeiro pensamento é, sem sombra de dúvidas,  o do juízo de valores.
Muito embora, ela me questionava em relação ao meu juízo de realidade.


Não tinha medo da pergunta, mas não estava disposto a ser questionado
em relação a moral, e muito menos, ter que defender o direito do ser o que
se é, naquela ocasião. Vanessa, entretanto, disposta a ter suas respostas,
disse-me: "Queria saber o que é ser gay, ou melhor ouvir de um gay o que
ele sente, julga, pensa da sua condição. Escutamos tantas vezes que é uma
escolha, que é doença, que é pecado, safadeza, mas nunca escutamos um gay
dizer o que ele pensa de sua condição, Renato como você se tornou gay?".
Achei aquilo tudo tão incomum, como eu me tornara gay? Talvez, certa manhã
eu levantei de minha cama, e disse a mim mesmo: "cansei de ser hetero,
enjoei, agora vou ser homo", e sai pela vida com minha "nova" identidade e
estilo de ser.


Então resolvi a falar, com a mesma indiscrição que fui questionado:



"Vanessa, não recebi no útero de minha mãe
uma opção, recebi uma condição; sou do sexo masculino, obviamente alguém
argumentaria, que natural seria que eu transasse com pessoas do sexo
feminino, sendo minha realidade presente o desvio da naturalidade com que
as coisas se estabelecem. Entretanto, nós falamos de pessoas, não de
animais, e mesmo que falássemos de animais. Para mim, ser homossexual é a
mesma coisa de ser heterossexual, você simplesmente é. O ser humano para
se constituir na sua realidade presente teve que negar tantas coisas ditas
naturais, e digo negar mesmo; usamos roupas, comemos com garfos, em
pratos, cozinhamos os alimentos, e mantemos relações sexuais longe da
vista dos outros. Então pergunto o que seria natural? Na minha opinião
natural é o sexo, não importa se com pessoas homólogas ou não; transar é
natural. Quem advoga que o sexo homossexual é anti-natural não transa, é
casto, e quer saber? A ciência diz que o ser humano é uma animal sexuado.
Portanto, anti-natural é se abster do sexo.



Existe na natureza animais
que mantêm relações com outros do mesmo sexo; quem nunca viu dois
cachorrinhos do sexo masculino praticarem o coito no meio da rua? Seriam
eles anti-naturais? Creio que não! Ser gay não é desvio de comportamento,
não é perversão, não é doença e, muito menos safadeza. Certo dia, percebi
em mim, que não resistia ao chamado de um determinado aspecto da
sexualidade, que me envolvia por ele e me excitava. Neguei a princípio,
veementemente, qualquer condição relacionada ao homoerotismo, e vivi
infeliz, sendo alguém que no fundo não era. Como me tornei gay? Não me
tornei, eu sou gay, as pessoas não se tornam gays, elas simplesmente são
ou não são. Agora, como me tornei o que sou? Simples, um dia acordei e
decidi ser o que eu sou, sem me preocupar muito com o juízo dos outros,
dando chances a mim de ser feliz e me encontrar. Nesse dia o Renato veio a
ser o que ele é. Sabe Vanessa, ser ou não ser eis a questão!".



domingo, 19 de junho de 2005

Tudo começou assim...

Sempre minha mãe foi minha melhor amiga, sempre contei tudo para ela. Certo dia resolvi contar sobre a minha homossexualidade, comecei contando aos pouquinhos, contei que sentia vontade de beijar meninas. Passaram-se os dias e ela me perguntou se a vontade havia passado, eu respondi que não passava tão rápido assim. Pronto! Começou o drama, a partir desse dia minha mãe não conversava mais comigo, não me dava carinho, me tratava como se eu fosse uma estranha. Comecei a ficar muito triste e arrependida.

Isso durou umas duas semanas até que ela resolveu conversar comigo. Começou dizendo que não conseguia me imaginar chupando a vagina de outra mulher, disse que era safadeza minha ou eu estava com algum encosto porque eu nunca tinha dado indícios de que era lésbica, porque para ela, lésbica é aquela masculinizada que usa bermudão, fala grosso, etc... E eu sempre fui super feminina, era chamada até de Barbie na época em que eu era mais magrinha e andava de bicicleta rosa. Disse que aquilo deveria ser alguma má influência de uma menina que conheci na net, enfim falou um monte de coisas... Depois de ouvi-la falar tudo isso, na tentativa de receber o carinho de minha mãe de volta, comecei a dizer que eu estava errada, pedi perdão a ela, disse incessantemente que não iria fazer mais aquilo, disse que iria pedir a Deus para me libertar, tentei convencê-la de todas as formas, e consegui. Hoje tenho o carinho dela e vivemos muito felizes, e ela acredita que sou "hetera".rsrsrs

Sei que fui fraca por negar minha homossexualidade, mas foi difícil escolher entre a liberdade e o carinho de minha mãe. Hoje em dia já não considero minha mãe como minha melhor amiga, nem tudo eu posso contar para ela.

Encontro-me com minha namorada escondida na net, é ela que minha mãe acha que me influenciou, ela é super masculinizada. Eu a amo d+, ela é o meu menininho, o meu docinho, o meu anjo, linda demais.

Confesso que fiquei magoada porque é difícil entender porque as pessoas só querem a Dandara certinha, boa filha, exemplo a ser seguido, "decente", que sempre traz alegria para as pessoas, mas não aceitam que eu seja feliz com a pessoa que amo.

Depois disso procurei na net um lugar onde me aceitassem do jeito que sou e acabei encontrando o gospel glbt. Obrigada pessoal!!!

Obrigada pela atenção, desculpe perturbar a paciência de vcs com um e-mail desse tamanho, mas é que eu precisava desabafar com alguém e se eu contar essas coisas para a minha girl ela fica tristinha.

Obs.: "hetera" foi uma brincadeira que fiz com a palavra, eu sei que o certo é heterossexual.
Aconteceram muito mais coisas, mas se eu contar tudo vai ficar muito grande.

Vcs são muito importantes p/ mim!
Beijos da Dandlife!

terça-feira, 7 de junho de 2005

Boa Notícia!
Evangélica é condenada a pagar indenização a casal gay


Pela primeira vez, uma evangélica da Igreja Universal do Reino de Deus foi condenada no Rio Grande do Sul a pagar R$ 800,00 de indenização por danos morais a um casal gay. A ação correu no 5º Juizado Especial Cível de Porto Alegre e envolveu advogados do grupo SOMOS na defesa.

Isso é o mínimo que poderia acontecer com quem tenta ridicularizar e discriminar os homossexuais por causa de sua orientação sexual. A homossexualidade sempre foi alvo fácil do fundamentalismo religioso. Não é de hoje que sofremos masacres de religiosos que fazem questão de discriminar covardemente os homossexuais, além de tentarem, sem sucesso, "reverter" a homossexualidade em heterossexualidade, como se isso fosse possível. É hora de darmos um basta a tamanho ato de agressão.

Bom seria se todos os gays (cristãos ou não), resolvessem tomar a mesma medida de segurança, só assim a dívida que os homofóbicos evangélicos têm para conosco iria diminuindo sempre que os nossos direitos fossem transgredidos.

Infelizmente a quantia a ser paga pela homofóbica da IURD é irrisória, no entanto, a condenação serve de exemplo de cidadadia a ser seguido e conquistado por todas as vítimas do preconceito neste país.

Wallace Ximenes

Testemunho Pessoal

Reprimir desejos sexuais é fácil.
Castrar-se é fácil.
Canalizar sua energia sexual é fácil...
Tudo isso é muito fácil diante da terrível experiência de ter que aniquilar o amor.



Desde sempre eu freqüento a igreja. Sempre fui cristão assim como toda minha família. Sempre fui muitíssimo envolvido no ministério e já muito cedo me tornei líder da mocidade de minha igreja. Era membro do grupo de louvor. Ministrava à igreja. Por tamanha participação na comunidade, à minha opinião era dada muita importância desde minha adolescência.

Sempre amei e fui amado pela igreja. Sempre fui uma criança alegre e ativa. Até que fui entrando na pré-adolescência e me tornei um ser humano em decadência. Vivi em profunda depressão dos meus 13 aos 17 anos. Foi quando eu já não tinha como esconder de mim mesmo a minha homossexualidade.

Reprimir desejos sexuais é fácil. Castrar-se é fácil. Canalizar sua energia sexual é fácil...Tudo isso é muito fácil diante da terrível experiência de ter que aniquilar o amor. Eis minha condição devastadora: eu amava homens!

Nunca em toda a minha vida eu poderia aceitar a idéia de que eu, logo eu, o bom filho, cristão, respeitado pela igreja, tido como exemplo, estudioso, conhecedor da bíblia... enfim, eu poderia ser homossexual. Deus não poderia me abandonar a uma situação dessas. Isso não acontece com um cristão: foi isso que eu sempre aprendi!

Vivi em luta com Deus durante os próximos anos de minha vida. Jejuava a ponto de ficar fraco. Orava sem cessar. Implorava por cura. Todos os cultos, todas as chamadas e apelos, estava eu lá indo à frente mendigando por misericórdia. Isso durou anos. Cheguei à conclusão de que Deus me abandonara. Tornei-me um rapaz frio, triste e profundamente amargurado.

Namorei todas as meninas que pude. Noivei aos 17 anos. Não abandonei a igreja. Mas não tinha mais brilho nos olhos. Decidi que iria abdicar de ser feliz e de amar. Odiava a possibilidade de vir a tornar-me um gay.

Participei, então, desses movimentos que "curam" homossexuais. Lá me fizeram conhecer um deus mesquinho. Um deus que por capricho decidiu que certos seres humanos, no caso nós homossexuais, temos uma cruz especial: devemos nos contentar em abdicarmos de viver o amor eros. Assim, alcançamos a "cura". Sendo humanos pela metade. Não podemos amar. Cada pequeno embrião de amor que surgisse dentro de nós deveria ser tão logo expurgado, pois se trata de um germe demoníaco crescendo dentro de você. Aceitei a idéia de um deus destorcido que nos faz sentirmos monstros.

Como poderia eu me sentir cristão, remido, lavado pelo sacrifício de Cristo, o sacrifício que levou, antes, todas nossas dores, se o diabo poderia crescer dentro de mim a seu bel prazer me fazendo sofrer ciclicamente? Como entender essa idéia de "curado parcialmente", ou de "humanos especiais". Meu Deus virara um Deus impotente e injusto. Mas havia o consolo: "Deus sabe do sofrimento cáustico de vocês homossexuais", me diziam. "Por isso, vocês terão um galardão maior no céu". Patético!

Eu já estava junto com minha noiva acertando os preparativos para casar no ano seguinte. Sabia que não seria feliz, mas pelo menos estaria construindo meu caminho para ir pro céu. Se esse era o preço a ser pago para que Deus me desse a salvação, eu estava disposto. Mas em um retiro eu conheci um jovem metodista, também líder da juventude, ativo na igreja (não posso falar seu nome, pois ele é ainda hoje muito conhecido e ainda não se revelou à igreja). Nossas almas se cruzaram. Não conseguia parar de pensar nele. Meu mundo ruiu. Mais uma vez, meu coração estava lá me mostrando que Deus não me curou, debochando de minha fé em um deus impotente. A essa altura eu já havia procurado todos os melhores psiquiatras, psicólogos e psicanalistas. Ninguém havia lido tanto sobre sexualidade humana como eu. Foi quando minha psicanalista me sacudiu e me disse: Daniel, você tem que escolher entre sua sanidade ou entre sua auto-mutilação. Não há saída.

Aquele amor foi maior que toda minhas forças já combalidas. Contei tudo à minha noiva. Sofremos juntos, mas hoje ela é minha maior amiga. Ela é um presente de Deus pra minha vida. Comecei um relacionamento fixo com esse rapaz, mas infelizmente ele também não estava preparado para tamanha revolução em sua vida. Quase um ano depois ele me disse: "Jejuei por todos esses dias e Deus me deu uma resposta clara. Por isso estou optando por ser feliz com minha igreja e minha família e deixando minha felicidade afetiva ir embora. Não tenho dúvidas que essa é a vontade dEle" . Essa foi sua opção quando ele me deixou e noivou com uma menina de sua igreja. Seu namoro não durou nem três meses ( hoje ele está casado com um rapaz também metodista).

Quando nos separamos eu fiz algo muito insólito. Eu sempre pedia a Deus para que ele escolhesse minhas namoradas, mas dessa vez eu fui sincero à Ele e falei: "Pai, eu preciso que você escolha a pessoa pra minha vida agora." Três dias depois eu conheci meu atual companheiro. Estamos juntos até hoje. Mês que vem fazemos dois anos juntos.

Há cerca de alguns meses eu contei tudo a meus amigos, parentes e igreja (até então ninguém sabia). Muitos parentes não falam mais comigo. Tive que sair quase que fugido de minha igreja. Aquele jovem até então exemplar já não valia mais nada pra igreja. Até minha mãe foi convidada a retirar-se da igreja.

Hoje tenho visto maravilhas que Deus tem feito na minha vida e na da minha família! Depois de toda perseguição que sofremos dos cristãos (telefonemas acusadores, e-mail ameaçador etc.), nós nos tornamos uma família mais unida do que nunca. Hoje estamos em uma paz que nunca antes houvera entre nós. Até meu pai, tradicionalmente homofóbico (que não permitia nem mesmo que eu e minha noiva nos beijássemos em sua frente) hoje ele tem enorme carinho pelo meu companheiro.

Aos domingos, nós almoçamos juntos em família, eu meu companheiro, meu irmão e cunhada, meu pai e minha mãe. Deus faz maravilhas! Hoje tenho uma verdadeira igreja. Conheci a Igreja Cristã Inclusiva, filiada à MCC (Metropolitan Community Church). Hoje eu redescobri Deus. Descobri sua face verdadeira. Ele é onipotente, tudo transforma, e tudo faz para recuperar aquela ovelhinha que se perdeu de seu pasto.

Quando amei de verdade, eu descobri o alcance deslumbrante do amor! Se eu sou capaz de amar assim, imagine Deus!

Deus me fez, hoje, um cristão autêntico: feliz, próximo a Ele, radiante de sua alegria e despenseiro de graça e amor, anunciador de um evangelho que não é lei que mata, mas espírito que vivifica. Um evangelho que dá salvação em alegria, por amor a Ele; e não um evangelho que salva por autopenitência.

Espero, sinceramente, que todos possam conhecer esse Deus maravilhoso que me faz tão feliz.

Daniel Moraes
Membro da Igreja Cristã Inclusiva
Rio de Janeiro - RJ
www.icmbrasil.com.br

segunda-feira, 6 de junho de 2005

GOSPEL GLBT
Venha participar conosco do grupo de discussão formado por GLBT's cristãos e tire suas dúvidas sobre sexualidade. Você terá a oportunidade de conhecer pessoas legais de todo o Brasil, além de poder dividir suas alegrias, tristezas com quem também já sofreu os mesmos dilemas.

Aguardamos você, pois também falamos a sua língua.


Junte-se a nós!
http://www.grupos.com.br/grupos/gospelgay

domingo, 5 de junho de 2005

SE ASSUMIR?



Ultimamente tenho refletido muito sobre toda essa história de "sair ou não sair do armário". Que coisa, seria bem mais fácil se nós, homossexuais, não nascêssemos dentro de uma caixa assim, hein? Que trabalhão, depois crescer e ter de sair de dentro dele... ou não e permanecer dentro pela vida inteira, dentro dessa caixa escura, com cheiro de mofo e muito apertada!! Os dois lados têm coisas positivas e negativas... mas penso que só se afastariam de nós aqueles que nunca estiveram perto realmente, aqueles que amavam uma casca, uma aparência e não a essência da pessoa efetivamente.

Tenho passado anos trancado aqui dentro, mas sempre conseguindo olhar o mundo por uma frincha, às vezes até consigo sair, qdo não tem ninguém me olhando, e me arrisco a dar umas voltinhas pelo mundo... mas sempre muito desconfiado e um tanto preocupado. Mas preocupado com o que exatamente? Dizer que ninguém na minha família sabe que sou homossexual é um absurdo tremendo, claro que sabem, oras! Sou sim uma pessoa discreta, não gosto de chamar a atenção de ninguém e em lugar nenhum, mas isso bem mais socialmente, dentro da minha casa e da minha intimidade, oras, será que nunca me deslizei em alguma coisa? Nunca nada pra que tivessem certeza do que e quem eu realmente sou? Se esqueceram de qdo eu ainda era muito criança e, na minha inocência, sempre mencionava me "casar" com personagens masculinos?

Um dia alguém na escola chegou e me perguntou se eu era gay... nessa época eu não me policiava na minha forma de andar, falar, brincar... ouvi o que esse alguém me perguntou e quis sair correndo dali pra nunca mais voltar, senti vergonha e chorei muito, muito, muito!! Hoje consigo passar por muitos ambientes e ninguém se dar conta sobre minha sexualidade, hoje me pergunto do que senti vergonha exatamente. Será que minha família que convive comigo há tanto tempo nunca percebeu nadinha? Claro que sim, do nada tenho tido certeza disso à cada dia que passa!! Então o quê? Tudo inundado em hipocrisia mesmo, é assim que gira a relação deles pra comigo?! Pq ainda tenho que suportar ouví-los falar mal do que tenho certeza que eles sabem que sou tb? Não sou atingido pelas pedradas que eles lançam, não lanço pedras junto com eles, mas me mantenho omisso sempre, um negligente nessa minha inércia maldita!!

Mas minha vida caminha, de um jeito ou outro tem caminhado, ainda que meus passos sejam sempre em torno de mim mesmo, em torno do nada dentro desse armário apertado e escuro. Mas tenho feito isso por uma única pessoa: minha mãe! Nasci qdo ela já era meio idosa, foi educada num interior esquecido do país, viveu num mundo muito pequeno e muito sem horizontes, tenho muito medo de que aconteça algo a ela por saber oficialmente ter um filho homossexual... sempre com um discurso favorável aos gays ela sorri e é solidária à causa, mas como seria ela saber com certeza ter um filho gay? Temo, não quero carregar culpa nas minhas costas, temo um dia ser agredido e acusado pelos meus irmãos, temo que um dia ela morra e a idéia correnta seja a de que "ela se deprimiu após um certo acontecimento, nunca mais foi a mesma mulher feliz, a tristeza interior e a dor que passou a sentir no coração fê-la morrer afogada num mar de mágoa e aflição"!

Fernando Nowackz

quinta-feira, 2 de junho de 2005

Caríssimo César Marinho,

A graça do nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai, e a comunhão do Espírito Santo estejam contigo.

Fico feliz por você ter utilizado o nosso espaço democrático, como você mesmo denominou, para fazer-se ouvido por nós. De toda a forma, o espaço é para isso mesmo, e como nós o ouvimos, sentimos que devemos, também, falar, afinal, seria muito chato um diálogo sem respostas. Isso demonstraria indiferença de nossa parte, mas nós não somos assim; queremos escutar a todos e falar com todos, que queiram esse contato.

Sabe César, fico demasiadamente chateado, por saber que um dia você sofreu tanto vivendo uma vida que não te satisfazia, a ponto de você viver o "inferno"! Sabe, e é isso mesmo, o inferno todos nós vivemos, quando não nos encontramos identificados na pessoa de Jesus: em suas palavras, e na sua própria vida- que foi vida de cruz pela humanidade;partilhando-se em comida e bebida- pão e vinho- Carne e Sangue, por todos nós pecadores. Afinal, todos pecaram e destituídos de Deus se encontravam (Rm 3,23). Isso quer dizer, que heterossexuais, homossexuais, bêbados, não bêbados, viciados, não viciados, enfim, todos se encontravam nesse mesmo "inferno". Independente das obras, das ações ou do que poderiam fazer para se tornarem melhores...

Entretanto, terei que discordar quando você sugere não interpretarmos o que lemos nas Escrituras- afinal, é a própria Escritura que nos orienta a interpretar tudo, reter o que é bom e descartar o que não serve (I Ts 5,21). Isso se aplica a ele mesma. Ou seja, a própria Escritura- A Palavra de Deus deve ser interpretada e seguida conforme a iluminação e a crítica construtiva.

Em relação às drogas, ledo engano seu mesmo! Imagina, de repente, você, sem nenhum conhecimento psicológico, induz a um sujeito de temperamento melancólico a se drogar com você... isso poderia trazer conseqüências de reforço obsessivos no caráter do sujeito, e até mesmo a depressão. Afinal, a maconha, ou outras drogas, que proporcionam a abreação, em indivíduos de temperamento introspectivo, não devem ser aplicadas ou usadas, pois funcionam com efeitos opostos a abreação, aumentando o transtorno psíquico. Mas, se fosse aplicada em uma clinica de neurologia, psiquiatria, em sujeitos atormentados com os horrores da guerra, ou sobreviventes da Tsunami, sobreviventes ao 11 de setembro, enfim, traria um tratamento considerável na reconstituição da vida dessas pessoas. Eu, por exemplo, tomo duas aspirinas por dia, e todos medicamentos, como você bem sabe, são drogas, mas essas aspirinas evitam derrames, enfartes, dores musculares... por outro lado causam ulceras, gastrites etc. Portanto, antes de alguém usá-las, deve-se consultar o médico. Ainda sobre as drogas, teríamos que repensar sobre os esquizofrênicos suicidas, que precisam de altas quantidades do famoso "sossega leão" que os deixam dopados, viciados, mas os mantém vivos. Entretanto, o tipo de droga que você usava faz muito mal, não pelo uso imediato, mas pelo financiamento do narco- tráfico, dos seqüestros, da matança e, tudo em nome dos rios de dinheiro que isso manipula ou concentra. Substitui o que é humano, por aquilo que você paga e nada mais... no fim, vidas inteiras estão à beira da falência. Mas não sei se culparia somente as drogas; culparia, também, essas mesmas famílias que não souberam demonstrar amor, carinho, aprovação, fazendo com que os seus se desgarrassem e fossem procurar o PRAZER naquilo que chafurdaram toda sua caminhada- pela ausência do companheirismo: A SOLIDÃO. Portanto, realmente, ledo engano, mas não apenas seu, e nem de culpa somente sua. Não são todos que conseguem superar o caminho da existência, vivendo...

Também terei que discordar, quando você diz que o pecado só existe quando conhecemos a Deus, ledo engano seu, novamente! Independente deu conhecer a Deus ou não, deu dar conta de Deus ou não, o pecado existe e se faz presente no egoísmo, na indiferença, que destrói a humanidade, que destrói o individuo e o aliena. Já dizia um psicanalista, muito famoso, que o sujeito (eu) se complementa no outro (para além do eu). Jesus dizia: "Ama a Deus sobre tudo e todas as coisas; e ao PRÓXIMO como a ti mesmo". Portanto, independente deu conhecer a vontade de Deus, peco e me destruo e destruo tudo a minha volta, quando não consigo agir para aquilo que a humanidade foi chamada; a busca pelo outro. Aliás, o homem (Homo sapiens) jamais seria homem (Homo sapiens) sem o auxilio da comunidade, da tribo onde ele se estabeleceu... portanto, o pecado existe e destrói, na indiferença e no egoísmo. (Rm 5,12-21) Jesus nunca disse que o pecado não existia antes de conhecermos a Deus, segundo, o que Paulo disse foi: "mesmo não conhecendo pecado MORRERAM!" e sabe por quê? Porque todos pecaram... Então, enfim, não sei se devo levar isso em conta, pois sua interpretação bíblica foge muito do que ela diz. Entretanto, você se baseia na sua experiência, e a partir da sua experiência, você interpreta as Escritura e fala a nós, mas as experiências são únicas e eu tenho a minha, e na comunidade Gospel GLBT cada um tem a sua, e elas não são parâmetros para dizer o que é ou não pecado, entretanto, você se baseia na sua experiência, interpreta as Escrituras, e diz que estamos pecando, mas a partir de sua experiência, pois até mesmo os textos em que você argumenta, você os rouba o sentido. Ainda que você diga para olharmos a Bíblia, isso você faz segundo o que você acha...

E é através disso que você nos fala e nos compara aos drogados, ninguém aqui disse que as drogas são boas, ou ruins, falamos da homossexualidade, sua experiência com as drogas foi lamentável, não porque você tomou uma aspirina, ou fumou uma maconha, ou bebeu um copo de cerveja, mas pelo fato de seu dinheiro financiar o tráfico, ou dinheiro de quem você roubou, e pelo fato de você se fechar a tudo e a todos e procurar a sua realização como pessoa, fora das pessoas, mas naquilo que alimenta a solidão. Naquilo que te distancia da sociedade, antes você tivesse reunido os amigos e bebido uma cerveja e falado da vida. Não alimentaria a solidão, não roubaria de ninguém, não alimentaria o tráfico e, nem pecaria. Pois você estaria reunido com os seus e teria comunhão com eles, choraria e se alegraria na presença daqueles que brindariam a mesma situação presente. Sem esconderijos, sem ilegalidade, sem egoísmos, sem se fechar...

Contudo, se estivéssemos na Holanda, onde o uso de drogas como a maconha é liberada pelo Governo, ainda assim, não recomendaria, pelos estudos que se têm. O uso excessivo e contínuo da maconha pode comprometer a estrutura neurológica dos indivíduos; entretanto, lá não seria pecado, pois não vai contra as regras, mas seria destrutivo... talvez em indivíduos compulsivos, portanto não seria legal, pois o que destrói voluntariamente o corpo, destrói a vida. Só por isso!

Sei que Deus nos quer por inteiro; corpo, alma e espírito, não só a alma e não só o espírito. E portanto, ele quer uma sexualidade sadia, pois a sexualidade trata diretamente no corpo e na psique (grego),na anima (latim)- alma. Entretanto, você diz que não nos acusa, e aqui gostaria de falar um pouco da psicologia envolvida no seu discurso. Como você diz que não nos acusa uma vez que nos compara aos drogados? É que segundo você, essa foi a sua vida de inferno. Olha está implícito em seu discurso, para onde você está nos mandando, ou aonde você nos têm. Você nos julga, e por isso prega para nós a conversão. Jamais você poderia fazer isso, pois para tal você teria que ser o próprio Deus. Alguém só pode pregar a conversão a alguém, quando este já fez o seu juízo, e percebo que você fez o seu... mas novamente, influenciado pelo ledo engano de se achar capaz disso.

O seu juízo se estabelece na ideologia do EX: ex-marginal, ex-drogado, ex-prostituta, ex-homossexual, ex-traficante, ex-ladrão, ex- seqüestrador etc... A Igreja Evangélica está assim, repleta de ex, o que para mim é lamentável. São pessoas que, por falta de identidade especifica, que os mostre e os diga quem, realmente, são, agarram-se no passado, como propaganda daquilo que, supostamente, deixaram de ser, se punindo ao mesmo tempo nutrindo em si mesmos os velhos prazeres que não deixaram largados. Na verdade você quer um Pai, uma lei, que te puna, que te condene, e isso pelo histórico que você carrega. Na familia pela falta de atenção, pelo se sentir sem espaço, sem amor dos pais, sem apoio, sempre criticado, por se sentir imprestável, daí esse é o único sentimento de amor que você conhece; o que te julga, e o que te faz julgar... e o pior, sem ao menos nos conhecer...

E agora César, quem é você? Até então para mim você é uma pessoa que não aprendeu nada com seu passado e, que sente falta dele, por isso faz questão de lembrá-lo, logo no inicio do seu e-mail, se colocando como ex-drogado. Mas quem é você? Você não se apresentou, discursos desses dos "ex" já cansamos de ouvir, você não nos disse de você, quem é você, o César? Talvez, você não consiga se apresentar, pois nem ao certo, você sabe quem é. Afinal é difícil viver sem um passado, ou melhor, dizendo que do passado nada aprendeu, nada aproveitou, nada lhe foi útil. O que se tem então é alguém sem passado, sem identidade, sem coisas boas, sem uma face para poder dizer sobre ela. Na verdade eu nunca fui ex, e portanto posso falar de mim... e estou falando... porque mesmo no passado, ainda sem conhecer a Cristo, nunca minha vida foi baseada em algo efêmero, ou sem construção. Quando a Cristo conheci, entendi o que era ser cristão e sou, e o "inferno" de outrora, pois não reconhecia o valor dos outros, se transformou em bênçãos vindouras, pois até mesmo os meus relacionamentos, que antes eram desprezados, no passado, vieram a ser importantes, pois foram humanos... e compreendi, que na peregrinação, e no convívio com todos que estiveram a minha volta, ali, pude ver um pouco da face do Cristo partilhado pela nossa salvação. Não vivo a ideologia do ex, pois ela nos retira o rosto. Por isso, entendo que, mesmo não sendo sua intenção nos julgar você o faz, pois o juízo é tudo que lhe resta, tudo lhe cabe, e tudo que você precisa para se dizer cristão e, se punir por um amor que nunca te deram. Assim você compreende o amor... mas quem é você? Eu ainda não sei.

Agora sobre a homossexualidade, se você realmente estivesse interessado em nós, antes de nos julgar, ou de nos comparar com qualquer um ou situação, você teria feito um estudo bíblico, teria ido a um psicólogo, perguntando o que é a homossexualidade, teria querido nos observar, e até mesmo, sua abordagem seria de curiosidade. Mas você não quis nos conhecer, pois você jogou fora seu passado, você nem ao menos se apresentou, disse quem era, se você, realmente, estivesse interessado em nós, você procuraria entender nossos dramas e saber como interpretamos as Escrituras, mas você como não se conhece, não nos conhece e, portanto, você nos julgou incapazes, até mesmo, de termos nossas próprias interpretações. E ainda, nos orientou a não interpretarmos, apenas ler o que está Escrito. Sabe, você não se interessa nem por sua história nem pela nossa. Isso é lamentável, pois quem sabe o inferno ainda se faz presente em alguém que joga ao vento suas memórias, sem nada construir nelas. Daí, entendo a necessidade de você falar de si, como ex-drogado, isso te conforta( te dá um passado) e te dilacera (você se menospreza).

Portanto César, reflita também, como nós refletimos, e não deixe que nada atrapalhe o seu encontro, contigo mesmo, e com Deus, pois se não amarmos a nós mesmos, não poderemos amar a Deus e nem ao próximo.

Em relação postar no blog, isso não será possível, pois o blog é para a comunidade Gospel Gay, assuntos que se relacionam com nossa realidade. E seu e-mail não fala nem de você e nem de nós. Então fica difícil.

Fraternalmente em Cristo

Gospel Gay

terça-feira, 24 de maio de 2005

Aos comentaristas...

Dentre os comentaristas deste blog, a maioria deles nasceu ouvindo a pregação sobre o AMOR ensinada pelo ser supremo, o Cristo. E o que mais me espanta é saber que o tempo passou e "mensagem do amor" não atingiu seu potencial, assim como a ignorância continua preponderante em nosso meio, ou seja, as pessoas "cristãs" não conheceram o verdadeiro amor incondicional e inclusivo de Jesus, antes aprenderam sem nenhum esforço o comportamento farisaico, com seus tenebrosos olhares de soslaio, repúdio, nojo, desprezo... Porque será que é mais fácil julgar o comportamento do próximo a amar sem reservas, sem exigir nada em troca? É intrigante perceber que durante todo o tempo que passamos dentro da igreja não aprendemos a lidar com o amor ágape, o que diremos, pois, de um assunto polêmico como a homossexualidade que sempre foi encarada como o esgoto da sociedade e interpretada de forma descontextualizada pelos mais nobres religiosos? A melhor saída não seria fazer um estudo acurado sobre a temática antes de emitirmos uma opinião antecipada, ultrapassada, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos?

A meu ver, deixar de ser gay ou lésbica é tão fácil quanto deixar de ser hétero! Alguém se habilita? Ninguém escolhe ser hétero, assim como ninguém escolhe ser homo, isso não é apenas uma opinião, é um fato comprovado pela APA (Associação Psiquiátrica Americana - 1973), Conselho Federal de Medicina do Brasil (CFM - 1985), Conselho Federal de Psicologia (CPF), Organização Mundial de Saúde (OMS - 1993).

Os cristãos héteros sempre se acharam os melhores, os escolhidos, os herdeiros preferidos de Deus. Aos gays ficaram as sobras, os restos, os guetos, a opressão, a condenação e a marginalização. O homossexual é "abominação", é "promiscuo", é "pecador", "não" é filho de Deus!... Antes de julgar, algum hétero gostaria de sentir na pele o que um homossexual sente todos os dias gratuitamente? Quem em sã consciência ESCOLHERIA nascer na pele de um homossexual? Quem ESCOLHERIA o preconceito, a discriminação, as sobras, os sentimentos de culpa, de desprezo? É tão fácil assim ABANDONAR o "pecado" da homossexualidade e se "transformar" num hétero? Felizmente só acreditarei nesta possibilidade no dia em que um hétero provar que é tão fácil "deixar" de ser hétero e se "transformar" num homo.

Falta à igreja do século XXI vontade de encarar a homossexualidade como um assunto que ultrapassa as lentes do preconceito e alcança o amor infinito de Jesus. Infelizmente o assunto ainda é tratado tal como em Levítico 18:22, e esse é um grande erro, afinal, a interpretação literal da Bíblia não mais advoga temas polêmicos como a escravidão (Efésios 6:5-9; Colossenses 3:22-4:1; 1 Tim. 6:1-2; Pedro 2:18); Os pregadores de hoje não mais encorajam as pessoas a furar-lhes os olhos ou cortar-lhes as mãos, muito embora as palavras literais de Jesus sugiram este remédio para a tentação (Mt. 5:22-30); Estes pregadores geralmente admitem o divórcio, embora os ensinamentos de Jesus, tomados literalmente, o condenem (Mateus 5:32; Marcos 10:1-2; Lucas 16:18). Eles permitem que as mulheres ensinem nas igrejas (1 Timóteo 2:11-14), usem roupas claras e jóias (1 Timóteo 2:9-10; 1 Coríntios 11:1-16), embora a Bíblia o proíba de maneira clara. A abordagem literal é praticamente forçada a ser seletiva em sua aplicação dos ensinamentos bíblicos para evitar algumas situações aceitáveis. É por isso que, sem mudar as regras no meio do jogo, a abordagem literal não pode utilizar a Bíblia para responder às questões mais prementes de nossos dias.

Não podemos fechar nossos olhos para a realidade, usando as escrituras de maneira literal para justificar nossos preconceitos. Se assim fosse, a Bíblia literal deveria continuar sendo usada para justificar a segregação racial, a opressão sexista das mulheres, a negação do divórcio, entre outras coisas ridículas que o tempo se encarregou de acertar...

O que me deixa maravilhado é saber que Jesus veio ao mundo para nos mostrar um caminho a ser seguido. Ele fez alguns acertos e nos deixou um modelo a ser seguido. E o mais interessante é que Ele poderia ter feito vários comentários sobre o tema, no entanto, a menção que Ele fez sobre o pecado de Sodoma e Gomorra foi a rejeição dos mensageiros de Deus (Mt. 10:5-15). O paralelo entre o Evangelho e Sodoma é o coração fechado que rejeita o estrangeiro, a maldade daqueles que não dão boas-vindas aos arautos divinos (Ez. 16: 48-49).

O maior pecado da igreja é rejeitar, através do preconceito, aqueles por quem Jesus derramou cada gota de sangue. A igreja precisa concientizar-se de que não pode afirmar ser o Corpo de Cristo, se deixar de aceitar todos aqueles que seriam bem-vindos pelo Cristo.

O que mais me envergonha é saber que as igrejas cristãs, em sua totalidade contribuem de modo preponderante para que o ódio aos homossexuais continue em sua pauta, basta lermos as mensagens postadas aqui para comprovarmos o óbvio. A Bíblia supostamente, através de uma leitura descontextualizada, condena a homossexualidade e algumas pessoas interpretam isso como que a Bíblia justifique o ódio e crueldade contra gays e lésbicas, judeus, mulçumanos, negros, mulheres...

O assunto homossexualidade é demasiado complexo para ser tratado apenas com citações bíblicas e visão superficial. É preciso considerar também os fatos históricos, culturais, filosóficos, psicológicos, sociológicos, médicos, espirituais e pessoais.

por Wallace Ximenes

"Deixemos, pois, de nos julgar uns aos outros; antes cuidai em não por um tropeço diante de vosso irmão ou dar-lhe ocasião de queda. Sei, estou convencido no Senhor Jesus, de que nenhuma coisa é impura em si mesma; somente o é para quem a considera impura" Romanos, 14:13-14.

terça-feira, 17 de maio de 2005

A INTERVENÇÃO NA IGREJA BATISTA DE GOIÁS



Na mesa de um bar na Avenida Olegário Maciel, em Belo Horizonte, discutíamos o acontecimento de Goiás. Alguns contra a decisão da justiça de intervir nos assuntos internos de uma igreja; no caso, a 1ª Igreja Batista de Goiás. Eu, como sempre, adorando a decisão.


Não sou anticrente, não sou anti-Evangélico ou qualquer coisa segundo esse conceito. Entretanto, não posso ignorar a arrogância como estes vêm se colocando diante a sociedade. Opinam sobre tudo e todas as coisas, votam em candidatos próprios, segundo interesses particulares; basta lembrarmos dos Garotinhos (Anthony e Rosinha) no Rio de Janeiro, que se elegeram respectivamente, usando da propaganda ideológica do ser crente, evangélico ou cristão. Querem participar de todo o bolo e estão por toda a festa, mas não querem ser importunados! A forma de inserção do movimento Evangélico no Brasil é algo semelhante à ditadura... eles impõem seus conceitos, exigem dos outros, mas não gostam e, não admitem o questionamento da mesma sociedade na qual postulam suas reivindicações.


O ocorrido na Igreja Batista foi algo singular... bom para lembrar aos Evangélicos que nenhuma denominação religiosa, seja ela de qual credo for, está acima da constituição, ou das leis e das responsabilidades da vida em sociedade. E que, cada dia mais a sociedade brasileira vem aprendendo a viver a cidadania; seus deveres, seus direitos garantidos pelo Estado democrático de direito. E aqui o gostinho de ver a contradição dos Evangélicos, que querem eleger seus pastores aos cargos do Executivo, Legislativo e Judiciário, mas quando um dos três poderes resolvem a fazer o direito dos cidadãos valer, seja em que instancia for, e sendo contra os interesses da fé deles (da igreja em questão), logo não demora para escutarmos que o ESTADO DEVE SER LAICO!!!!!


Devemos ter esses fatos como são; a verdadeira face dos Evangélicos, que se arrastam pela hipocrisia do grito do laicismo, quando seus interesses são contrariados pelos mecanismos reguladores da sociedade. Mas que não querem saber de Estado Laico, quando a tv vincula uma propaganda do Governo Federal, onde uma família aceita a homossexualidade de seu filho como ela é: NATURAL, NORMAL. Ainda, quando fazem campanha em massa para elegerem os nomes de possíveis representantes aos cargos públicos, onde em mente nunca está o povo, a população, mas apenas aquela Igreja, denominação com seus interesses escusos camuflados no discurso da salvação.

Por: Renato Hoffmann

quinta-feira, 5 de maio de 2005

ICET - Igreja Cristã Evangelho para Todos


Prezados irmãos e irmãs em Cristo!

Que a Paz esteja convosco!

Pela graça de Deus, iniciamos o ano de 2005 com mais uma grande vitória: o nascimento de uma nova comunidade cristã voltada ao segmento GLBT, onde convidamos a todos que venham louvar a Deus entre irmãos.

Sabemos da necessidade espiritual pela qual passam nossos irmãos, muitas vezes padecendo com a solidão, dúvidas e angústias...Por esse motivo, nosso objetivo principal é promover o reavivamento espiritual de cristãos que não se sentem amparados pelas igrejas e doutrinas existentes.

Não somos uma igreja gay, mas sim uma comunidade onde a raça, a cor, a religião e a orientação sexual não interferem num ato maior, que é o louvor a Deus. A maior lição que podemos ensinar e aprender é aquela deixada pelo Mestre: o Amor!

Convidamos você e seus amigos a celebrarem um culto conosco. TODOS serão sempre bem vindos!

Mais informações podem ser obtidas no email:
icet@uol.com.br

Que a Paz e a Verdade estejam sempre em vossos corações.

ICET - Igreja Cristã Evangelho para Todos
Reuniões: domingos - 19 horas.
Al. Br. de Limeira, 145 - 1o. andar - Centro - SP
Abençoando a diversidade!
ICET@UOL.COM.BR

domingo, 17 de abril de 2005

O INFERNO

Uma vez escutei um argumento que dizia, que como cristãos, deveríamos ter por excelência a crença no inferno como um lugar do castigo divino e, nas várias tentativas de se provar a premissa se encontrava o respaldo escrituristico. A principio, tudo muito óbvio, condizente com um maniqueísmo ocidental; nas divisões do que é bom, belo; contra o que é mau e tenebroso.

A questão é muito sutil, e também muito perigosa, principalmente, quando encaramos o símbolo inferno, com suas significações e seus significantes dentro da cultura cristã. Primeiramente, os aspectos populares são, em demasia, distorções apelativas de crendices e superstições, alimentando o imaginário coletivo com o medo (forma de castração e submissão da vontade), e com o ódio (aspectos vingativos e individualistas, infantis, da vontade mal trabalhada). Na questão do medo, a presença de uma crença do inferno como tal é imprescindível, principalmente para o culto religioso em si. O sagrado não sobrevive sem o profano; a religião perde o sentido sem o seu inimigo externo, porém comum. É impossível assegurar a vontade submissa de uma multidão de fiéis, sem os aspectos punitivos daqueles que se encontram na contra-mão da ideologia, podendo destruir a ação manipuladora dos lideres religiosos. Nesse momento, é o inferno que interage com a culpa e o medo, assegurando o cumprimento da realização das atitudes dos crentes, dentro daquilo que se é proposto e programado. Na questão pessoal, o inferno sempre funciona como a arma dos covardes, alimenta sentimentos que colocam a humanidade em retrocesso, não permite o crescimento existencial do individuo em si, por acorrentá-lo em sua própria pequenez. Na maioria das vezes, quando se tem ódio de uma pessoa, o primeiro lugar que se deseja o estado dessa mesma é no inferno! O inferno se transforma na vontade sombria, e destrutiva do homem, conduzindo uma mentalidade infantil e mística; lugar onde sempre serve para a habitação infeliz dos outros, mas nunca do sujeito que o conjura aos demais.

Segundo, são os aspectos estéticos da própria teologia, que também se apresentam com sutileza, entretanto não significa que tal sutileza estética deva, por um simples momento harmônico, conduzir toda uma interpretação mitológica, fantástica e sensacionalista como realidade escatológica. Desde a crença do Deus como sumo bem, a dicotomia entre o que é mal e tenebroso teve que ganhar espaço para harmonizar o sistema. Deus como aquele que está no controle de todas as coisas, não poderia admitir, nessa construção, uma interpretação fatalística como obra do acaso. Entretanto, o mal não poderia ser praticado por aquele que só é o bem; nisso o sistema teve que harmonizar o porquê do mal, e de sua manifestação e o seu fim, uma vez que somente Deus é eterno, jamais, o mal poderia coexistir com o que é o Sumo Bem; ele teria que ter o seu cessar. E, o seu cessar é o próprio inferno em si, que nessa teologia, seria o lugar onde não se encontra a presença do Deus; no inferno estaria (ou seria) a total ausência do bem, o lugar onde Deus não está. Obviamente, que tal interpretação é mais poética do que teológica em si mesma. Além de negar aspectos do próprio Deus e seus atributos; uma vez em que, se acredita na onipresença como aspecto constitutivo da divindade- Deus Criador- tal ausência do Deus como realização do inferno é contra-senso. Deus como ser onipresente é aquele que se encontra no mais alto céus, como no mais profundo dos abismos (Gn 1,2. Sl 107. 135,6. 148). O próprio credo cristão traz a afirmação do Cristo como aquele que desceu ao inferno, à mansão dos mortos, aferindo, assim, sinais de sua presença, senhorio e poder. No mais, tudo aquilo que existe, existe no Deus, ele não é apenas o criador por excelência de todas as coisas, como é o sustentador de tudo o que existe (Jo 1, 1-3), nesse aspecto é incompreensível à existência do inferno como uma categoria à parte; isso seria a possibilidade de existir algo fora do próprio Deus, igualando- se, assim, a possibilidade de uma potência criadora como o Deus, ou mais um Deus, auto-suficiente em si mesmo.

A crença no inferno, nem sempre foi a crença em um lugar de castigo, juízo, punição e lamentação. No Antigo Testamento, o inferno se apresenta como um lugar dos mortos. Não havia distinção dos mortos, tanto os maus como os bons se encontravam na mesma condição, ou seja, habitantes do Xeol, do inferno. A idéia é que a morte constitui o fim de tudo; não há lembranças de nada; não há louvores a Javé (Is 35,15. Sl 6,5); não há obras, nem pensamentos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma (Ez 9,10). Constitui, assim, o fim de tudo, donde ninguém volta (Sl 55,16. 89,49. Jó 7,9), para onde vão todos os seres humanos e animais, quando morrem. Mais tarde, a idéia do Deus como senhor do Xeol surge, e o próprio Deus poderia retirar um morto de lá. No advento da teologia da retribuição, a idéia do Xeol ganhou um novo sentido, passando a existir dentro dele uma região mais profunda, onde ficam os maus: geena, palavra grega, derivada do aramaico, que significa vale dos filhos de Hinom. Um ponto limítrofe entre Judá e Benjamim, que, nos últimos livros do Antigo Testamento é amaldiçoado por ser lugar onde eram oferecidos sacrifícios humanos (Jr 7,31. 19,2. II Rs 23,10. II Cr 28,3). Por causa desse culto, Jeremias amaldiçoou o local e, preveniu que seria um lugar de morte, de corrupção e destruição (Jr 7,32. 19,6). Desde então, geena passou a ter um conceito de lugar de punição após a morte.

Já no livro de Daniel 12,2, o Xeol traz sua interpretação apocalíptica, bem provável que tal livro tenha data recente (III-II séculos a.C), não é de se estranhar o desenvolvimento do juízo como castigo aos maus. Também em Isaias o Xeol ganha o conceito do lugar de sofrimento eterno (Is 66,24). Esses elementos serão usados no Novo Testamento na pregação de Jesus. Como homem de seu tempo, Jesus usou os conceitos de sua época para falar aos seus. A marca apocalíptica desde os Macabeus trouxe austeridade na teologia judaica, transformando todo o escaton em uma trama de conflitos, que em seu paradoxo, mostra um breve triunfo do mal, mas assegura a perseverança e esperança na reviravolta na história em favor do povo sofrido, que é movido pelo poder do Deus. Marcada por tal apocalíptica judaica, a pregação do Cristo reflete tais concepções: urgência de conversão; imediatismo da irrupção do Deus na história como juiz e iminência do fim. A partir da apocalíptica judaica o Inferno ou Xeol é o lugar do sofrimento eterno para os ímpios e pecadores; lugar da justiça e manifestação da ira divina.

A sutileza conceitual permeia uma concepção errada da justiça. Ainda, nos aspectos teológicos, o homem é corruptível, injusto, maculado, imperfeito. Sendo assim, por mais que se queira arrazoar sobre os aspectos da justiça, só podemos falar nos aspectos dessa justiça realizada, sendo a vindoura um total eclipse de hipóteses. Dentro da justiça realizada temos o Cristo; aquele que faz a denúncia na cruz pelos excluídos. O mesmo Cristo que se solidariza com a humanidade, nela se revela e, nela traz a redenção por meio de sua graça, que se estende a todos. Portanto, ainda que o inferno seja uma possibilidade, nos textos apocalípticos, ele apenas comunica o desejo de uma justiça pessoal, maculada, corrompida, injusta e transgredida. Por mais que seja a esperança dos que sofrem a perseguição, sendo a possibilidade de se ver o findar de todo o mal, isso tudo, carrega, também, os aspectos da vingança, do desejo da autojustiça. Enfim, o mal se finda, e aqueles que o praticaram, dentro dos conceitos falhos, de um código moral pessoal e relativo, continuarão sofrendo o mal, ardendo eternamente no fogo, sofrendo eternamente as dores de uma justiça desejada mais por vingança, do que por esperança, mais por destruição, do que por aquilo que rejeitaram, mais por carnificina, do que pela própria justiça.

Ao falar de inferno, com certeza, deveríamos tomar por base a justiça que se realiza. São nas bem-aventuranças, que o Cristo proclama que aqueles que têm fome e sede de justiça serão saciados, pois esses que têm a fome e a sede de justiça, são os mesmos pobres de espírito que, anseiam à necessidade do Deus e no seu reino, os valores que podem vigorar, surgindo uma nova sociedade. Não se vê, aqui, um caráter destrutivo, com vingança e ira, mas conversão. Entretanto, àqueles que rejeitam tais possibilidades de conversão, já possuem, também, a recompensa em seus próprios corpos (Mt 6,1-3). Ou seja, já vivem o inferno, aqui, não o inferno criado como lugar de vingança, de punição e de castigo, ou lugar de ausência do Deus e de sua graça, mas o inferno de si mesmo, da alienação existencial, da pequenez humana, e da autodestruição, a aniquilação, que não é um castigo, mas a escolha daqueles que optam por não permanecerem na vida, por não se ligarem, novamente, ao fim último de todas as coisas; o Ser em si; o Infinito, o Totalmente Outro, ou simplesmente, Deus. O inferno não existe, nem precisa existir, essa é uma categoria humana, que expressa o sentimento sombrio da vingança e, que é contrário ao sentimento do Cristo, que até mesmo na cruz, quando se fez solidário: o grito dos excluídos, perdoou aqueles que o ofenderam, pois ele já sabia, que eles possuíam, já, as suas recompensas. Diferente daqueles que abraçaram a graça, e se realizarão na plenitude do que há de vir.

Por: Renato Hoffmann

domingo, 10 de abril de 2005

AOS QUE ESCREVEM NO MURAL



Quando lançamos o bolg da lista de discussão GOSPEL GLBT, eu fui um dos que se posicionaram por não responder as opiniões expressas no Mural de Recados. Isso, pelo motivo de uma provocação que recebíamos em relação à nossa salvação e, que deixou alguns na lista com o gostinho da resposta.

Na ocasião pensei, e continuo pensando, que o mural de recados é para a livre opinião; e todos têm o direito de opinar, concordando ou não. A opinião não tem que ser cientifica, brilhante, poética ou qualquer coisa semelhante. Entretanto, ela pode ser fundamentada, verdadeira; ao contrário, ela pode ser estúpida, imbecil, cheia de eu acho e agressiva. Como se trata de EVANGÉLICOS lendo o blog, nunca me entusiasmei com a esperança de ter alguma coisa bem fundamentada. Aliás, basta um olhar despretensioso para o fundamento dos Evangélicos, que compreendemos tamanha pequenez de raciocínio, espiritualidade e formação humana da parte deles. Por isso, quando leio as mensagens no Mural não me surpreendo, nem tenho sentimentos de estranheza. O óbvio já era previsto!

Contudo, é lamentável o posicionamento de alguns, não em relação a nós membros da Lista GOSPEL GLBT, e nem em relação aos homossexuais em geral. Mas, é lamentável, o posicionamento destes indivíduos, em relação a si mesmos. Caóticos, cheios de ódio, afrontas, destruição, punição etc. Em momento algum estão atacando a nós; os gays, mas atacam apenas aquilo que são! O rancor das acusações, o ódio disparado, só apontam uma formação reativa de algo que querem eliminar de si próprios. Pensam que nos ofendem, e que nos eliminam por nos expurgar com palavras indelicadas, cheias de afrontas e ofensas. Mas, apenas se iludem em um momento mínimo de satisfação, por retraírem um desejo que não querem admitir, mas que lá no íntimo sabem que existe e que logo se fará sentir novamente. A decrepitude não está em nós, de forma alguma, mas está na forma mínima desses sujeitos encararem suas próprias realidades. Aliás, não encaram; preferem fugir, xingar, ofender, disfarçar, assim, os seus próprios dilemas. Por tudo isso, se tornam dignos de nossos lamentos...

Que o Deus, Pai e Mãe de amor, através do Cristo que nos dá a graça, encha vossos corações do consolo e da paz do Espírito Santo.

Renato Hoffmann