quarta-feira, 1 de dezembro de 2004

Fundador do MOSES reconhece farsa dos programas de "cura"


Um dos fundadores do mais conhecido grupo evangélico que prega a "cura" dos homossexuais acaba de confirmar a farsa deste tipo de iniciaitiva. Sergio Viula, em entrevista à revista Época, finalmente se assume como gay e reconhece a mentira envolta no MOSES (Movimento pela Sexualidade Sadia).

Viula mostrou como funciona o tratamento do MOSES: "O discurso do Moses é homofóbico e cruel: ''Jesus te ama, nós também, mas você precisa deixar de ser gay''. O homossexual continua sentindo desejo, mas com um pé no prazer e o outro na dor, com sentimento de culpa, medo, auto-rejeição. Criávamos uma paranóia na cabeça deles".

O ex-integrante do MOSES falou também sobre a hipocrisia dentro do próprio grupo: "A gota d'água foi quando um rapaz soropositivo, que chegou a ser da diretoria do Moses, morreu. Ele havia se envolvido sexualmente com dois integrantes do grupo. Um deles estava tão apaixonado que chorou mais que a viúva no enterro. Comecei a pensar que o grupo não funcionava nem para os que estavam dentro dele".

Sobre sua própria homossexualidade: "Sou o melhor exemplo de que não existe ''cura'' da homossexualidade. Sabia que era gay desde os 16 anos. As pessoas que dizem que mudaram, na verdade, continuam sentindo desejo. Um padre que é celibatário e heterossexual não deixa de ser heterossexual porque é celibatário. Um homossexual que não transa porque quer renunciar a isso pela fé é gay. Só não está em atividade".

Viula, na entrevista, passa, de um dos fomentadores do ódio aos gays quando ajudou a fundar o MOSES, a quase um ativista gay. E aproveitou para criticar o projeto de lei do deputado estadual Édino Fonseca (PSC) que prevê o custeio de tratamento psicológico para pessoas interessadas em ''virar heterossexuais''. O texto, condenado por psicólogos e psiquiatras, já passou por três comissões na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro e pode ser aprovado até o fim do mês: "O deputado Édino Fonseca é notadamente desequilibrado. Disse na Assembléia de Deus que os gays desejam fazer clonagem para criar um exército e dominar a sociedade. Há muitas pessoas desinformadas nos templos e, para elas, o gay é inimigo em potencial", diz ele.

Resta saber como Viula pretende reparar o mal que ajudou a fazer aos homossexuais durante todo este tempo.

terça-feira, 30 de novembro de 2004

SENHORA DO DESTINO

Para quem não viu a cena do casal de lésbicas da novela Senhora do Destino, estou enviando um link para que você possa acompanhar na íntegra a gravação e ver mais um passo que a televisão brasileira está consquistando ao mostrar em horário nobre um relacionamento com pares do mesmo sexo.

Mas... infelizmente tenho de comentar que algumas partes desta cena foram cortadas. Na cena que foi ao ar na sexta-feira (26/11), não teve beijo e as duas não tomaram banho juntas..... Será o porque?

Bom, mas acredito que a forma "natural" como vem sido tratada a questão da homossexualidade feminina, tem sido, de certa forma, importante para a quebra de preconceito que existe entre as massas. Pena que o autor Aguinaldo Silva esteja caminhando a passos de tartaruga na abordagem desta temática, avançar mais na cena de personagens gays e mostrar um beijo de verdade (de língua) entre o casal de lésbicas Jenifer e Eleonora, é um desejo de todos nós.

Bjs!
Wallace
http://www.e-jovem.com/lesbos_destino.wmv

quinta-feira, 25 de novembro de 2004

DIALOGANDO

William,



Você se expressou muito bem em suas colocações, em tudo. Ao passo que venho garantindo, que também, penso como você estas questões. Entretanto, à prática cotidiana é mais complicada do que se apresenta, bem mais! Os fatores históricos e sociais, e, até mesmo, psicológicos são envolvidos em um teatro, representativo, de um show de horrores. E é por isso, que temos a necessidade de uma linha condutora que seja nossa. É por isso, que a teologia gay necessita, urgentemente, de um paradigma construído a partir de sua realidade, não contrário ao seu sitz im leben, mas que venha santificá-lo como nossa expressão.


Nesse diálogo, que faço com você, com muito gosto e respeito, gostaria de entrar um pouquinho na realidade Evangélica do Brasil. Veja, você advoga sobre o espírito livre, a busca da aceitação comum: a multiculturalidade convivendo no espaço criativo comum, o respeito entre o humano, do sujeito em si nas humanidades. E concordo com isso, mas a experiência que tenho no meio gay e cristão, não me permite o desvencilhar de uma postura de grupo, ou de cultura, ou ainda (e essa é a que explica, ou se enquadra melhor) de movimento organizado em prol de seus direitos e deveres sociais e humanitários. Para isso temos que ter um paradigma, não para sermos etnocêntricos, não para converter o mundo à cultura gay, não para difundirmos uma nova ideologia dominante, não! Simplesmente, para nos orientar e, assim, não nos perdermos em nossa própria luta, em nossa própria causa. O meio Evangélico importa no Brasil uma teologia européia dos séculos XVI- XVIII, e Norte- Americana a partir do séc XIX, que fazem um verdadeiro massacre psíquico ao sujeito constituído, principalmente, se esse sujeito constituído for homossexual.


O arquétipo moral foi basilar na construção religiosa do ideal burguês nesses séculos. O Iluminismo do século XVIII conferia um ideal ordenado de um mundo racional, caminhando para perfeição, ainda que renegassem o status quo religioso (Igreja Medieval), e formas de governos absolutistas, conferiam a idéia da civilização; e ser civilizado era aderir a uma série de normas moralizantes, mesmo que não necessariamente religiosas, mas constituídos em valores de bons costumes, que renegavam tudo aquilo que se assemelhava com o caos, desordem, anarquia, ou que, não aferissem proximidade com esse mundo civilizado. Afinal, os iluministas eram burgueses! Logo, já na modernidade surgem 2 grupos religiosos, mas não distintos com facilidade: Pietistas (Alemanha) e puritanos (Inglaterra). Que traziam essa moral em seu discurso religioso, e que portanto, traziam muitos burgueses pensadores para o seio do protestantismo com seus padrões de condutas elevados. Junto do Iluminismo, tem-se na Inglaterra a Revolução Industrial, que em meio a uma série de idéias, aparentemente, anticlerigais, na Revolução Industrial, coloca em evidência duas classes religiosas, que vão colonizar os EUA: os puritanos (presbiterianos) e os pietistas ingleses (metodistas).
Interessante, que em pleno Iluminismo, a religião puritana, constituída pela burguesia inglesa converte a Inglaterra, e os ideais burgueses são colocados dentro da religião de forma radical e definitiva, o discurso moralizante se apresenta como fator fundamental nessa história. A religião vinga, chega até nós, e o ideal das luzes não dura mais do que o século XVIII, quando no século XIX, a racionalidade começa ser criticada pelo romantismo e subjetivismo.


E nós, aonde nos encaixamos? É simples, dentro do discurso moralizante, puritano, herdado do colonialismo, ops! Das missões das igrejas evangélicas norte-americanas. Essa ideologia, que vem de séculos atrás, está infiltrada como o PRINCIPAL discurso de evangelização no Brasil. E isso, no meio gay evangélico tem gerado segregação. Os fatores são diversos: a maioria dos homossexuais evangélicos pertence à classe média; são na maioria das ocorrências não assumidos, pertencem ao meio social de comportamento de gênero, dependentes dos familiares, possuem idéias etnocêntricos, etc. Fato esse, perceptível em nossas listas de discussões; onde um rapaz faz um anuncio de relacionamento (procura-se namorado) e, imediatamente, é persuadido ao constrangimento, por um outro gay evangélico, que considera tal atitude simples, corriqueira, natural como: mundana, anti-religiosa, pervertida, fora de propósito etc... Os valores seguidos na teologia gay, são valores reacionários, que renegam os nosso modo de vida a todo o instante, mas que estão como paradigma na sua construção.


Então, quando falo em axioma para nosso caminhar religioso, venho falando não para atribuição de mais rótulos, ou para formação de uma nova casta religiosa, não. O problema é que se alguns forem caminhar dentro do que sentem, eles irão caminhar dentro de uma ideologia que vai continuar a massacrá-los, pois na verdade é isso que acontece; todos nós seguimos os nossos valores, e qual é o valor gospel gay? Infelizmente, o mesmo valor dos religiosos colonizados, ops! Evangelizados pelas igrejas de missões. Não temos um paradigma, a crítica feita a muitos evangélicos homossexuais, por outros também homossexuais é idêntica ao discurso das igrejas homofóbicas: a parada gay é carnaval (portanto pecado), se anunciar disponível em uma lista de discussão é ter comportamento mundano, transar com mais de uma pessoa sem compromisso é promiscuidade! Mas e os nossos valores? O que dizer então das travestis? Dos garotos de programa? Das idas às boates? Dos go go boys? Enfim, eu não acho nada disso pecado, e muitos que dizem ser pecado, estão pecando, pois estão enfiados até o pescoço nesses tipos de programas. Entretanto, continuam minando a possibilidade de uma reflexão nossa, que venha nos unir em torno de um mesmo ideal: a construção de um mundo onde não somos julgados pelo fato de estarmos levando à cama parceiros do mesmo sexo. Mas julgados pelo nosso caráter e responsabilidade pelo bem comum.


Nesse sentido, sua mensagem foi muito elucidativa, pois nos abriu o espaço para comentarmos sobre a ideologia - ninguém vive sem uma. Entretanto, podemos criar uma sem iniqüidade, não há problemas com os ideais, desde que esses enxerguem o bem comum, a multiculturalidade e os valores humanitários. Contudo, o que não existe em nossa teologia são tais princípios, afinal, ela está permeada, invadida pela hipocrisia moralista, puritana, burguesa dos ingleses, dos norte-americanos; esses mesmos que votaram em Bush, dando um credenciamento, ao mesmo, em sua política antigay, antiaborto, antiprostitutas etc. Portanto, esse espaço que você deseja, e que brilhantemente você expõe como desabafo em seu texto, tem que ser criado, tem que ser experimentado em nosso espaço e valorizado nele, como algo legítimo, santo e que nos represente.
Pois tudo isso não vai cair do céu como presente de Deus, a hipocrisia social diz que nós somos gueto, subcultura, marginalizados, vagabundos, promíscuos, sem- caráter. Ainda, alguns alimentam por nós o ódio injustificado, trazido dos manuais de castidade e vida santa da perfeita sociedade burguesa dos séculos XVII- XIX.


Para concluir, um leitor, nos comments, indagou se tudo isso não corre o risco de ser mais um dogma. Penso que não; o dogma tem a ver com a religião, e religião nós temos. Acredito mais na possibilidade de desmistificação do mal, e de sentimentos de auto- estima, também, sentimentos de identidade, civismo e democracia. O respeito pelo humano tem que ser considerado em nossa teologia, uma pessoa não é melhor ou pior do que ninguém, pelo fato de ser gay, ou de ter vários parceiros. Mas uma pessoa é pior do que as outras, quando se forja na hipocrisia uma identidade que ela não possui, atribuindo grilhões aos outros, enquanto ela mesma se faz presa em suas próprias crises.


sábado, 20 de novembro de 2004

Renato,

Transcorrendo os olhos em suas colocações a cerca de um axioma, muito refleti e identifiquei como seus, também, particularidades que considerava só minhas: liberdade e punição de Deus não devem ser associadas a julgos de conduta balizados pela Bíblia (palavra Dele que foi por falhos homens transcrita).

Julgar, balizar, criticar, sempre foi inerente ao ser humano (e nisto, estamos nós: os gays), principalmente no que concebemos como "diferente" à nossa concepção de individualidade. No contexto em que me encontro (namoro um gay evangélico) muito aprendi (minha formação religiosa nunca foi em templos, mas sim com Ele diretamente) e tanto mais me indignei, visto que em todo meio, seja ele inclusivo ou não, a segregação pela diferença, gera a esfera sub da marginalidade que nos impõem os que se consideram "normais".

Existe segmentação onde deveria existir consenso. Todos independente do caminho percorrido até aqui, queremos direitos (não necessariamente aceitação, pois esta é subjetiva e não deve ser imposta) para contraprestar aos deveres que nos são inerentes como `cidadãos`. Por que então aferir as formas de busca deste fato? Não possuo conhecimento das escrituras, porém sei que Deus me ama da forma que sou: homoafetivo.

Ser promíscuo ou conservador é apenas um dogma introjetado pela sociedade (nesta incluem-se heteros, homos, bis....enfim, todos). Não deveríamos ser enquadrados em uma ou outra rotulação, pois o primordial seria vivermos consonantes com o que sentimos. Isto deveria ser o necessário a todos.

Por favor, não veja meu desabafar como uma forma de refutar pensamentos ou colocações, mas sim como um meio de externar algo há muito guardado. Corro também o risco de incorrer em intromissão, porém saiba que ao colocar nestas linhas meu pensar, o fiz na certeza de ser consonante com meu existir e na perspectiva de ser visto como um indivíduo subjetivo e com falhas, pois como tantos, busco apenas caminhar.

Enfim, fácil é falar do que não nos é familiar, próximo, aceito, porém todos temos nossas omissões. Nisto sim deveríamos empregar nossa energia e vitalidade, para que com o templo interior sanado, pudéssemos em conjunto buscar esta condição coletiva tão em voga (união civil para GLBT`s). Acredito que desta forma poderemos entender melhor a heterogeneidade e a subjetividade que está em cada indivíduo sem o estigma mínimo da SEXUALIDADE.

William Castro
por Maria Berenice Dias

A candidatura da deputada estadual Maria Eulina à prefeitura de Vizeu (PA), foi derrubada porque sua companheira, Astride Cunha está no cargo há dois mandatos. O Tribunal Superior Eleitoral decidiu que, assim como no casamento heterossexual, nas relações homossexuais há forte laço afetivo, capaz de unir pessoas em torno de interesses políticos comuns. Portanto, os sujeitos de uma relação homossexual devem se submeter à regra de inelegibilidade prevista na Constituição Federal. Mais uma obrigação! E como ficam os nossos direitos? Leia a seguir opinião da Desembargadora Maria Berenice:

Sim, uniões homossexuais existem! Essa afirmativa vem sendo repetida com tanta freqüência pela justiça gaúcha, que já nem merece espaço nos meios de comunicação. De forma pioneira o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul identifica as uniões entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar e lhes garante tutela jurídica. Às parcerias homossexuais se aplicam as regras do Direito de Família. Na ausência de lei que as regulamente, invoca-se a legislação que rege a união estável. Com isso os parceiros passaram a ter uma gama de direitos só assegurados à família: direitos previdenciários, à meação bem como direito à herança.

Em outros Estados surgem decisões esparsas nesse sentido. Mas a forma encontrada para solver conflitos envolvendo uniões homossexuais - inclusive pelo Superior Tribunal de Justiça - é identificá-las como sociedade de fato. Com isso, além de ser negada a existência da afetividade na origem da relação, também se afasta seu caráter familiar. Tratada a união como sociedade comercial com fins lucrativos, os parceiros são considerados como se fossem sócios e, na dissolução da tal sociedade, tudo termina em mera divisão de lucros, assim considerados os bens amealhados durante o convívio, devendo cada sócio provar o quanto contribuiu para a formação do acervo social. Agora o Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, acaba de aplicar à união estável homossexual a inelegibilidade consagrada no art. 14, § 7°, da Constituição Federal. Aí se proíbe aos cônjuges de Presidente da República, Governadores e Prefeitos concorrerem nas eleições ao mesmo cargo. Necessário, o afastamento do titular até seis meses antes do pleito.

O fundamento dessa vedação é salutar: não perpetuar no poder um mesmo grupo familiar, evitar a constituição de oligarquias que dão ensejo ao que se chama continuísmo.

Com essa preocupação, a jurisprudência passou a reconhecer que não só o casamento, mas também o concubinato e a união estável, em face da presença de forte vínculo afetivo, impõem a mesma limitação.
No momento em que a justiça decide que as uniões - que passaram a ser chamadas homoafetivas - repercutem na esfera eleitoral, a ponto de gerar a presunção de que pode haver interesses políticos comuns, não há como deixar de reconhecer que essas relações são entidade familiar.

Assim, essa decisão inédita, partindo do Tribunal que tem o dever de interpretar a Constituição, é dotada de grande significado.

É importante passo na luta pela cidadania. Deu inegável visibilidade a um segmento que, por puro preconceito, é alvo de discriminação e de severa exclusão social.

Jamais se viverá em um pleno Estado Democrático de Direito, cuja preocupação maior é o respeito à dignidade humana, caso se excluam da proteção jurídica os que se afastam do modelo tido como normal para fazerem uso do direito humano à felicidade.

Ainda que não tenha sido reconhecido o direito da parte de concorrer na eleição, o ganho social foi grande, pois a relação homossexual foi aceita como entidade familiar que, como as demais, merece a especial proteção do Estado.

Uma conclusão tornou-se inevitável: se o Judiciário aceitou assim a relação estável homossexual, impondo ônus a seus sujeitos, deve também assegurar-lhes os bônus a que fazem jus. Mera questão de justiça.

terça-feira, 12 de outubro de 2004

Minha adolescência foi marcada pelos livros e, me apaixonei por eles, pelas histórias e estórias que vivi, nas páginas em que mergulhei meu tempo e minha razão. Eram bons tempos aqueles; tempos de descobertas, tempos de fanatismos, tempos de ideologias. Eram tempos de revoltas pessoais, de crises existenciais; tempos em que reivindicava a cura, que me afastava do mundo, ao passo que mergulhava na literatura.

Como bom mineiro conheci, ainda nessa fase, a obra de Fernando Sabino. E, posso dizer que me apaixonei por uma específica: O encontro marcado. Foi um livro que me apresentou Belo Horizonte, não, por não conhecê-la, mas por me fazer identificar toda a minha trajetória nas páginas, ali, contidas: a praça da Liberdade, o viaduto de Santa Tereza, o colégio Afonso Pena, o Minas Tênis Clube, o parque Municipal etc. Tudo isso, me dava uma razão, tudo isso, me apontava um sentido: o sentido de não ter um sentido ! uma frase inquietante, amaldiçoada por mim, pois abraçava a heresia, mas hoje, por mim repetida: "... Deus rejeita os inocentes, é preciso se perder primeiro para depois se salvar." Todos esses lugares eu conheço, todos os autores que o livro cita eu li, sim, é uma história próxima, particular do autor, mas que identifica a todos nós!

Foi ontem, dia 11 de outubro, assistindo o Vídeo Show, que tomei o impacto. O plantão da Globo anunciava o falecimento do escritor, fiquei parado na frente da tv, enquanto tentava me permitir entender o que escutava. Com meus olhos cheios de lágrimas fui à minha biblioteca e, pegando o livro, que guardo cheio de orgulho e certo ciúme, relembrei, em breve leitura, os momentos felizes de sua agradável narrativa. Nostálgico, fui até o bairro de Santa Tereza, passei no viaduto, olhei seus arcos onde o autor relata suas peripécias, caminhei na praça da Liberdade, tentando relembrar aquele encontro, o encontro marcado com as minhas raízes, com os meus autores, com a minha história.

Gostaria, assim, deixar registrado o meu adeus a Fernando Sabino, que tão brilhantemente marcou minha vida. Adeus ao grande autor, que encarnado em Eduardo, me fez viajar em seu encontro e em minhas raízes.


por Renato Hoffmann

quarta-feira, 15 de setembro de 2004

AXIOMA, UMA TENTATIVA DE RESPOSTA AO WALLACE



Wallace,

Lendo sua pergunta no comments fiquei entusiasmado a te responder. Entretanto, quando pensei, melhor, no que ia escrever como resposta, vi que não poderia fazê-lo, por uma questão simples, não tenho um axioma!

Penso que ele tenha que ser construído. Contudo, posso apontar um caminho à construção, apresentar uma idéia a ser refletida por todos nós. A minha proposta é olhar a nossa realidade, sem santificá-la em um modelo já existente, ou bestificá-la, mas olhar o que ela é de fato, ou o que ela representa para nós: em um primeiro momento, para nós como um todo; e em um segundo momento, para nós enquanto expressão individual, sujeito.

Deixe-me tentar explicar melhor: quando ocorreu a parada gay desse ano em São Paulo, na lista, surgiram vários comentários depreciativos, igualando a parada com o carnal! Imagino que as pessoas que seguiram nessa perspectiva, não o fizeram por pensar que a parada poderia ser uma arma de denúncia a serviço das "minorias", ou, como gosto de dizer: da população excluída pela condição sexual. Eles criticaram por terem em si o pensamento de maldição ao carnaval. Até agora, lembro-me de uma frase em que dizia das "caricaturas" que desfilavam pelas avenidas, mostrando um universo fatídico e doentio do meio gay! Agora, se fossemos pensar em arma de denúncia das minorias, ainda sim, não veria necessidade de tamanho repudio àquilo que a parada representa. Nesse caminho, onde entraria a minha perspectiva? Primeiro refletir o universo gay como um todo: será que a parada é tão distante da night gay? Será que a manifestação popular como fenômeno cultural é algo tão caricaturado e depreciativo como apontaram? E daí refletir o particular: o porquê da negação, da não aceitação, da crítica. Claro que isso já é um fato em si, de uma resposta bem simples, também, isso é só um exemplo! Mas há algo mais profundo nisso tudo.

Acredito, profundamente, que quem parte para algumas críticas, mesmo que às vezes, mergulhados em uma erudição, "aparentemente", despretensiosa, mas carregados de uma sutileza moralizante, assim procedem, pois estão presos a dogmas contrários à nossa luta. Que quando refletem o universo gay, só conseguem repudiá-lo, ou distanciá-lo de si mesmos, por um ideal conservador, ortodoxo, de uma classe preconceituosa. E isso tudo, por um motivo pessoal: a homossexualidade ainda é tabu! A expressão individual da qual fazem parte, é aquela que busca o céu e teme o inferno. É aquela que busca a santidade, e se satisfaz em um desejo de proteção e felicidade, ao mesmo tempo, em que se atormentam com a possibilidade da punição e condenação! Sempre escutamos falar que o meio gay é um meio promiscuo, de muitos parceiros, e sexo e nada de seriedade, ou compromisso. O que pensar sobre isso? Só podemos refletir o universo gay, e refletindo sobre ele veremos que: ele não é diferente em nada do universo "conservador"; onde um rapaz namora três meninas ao mesmo tempo; onde pais de famílias mantêm relações extraconjugais; onde um homem possuir várias mulheres sem compromisso é algo natural à masculinidade. Entretanto, as acusações de promiscuidade recaem sobre nós, pois não podemos casar! Daí, nossa teologia começa a buscar esse modelo de casamento, de familia gay feliz, de santidade relacional, etc.

Enfim, penso que o caminho não seja esse, até mesmo, pelo fato deu gostar do carnaval, deu sentir falta da night, deu não querer aderir ao projeto de casamento feliz e santificado. E, penso também que, como eu, muitos vivem assim! O nosso universo precisa desassociar essa idéia de santidade e bênção ao casamento, precisa banir de nossa teologia esse conceito de promiscuidade e maldição, demoníaca, do "mundano", pelo desejo da proteção e o medo da punição. Precisamos ver o que nos é próprio e santificarmos, posteriormente, como nossa expressão. Portanto o que fiz no outro texto foi apontar uma idéia, como nesse também faço. Mas apontar o axioma, isso não posso fazer, pois temos que construí-lo juntos. E a hora é essa, é o nosso momento. Não queremos casar, no modelo bíblico, mas queremos casar no modelo civil , e isso é um direito que temos, não porque é santo, ou o projeto feliz de vida santificada, mas porque é humano, então nossa teologia deve santificar o que é humano e se fazer respeitada por isso, e não por copiar o projeto de bênção de alguma instituição religiosa, que criaram uma teologia para justificarem as suas neuroses coletivas!

Um outro elemento muito difundido, e defendido na lista, está relacionado com o conceito escrituristico de Palavra de Deus. talvez, o que eu venha escrever, aqui, possa desagradar uma grande parte dos leitores, penso eu que vá. Entretanto, não quero maquiar a realidade, e o fato é: existe nas Escrituras um preconceito gritante contra a mulher, e contra os homens que se comportam dentro da perspectiva de gênero, que enquadram o feminino. Obviamente, muito da teologia antigay que se tem produzido na sociedade é recente, de uma interpretação vitoriana, de um olhar extremamente machista. O trabalho que fazemos vem de contra essa interpretação, e mostra que por um apelo cultural a mulher, e os que se assemelham a um comportamento de gênero feminino, não conseguem espaço na sociedade e, tentamos mostrar também, que tal perspectiva é ultrapassada, que a sociedade evoluiu, enquanto o modelo bíblico se encontra para uma cultura de data específica, e de uma época específica, sendo tais interpretações desatualizadas, e portanto, tem-se a necessidade de uma contextualização, de uma reinterpretação, e, até mesmo, de uma desautorização.

Não sei se é de seu conhecimento, mas, nesse momento, estou em um debate no Orkut, na comunidade Jovens Luteranos, exatamente sobre esse tema- homossexualidade e escrituras- o pessoal da IELB (Igreja Evangélica Luterana do Brasil) tem jogado em nosso debate, justamente, tal conceito de Bíblia: a Palavra de Deus. Claro que quem é da IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil) não aceita, e questiona. Entretanto, isso sempre me faz refletir um aspecto muito particular meu, e que agora passo a compartilhar com você:

Sempre quando vejo um homossexual partir para uma afirmativa dogmática em respeito a esse tema, lamento! Quem defende esse posicionamento, no fundo, no fundo, ainda se acha "doente". No fundo, no fundo, ainda quer ser "curado", "libertado". Precisa da Bíblia como um instrumento de punição para seu "mal" e, defendendo-a nesse conceito, defende a sua própria salvação, ou desencargo de consciência. Mesmo que afirme, que não considera a homossexualidade como pecado, quando traz as Escrituras nesse conceito, específico, de Palavra de Deus- atualiza para sua consciência o que é escondido, o que se faz no intimo como desejo último- proteção e punição. Nós precisamos de nos livrar disso, quem quer uma Palavra de Deus, quer um instrumento de lei e castração para o seu "mal". Ou damos um novo sentido à revelação, um sentido não literalista e santificado no modelo repressivo da vontade, ou não caminharemos muito longe na perspectiva de uma teologia Gospel Gay.

Bem, penso que seja por aí, refletindo o universo gay e o universo particular de cada um de nós, como realidade descrita, nua e crua, sem o processo ideológico, apenas o que nos é de direito!

domingo, 12 de setembro de 2004

Na busca de um axioma

Minha conversa, hoje, com vocês é da necessidade de uma sentença inegável, lógica, irrefutável, translúcida, para a teologia, dita, "gay". Vez ou outra, nos esbarramos aprisionados em velhos dogmas, que trazemos como apelo cultural para nosso círculo, mas, que entanto, nega ou contradiz o nosso apelo, a nossa luta. Tenho observado isso no grupo do qual faço parte. Muitas vezes, as considerações dos participantes, ainda, que declarados homossexuais vêm carregadas de tabus, misticismos e crendices comum dos grupos ortodoxos.

Isso ocorre pelo fato curioso, mas real em nosso meio; a falta de um paradigma, de uma sentença, que nos seja central e verdadeira. A busca de conformidade bíblica à nossa teologia tem ocupado a mente dos nossos pensadores. Entretanto, a conformidade bíblica a qual procuram, se estabelece sobre a ideologia da família, do projeto de Deus e da santidade, que já traz em si mesma, o preconceito às minorias e, nos é excludente.

Não necessitamos de um código Paulino como Palavra de Deus; necessitamos, sim, de um Evangelho; Não de um conceito de santidade, que é dada às listas de moralidade e moralismo cristão-estóico; mas de uma ética que diz da profundidade humana como profundidade divina. Não necessitamos que a familia seja abençoada por Deus, e portanto seu projeto de vida feliz; necessitamos de respeito, e direitos iguais na sociedade, mas não do projeto familia feliz de Deus, até mesmo, pelo fato do casamento ser uma invenção mística, banal, de juras de amor eterno, e uma união indissolúvel, que já é desgastada no que a sociedade chama de "convencional", mas, muitas vezes, desejada nas interpretações de nossa teologia.

A teologia que nos é própria necessita desvincular-se de determinados tabus; como por exemplo, a Bíblia Palavra de Deus. Mas, tem que se achar diante de sua realidade, de sua busca e de sua fé, sem a ideologia literalista, que não permite a reflexão humana, em prol de uma ala conservadora, que fala por toda cristandade e tenta se impor. O nosso espaço é diferente, a nossa santidade é outra. Não queremos ser castos do sexo, e nem queremos um único parceiro para a eternidade. Então, a nossa santidade se dá no respeito ao outro, na compreensão do outro e no acordo comum, que venha a existir entre os casais daí formados.

Nossa santidade não busca a um mundo de anjos, e um paraíso extraterrestre. Mas, se mostra no grito contra os excluídos, na promoção da dignidade, igualdade e justiça. Não queremos sair do mundo para um paraíso, mas queremos transformar o mundo em um lugar melhor para se viver, em um lugar de humanidade, de profunda humanidade e, refletir, assim, o projeto de Deus, o projeto de Deus para nossa teologia! Que se mostra no Cristo, o verbo encarnado, que se fez para todo o que crer ter a vida eterna. E como esse Cristo, que se faz profundamente humano em suas aspirações, também nós, assim devemos nos fazer. Entretanto livres para o sexo e suas relações, desde que se compreenda o mútuo consentimento e respeito. Livre para ser humano, desprovido de qualquer listinha farisaica e apelos moralizantes em nome do bom, hipócrita, costume. Esse axioma, tal paradigma, ainda não existe para nós, mas devemos escrevê-lo, fazer as novas tabuas, que respeitam a vontade do criador, pois respeita o que é humano, e assim, nos iguala ao próprio criador, em sua imagem e semelhança.

Por: Renato Hoffmann




segunda-feira, 6 de setembro de 2004


TUDO É MAIS DIFÍCIL PARA OS HOMOSSEXUAIS?

Esta é uma pergunta, quase que, com resposta unânime, visto que somos compelidos ou negligenciados à marginalidade pela sociedade na qual estamos inseridos, porém tal situação é pior por nós mesmos nos considerarmos inferiores e até ?merecedores? de tal status.

Desde cedo, descobrimo ? nos como diferentes, ?anormais? e isto para muitos é a pior das aceitações, já que ?nunca? seremos aceitos e consequentemente, felizes. Aprendemos que ser homossexual é tão igual ou pior a ser um marginal (ladrão, assassino, etc.). Com todos estes julgos de valor inseridos em nossa mente desde cedo, essa aceitação torna-se tão traumática que poucos passam por ela sem feridas e marcas para toda a vida

Quando nos aceitamos e imaginamos que agora temos ?orgulho? do que somos ou pelo menos a vergonha deixou de existir, mais uma vez nos deparamos com conceitos que ainda acreditamos não ser para nós: lar, casamento, família...amor. Tudo isto por que continuam internalizados conceitos que nos foram ensinados quando crianças: que homem com homem ou mulher com mulher é feio, que é uma ?relação? fadada e unicamente mantida pelo sexo e amor livre. Temos que conceber isto como inerente são só aos homos, mas sim a todos os homens (heteros, bis, pans, etc.), enfim o que se passa conosco à exceção de nossa orientação sexual, é completamente comum a todos os seres.

Também estudamos, trabalhamos, construímos, amamos... por que então continuarmos a nos refugiar em locais específicos para gays? Por que temos que ter medo de sermos o que somos? Continuamos sendo homens e mulheres e permitir que hajam distinções pela orientação sexual de cada um é nada mais do que fundamentar um conceito vil e segregador que por muitos vem sido mantido por seus próprios interesses e existência. O que seria das inúmeras religiões tradicionais sem o instituto do matrimônio hetero? Sem a massificação do pensar e agir? Teríamos cada vez mais seres conscientes e atuantes que não diriam amém a tudo que lhes fosse ?vendido? como o certo.

Entender que homossexuais terão muito o que fazer para mudar o cenário atual é simples, complicado será concebermos que ainda não arrumamos nosso ?templo? interior para aceitar que ser homossexual é tão comum quanto respirar e isto acarreta em se permitir viver sem vergonha, receio ou limitações. Temos tudo conosco e para sermos realmente felizes e nos livramos dos estigmas que nos cercam, precisamos apenas de coragem para viver cada dia de maneira altruísta e consonante com o que somos: cidadãos com deveres e direitos.

Cabe agora a cada um concluir se tudo é mais difícil para o homossexual ou tornado assim pelos outros e majoritariamente por nós mesmos, visto que somente você é responsável pelo que quer e pelo papel que vai desempenhar em seu existir.

por William de Castro

quarta-feira, 1 de setembro de 2004

MEDITAÇÃO NA PALAVRA
Abraçando a comunidade GLBT

Entre 4 Paredes (Espirituais)
"Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa?" ( Jo. 21: 23c)

Penso que todas as pessoas que conheço, salvo, talvez, raríssimas exceções, querem ser bem tratadas, mas há uma boa fatia da população que acha que merece ser tratada de uma forma melhor do que as outras pessoas e, literalmente, se sente lesada com a alegria alheia. Este sentimento dipara quando observa os outros conquistando empregos mais bem remunerados, passando em concursos públicos cobiçados, adquirindo um imóvel ou veículo melhor, ou ainda, pasmem, quando se incomoda pelo fato de que outros possam estar desfrutando e mantendo um relacionamento afetivo, sadio e estável. Se este relacionamento for homossexual então, nem se fala!

A amargura de uma vida de inveja do sucesso de outrem, abre brecha profunda na alma das pessoas, afastando-as do verdadeiro propósito de Deus para suas vidas: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo com a si mesmo.


Quando medito neste assunto, gosto de me reportar ao texto que se encontra em João 21: 15 -23


Pedro estava numa "saia justa". Havia negado conhecer a Jesus e ser um de seus
discípulos. Foi covarde, mas amava ao Senhor. Precisou repetir isto 3 vezes ao
andar com Jesus às margens do mar da Galiléia. Jesus o moldou. Deu-lhe impulso e fôlego novo. Falou de seu futuro ministério, das dores, sofrimento e de sua
morte. Pedro, quebrantado foi transformado pelo amor. Não tornaria a negar a
Jesus. Não muito atrás dos dois, seguia João. Como sempre, atraído a Jesus. Não
havia a intenção de ouvir a conversa particular de Jesus e Pedro. Queria sim,
estar perto do Senhor. Pedro entendeu o que lhe reservava o futuro e a dureza da
tarefa que lhe estava sendo proposta, aceitando-a com humildade. Apesar disso,
sua primeira reação foi perguntar o que aconteceria com João!

Como é natural do ser humano, esperamos que o outro sempre experimente o mesmo grau de dificuldade que experimentamos. Queremos ser tratados com a igualdade que consideramos como sendo justa. Jesus responde (parafraseando...):

- Pedro, como eu trato João ou qualquer outra pessoa, não é da sua conta. É pessoal, assim como o julgamento de cada um será pessoal. Você não precisa se preocupar com isso. Faça a sua parte.

O julgamento de cada pessoa na face da terra é questão de foro íntimo do Senhor. Deus sabe exatamente quanto vale o "trabalho" (como se vive) de cada um. Que aflições, dificuldades mental e/ou psíquica com as quais tem que conviver; abusos aos quais foi, ou é submetido(a); ambiente em que foi gerado(a) e criado(a) e, ainda, os usos e costumes da cultura nos quais está inserido(a).

A história de vida de cada um é de cada um!

Portanto amados, não podemos viver a comunhão do outro com Deus, pois ela é pessoal. O nosso investimento deve estar direcionado para o aprimoramento da nossa relação pessoal com Ele. O que importa é procurar estarmos atentos naquilo que Deus fala e espera que realizemos.

Como Deus lida com o outro, não é a forma com a qual Deus lida e lidará comigo ou com você. Ele nos ama. Deu a Jesus por nós, então, não nos dará com Ele (Cristo) graciosamente todas as coisas?

Recebam minhas orações, amor e carinho,

Pra. Susan Hodge
suehodge@uol.com.br

"Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus."
Rm 12:2
A sociedade se corrompeu. A falta de sensibilidade e de sentimentos humanos dignos nos abandonou há tempos. Crimes, aberrações e desvios de conduta desfilam na passarela da mídia. O que é errado parece ser o correto e os culpados não são punidos.

Situações contraditórias, ser humano falido. Excesso de violência nos bombardeiam diariamente. Explorações, escândalos e sensacionalismos movem a nossa sociedade. O valor da vida não pode se esvair na frieza formal de uma sociedade corrupta e preconceituosa à beira do abismo.

A generosidade, a coragem para mudar e o amor ao próximo, que distinguem as almas nobres, tem sido o estopim de uma reação. Um basta! Não podemos nos conformar com as coisas deste mundo!

Devemos pedir à Deus para termos coração e sensibilidade diante do sórdido e do perverso. Ainda somos humanos. Pois existem ainda pessoas que se comovem com o belo, que socorrem os doentes, que sofrem com os que choram, que estendem a mão ao necessitado, que se sensibilizam com crianças nos faróis, que choram com as vítimas de injustiça. Porque ainda somos humanos! E Deus nos fez assim. Sentimos e estamos vivos. Ainda resta uma esperança. Somos filhos de Deus! E sobreviventes neste mundo cheio de desigualdades, preconceito e egoísmo. Mesmo com nossas diferenças, somos iguais.

Daniela

sexta-feira, 13 de agosto de 2004

A CULPA TODA É DA IGREJA

O novo glossário preparado pelo Conselho Pontifício do Vaticano diz que a homossexualidade tem origem num conflito psicológico não resolvido. E aqueles que querem dar aos homossexuais os mesmos direitos legais na sociedade negam um problema psicológico que volta a homossexualidade contra o tecido social.
O sofrimento psíquico imposto pela cultura judaico-cristã à milhares de pessoas através da sua forma de educar, interferiu na cultura de vários povos, educação essa que já fazia com que até os canhotos se sentissem culpados de terem nascidos e queimados na fogueira para o bem da alma deles, deixando dúvidas nos filhos dos índios, nos filhos dos negros, na cabeças das meninas, diminuindo sua auto-estima e criando o auto-preconceito onde o pobre não aceita o pobre; onde o próprio negro não se aceita e que ficar longe de "preto", onde a mulher tem mentalidade machista e se utiliza de piadas formuladas para rirem das outras.
Quando verificamos na sociedade o comportamento de muitas pessoas com seus tratamentos preconceituoso em relação às outras, onde os ricos desprezam e dão esmolas aos pobres pra satisfazer o ego da burguesia; onde os considerados esteticamente bonitos são os escolhidos e se tornam estátuas de adoração; onde o negro vive em condições sócio-enconômica inferiores ao branco e nas novelas são representados enquanto minoria, onde o índio é ridicularizado e obrigado a sair de suas próprias terras nas quais vivem desde que o Brasil foi "descoberto", onde o fanático religioso agride outras crenças falando de amor e espumando ódio; e onde a mulher recebe menos que o homem para fazer o mesmo serviço e é aplaudida enquanto "bunda de TV" , e então, percebemos o quanto no Brasil o preconceito convive de forma hipócrita com os princípios que define uma sociedade cheia de moral.
Enquanto o "homossexualismo" é combatido pela igreja e dentro dela estatisticamente padres morrem em conseqüência da AIDS, e chamam essa doença de "peste gay", a hipocrisia e a falta de consciência é tão grande que quando se fala em prostituição infantil não dão tanta ênfase negativa ao "heterosexualismo" quando se falam em pedofilia e "homossexualismo" , como se a prostituição infantil no nosso país não se tratasse de meninas e homens heterossexuais.
Esse circo já está armado para nos confundir desde quando nascemos, para o encontrarmos todas as peças prontas num jogo programado com suas crenças, valores, regras, conceitos e histórias impressionantes inserido no grupo onde estamos vivendo, fazendo nos de sub-categorias, sub-especie, sub-gente, sub-tudo. Com o sentimento de inferiorização, o auto-preconceito para ser entendido melhor, precisa ser analisado a partir do quadro do nosso ambiente sociocultural de uma forma degradativa - homem-rico-branco-hetero-bonito-feio-mulher-negro-homossexual.
Porque gay não vota em gay? Porque o mesmo processo de auto-preconceito usado para fazer com que o negros o índio e a mulher se sinta inferior e não se aceite, é usado também em relação aos homossexuais. E por causa desse ódio mórbido aos homossexuais chamado de homofobia, e que internalizada é adquirida através de uma educação imposta em que procura ocultar a realidade e fazer os homossexuais culpados por ser o que são, fica complexa e na maioria das vezes muito mais velada. A concentração da homofobia é tão grande que os próprios homossexuais se sentem culpado e psicologicamente ou inconscientemente isso influem nos relacionamentos, fazendo com que odeie uns aos outros.
Nas dimensões psicológicas e moral, por intermédio dessa educação herdada faz estragos na cabeça dos homossexuais. Podemos entender como funciona essa homofobia internalizada ao ilustrarmos melhor os campos de ação: 1)roubar o colega da mesma orientação mas não ter coragem de roubar outro de orientação diferente que na linguagem GLBT é "dar a elza" nos gays. 2) Odiar outros gays afirmando que em bicha não se pode confiar. 3) Detesta "maricona", ou, só gosta de "homem de verdade".4) Fazer a linha maldita, que é um jogo de sedução pelo simples prazer de destruir o relacionamento do outro, ou então destruir amizades e a imagem do outro. 5) Além da desconfiança e crítica destrutiva a lideres da comunidade GLBT, fazendo armações e boicotando atividades, chegando a ponto de votar num candidato hetero homofóbico mas não num candidato da comunidade. E por último, 6)o desprezo pelos membros mais assumidos e óbvios da comunidade GLBT.
Para se "salvar" de toda essa homofobia, diria que, situações psicologicamente cômicas e desesperadoras são criadas por alguns homossexuais que sofrem dessa interiorização como: "fazer-se de louca", "trancar", "fechar" à noite toda e durante o dia mostrar-se sério, e quando vê algum assumido na rua passa do outro lado para não ser cumprimentado ou vive obcecado que ninguém descubra sua orientação sexual, chegando a acontecer desmaios no local de trabalho; ou foge para viver em outro país dizendo como desculpas que é melhor do que o seu.
E para recompensar, ou seja, que os outros não lhe cobrem ou discriminem, se torna um super tio, ótimo filho e irmão, empresta dinheiro para o cunhado, dar presente para os sobrinhos, e bajula todos os familiares com brindes e favores. Na religião, procura o Seminário Religioso para ser respeitado e não ser cobrado casamento ou namoro, ou então recorre a relacionamentos com membros do sexo oposto de igreja evangélica que proíbe o sexo antes do casamento pois assim não pode ser cobrado carícias mais íntimas. Congelar a dor para não se apaixonar e passar o vexame de ser cobrado que está com o "amor que não ousa dizer o nome", ou então se enfia na bebida para que todos o vejam exclusivamente como alcoólatra ou drogado.
Grupos religiosos no Brasil pregam a cura da homossexualidade e são alertados pelas Associações de Psicologia ou por psicólogos, como a Dr. Adriana Nunan (PUC-RIO), que esta prática não é científica nem ética, podendo causar danos irreparáveis aos pacientes, e desencadear algum tipo de doença mental. Além de provocar depressão, baixa auto-estima, ansiedade, atos de violência, como agressões e assassinato sádico de homossexuais e comportamentos auto-destrutivos como: prática de sexo sem segurança, suicídio.
Crescendo e vivendo em uma sociedade como a nossa, machista conservadora e hipócrita, recebendo e reproduzindo heranças, que vão interiorizar os valores e atitudes negativas da própria sociedade, evidentemente que a tendência é nos deixar "doentes".
Mas se existe uma doença nos homossexuais ela se chama homofobia internalizada, e a culpa toda é da igreja por lançar seu falso-moralismo e sua política de pessimismo e psicologia de "pobre-coitado" sobre os mais fracos de pensamentos e idéias, fazendo com que eles se sintam culpados.
Atualmente, quem discrimina um canhoto é considerado ignorante, um idiota, e futuramente poderá se dizer a mesma coisa em relação a quem discrimina os homossexuais, e para isso é importante que a igreja entenda que nem todos são católico, nem todos são cristãos e nem todos são religiosos, sendo assim, devendo ser respeitados na sua plenitude . E a educação, que é a base de tudo, deve ser libertadora, realista, consciente e autêntica.
Itamar Guri dos Santos
Itamarguri@yahoo.com.br
agamy1998@yahoo.com.br
www.grupoguri.hpg.com.br

quarta-feira, 11 de agosto de 2004

Boas...

Ao ler as palavras do Luiz Mott, resolvi transcrever e traduzir do inglês o resumo de um livro que se chama: O que a Bíblia realmente diz acerca da homossexualidade:

"A apróximação literal da Bíblia diz que não devemos interpretar a Bíblia, mas apenas tomar como certo aquilo que está escrito e como está escrito. As palavras da Bíblia nas traduções mais recentes são traduzidas para dizer o que elas dizem para o leitor de hoje. Nesta base, a Bíblia condena a homossexualidade em vários lugares.
Mas uma apoximação histórica, procula ler a Bíblia no seu contexto hitórico e cultural. Esta interpretação procura levar a interpretação da Bíblia ao seu verdadeiro sentido, procurando averiguar o que é que os autores originais quereriam dizer no seu tempo e à sua própria maneira. Entendendo os seus próprios termos, a Bíblia não foi escrita falando das nossas questões de ética sexual. A Bíblia não condena sexo gay como nós o entendemos hoje.

O pecado se Sodoma foi a falta de hospitalidade e não homossexualidade. Judas condena sexo com os anjos e não sexo entre dois homens. Não há um único versículo que se refira indisputavelmente a sexo entre mulheres.
Algumas Bíblias referem-se a "sodomitas" em Deuteronómio e 1 e 2 de Reis... é uma tradução errada. Do ponto de vista positivo da heterosexualidade não se retira nenhuma conclusão da homossexualidade. Figuras Bíblicas como Jonatas e David, Rute e Noemi, Daniel, podem muito bem ter estado envolvidos em relações do mesmo sexo vistas como sendo o plano de Deus. Jesus não disse nada acerca da homossexualidade, nem mesmo quando face a face com um homem no meio de uma relação homossexual.

Apenas 5 versos da Bíblia expressam uma opinião sobre sexo com homens: Levítico 18:22 e 20:13, Romanos 1:27, 1 Corintios 6:9 e 1Timóteo 1:10. Todos estes textos são relativos a algo mais do que sexo com homens em si mesmo e estes 5 versos apenas se referem a 3 questões diferentes.

Primeira, Levítico proibia sexo homossexual como sendo uma violação da antiga versão Judaica de "mistura de géneros", a confusão das funções comuns: homens penetrando e mulheres sendo penetradas. A preocupação acerca de sexo de homem com homem, é uma ofensa contra a a religião Judaica, não uma violação da natureza sexual herdada.

Segundo, a carta aos Romanos presupõe que o ensinamento da lei Judaica em Levítico e o sexo entre homens sendo uma questão de impureza. Contudo, em Romanos é mencionado tudo isso precisamente para justificar que argumentos de impureza/pureza não têm mais importância em Cristo.

Finalmente, no termo obscuro de "arsenokoitai", se interpretado como sendo sexo entre homens, 1 Corintios e 1 Timoteo condenaria abusos sexuais associados com sexo entre homens e no primeiro século: exploração e abuso.

Então a Bíblia não contém nenhum patamar moral direto acerca de sexo entre homens nem a moralidade entre relacionamentos gay ou lésbicos como conhecemos hoje. Na verdade, o mais longo tratamento do assunto em Romanos, sugere que os atos homossexuais em si mesmo não têm nenhuma significância ética. Contudo, entendido no contexto do primeiro século decadente do império Romano, 1 Corintios e 1 Timóteo pode sugerir esta lição: formas abusivas de sexo entre homens, e sexo entre mulheres, deve de ser evitado.

Embora a Bíblia não condene o sexo entre homens ou mulheres, isto não quer dizer que vale tudo! Se estes dependem da Bíblia como um guia de inspiração, gays e lésbicas estão certamente ligados ao ensinamento moral dos ensianmentos Judeo-cristãos: homens/mulheres de oração, reverência para com Deus, respeitar os outros, amáveis, perdoadores, misericordiosos, honestos e justos. Trabalhar em harmonia e paz. Permanecer pela verdade. Desistir de si mesmos por aquilo que é bom, evitar o mal. Fazer a vontade de Deus. Amar a Deus com todo o coração e alma. Fazendo isto, é ser um verdadeiro discípulo de Jesus.

Viver pela Bíblia, gays e lésbicas submeterão os seus mais severos requisitos morais à palavra.esses requisitos incluem sexo em relações íntimas.

Isto é tudo o que honestamente pode ser dito ácerca do ensinamento Bíblico ácerca da homossexualidade. Se as pessoas ainda procuram algum ensinamento para mais claramente saber se sexo gay ou lésbico é mau ou bom... eles têm de procurar noutro sítio por uma resposta. Porque nesta matéria a resposta é expremamente simples. A Bíblia nunca foca essa questão. Mais que isso, a Bíblia Parece deliberadamente despreocupada acerca disso".

Que Deus vos abençõe.

Vasco Horta (de férias em Portugal)
A Bíblia não diz que devemos amar a todos?

Ha! A Bíblia! Para dizer a verdade, ela diz uma porção de coisas;
mas ninguém nunca pensa em coloca-las em pratica.
(Harriet Beecher Stowe, em A Cabana do Pai Tomas)

Felizmente podemos ouvir falar de Deus, de seu filho Jesus, de suas glórias e de sua vitória na Cruz para nos salvar. Porém, infelizmente, o homem com sua mente faz o que quer em relação às interpretações bíblicas. Não vou aqui explicar que ser homossexual não é um pecado, acho que todos aqui tem já isso resolvido. Porém, podemos dar alguns exemplos de amor e de graça que Deus tem para um homossexual.

Jesus tinha o poder de amar prostitutas, homossexuais, heterossexuais, enfim toda a humanidade... Ele foi capaz disso apenas porque via através do pecado e da degeneração; seus olhos captavam a origem divina que estava oculta por toda parte e em cada homem! Primeiro, e principalmente, Ele nos dá novos olhos...

Quando Jesus amava uma pessoa qualquer, carregada de culpa, seja ele qual fosse, ele a ajudava, via nela um filho de Deus. Via um ser humano a quem seu Pai amava e por quem se interessava. Ele o via como Deus o planejara originalmente e queria que ele fosse e, portanto olhava, para o humano, não qualquer humano, superficial e alienado de si mesmo, mas para o que é PROFUNDAMENTE HUMANO. Já dizia um sábio: "o que é profundamente humano é divino"! E quando via algo que impedisse os homens de serem alcançados na sua humanidade ele apontava o caminho para o verdadeiro eu, libertando e propondo os recomeços. Jesus foi capaz de amar os homens porque ele os amava de maneira certa atravessando o que é superficial, aparente.

Certa vez, um filho evangélico disse à sua mãe que era homossexual. Todos da igreja ficaram sabendo de sua afirmação e então o abominaram por isso, porém, a sua mãe com voz trêmula e doce disse: "ele pode ser um homossexual, uma afronta abominável à muitos, mas continua sendo o nosso orgulho e alegria".

Perecebi que a mãe desse garoto expressou como Deus vê a cada um de nós. De alguma forma, todos nós - heteros ou homos - somos abominações para Deus pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus e, de alguma forma, contra toda razão, Deus nos ama assim mesmo. A graça declara que ainda somos o orgulho e a alegria de Deus.

por Fabiano Silva
De Nova York para Gospel Gay

Pesquisas : Maravilhosa Graca - Philip Yancey.

OS BISPOS BRASILEIROS E A QUESTÃO HOMOSSEXUAL
Luiz Mott, ex-Dominicano e fundador do Grupo Gay da Bahia


Durante quase três séculos, os Bispos do Brasil deixaram os homossexuais em paz. Quem perseguia os "sodomitas" era a Inquisição, que enviou para os cárceres do Santo Ofício de Lisboa duas dezenas de "fanchonos". Embora as Constituições do Arcebispado da Bahia, de 1707, considerassem a sodomia "o mais sujo, torpe e desonesto pecado, e por sua causa Deus envia à terra inundações, terremotos e pestes", só há notícia de um homossexual degredado para a África por ordem do Bispo de Salvador. Numa época em que a Igreja tinha poder de queimar na fogueira, nenhum gay brasileiro foi condenado à morte.

Mesmo durante o pontificado de Pio XII (1939-1958), época de grande moralismo e sexofobia, quando a Igreja chegou a estabelecer a altura máxima da bainha das saias das mulheres católicas, nenhum de nossos grandes príncipes da Igreja, D.Sebastião Leme, o Cardeal da Silva, D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, fez qualquer declaração contra os "filhos da dissidência". Houve mesmo uma época, quando do Pontificado de João XXIII, de saudosa memória, que teólogos do Brasil, como o dominicano Frei Carlos Josaphat e o redentorista Padre Jaime Snoek, seguindo o mesmo espírito do Catecismo Holandês, chegaram a defender a virtude e altruismo do amor entre pessoas do mesmo sexo. Oh tempora!

Foi com Paulo VI, cuja homossexualidade fora internacionalmente denunciada pelo escritor francês Roger Peyrefitte, que a hierarquia católica iniciou a cruzada moderna contra os homossexuais. Em 1975, o cardeal François Seper redigiu a "Declaração sobre certas questões de ética sexual", onde embora reconhecendo que a homossexualidade possa levar a "sincera comunhão de vida e de amor", estabeleceu um sofisma que será repetido ad nauseam pelo Vaticano: "os atos homossexuais são intrinsecamente desordenados e não podem em caso algum receber qualquer aprovação".

Em 1978 João Paulo II é eleito Papa, e sob influência da ultra conservadora Opus Dei, franquista e declaradamente homofóbica, nomeia em 1981 o teólogo Joseph Ratzinger como Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, que divulga em 1986 a "Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a pastoral para pessoas homossexuais", onde confirma: "o homossexualismo é intrinsecamente mau". Em 1992, o Cardeal Ratzinger radicaliza sua homofobia ao promulgar: "em certas circunstâncias, não é discriminação injusta impedir a adoção de crianças por homossexuais, afastá-los da função de educadores, treinadores esportivos e no recrutamento militar". George W. Bush, homófobo confesso, disputava pela primeira vez a presidência dos Estados Unidos e os grupos católicos gays, Dignity e David & Jonathan são proibidos pela Cúria Romana. Neste mesmo ano, no "Catecismo da Igreja Católica", João Paulo II ratifica: "os atos homossexuais não podem receber aprovação em nenhuma circunstância". Roma locuta, causa finita!

Insuflados por mensagens tão homofóbicas, alguns bispos brasileiros foram ainda mais longe, não poupando graves ofensas aos homossexuais, fornecendo assim munição para a homofobia dos políticos, pastores e da população em geral. Eis as palavras de nossos pastores divulgadas na imprensa nacional:

D. Aloisio Lorscheider, Arcebispo de Fortaleza, 1994: "Homossexualismo é uma aberração".

D.Girônimo Anandréa, Bispo de Erechim, 1995: "O homossexualismo é um desafio contrário às leis da natureza e às leis do Criador. As uniões homossexuais jamais podem equiparar-se com as uniões familiares. O bem comum da sociedade requer a desaprovação do seu modo de agir e não lhes sejam atribuídos direitos absolutos".

D. Edvaldo Amaral, Arcebispo de Maceió, 1997: "A união de homossexuais é uma aberração. Um cachorro pode até cheirar o outro do mesmo sexo, mas eles não tem relação. Sem querer ofender os cachorros, acho que isso é uma cachorrada! Esta é a opinião de Deus e da Igreja".

D. Lucas Moreira Neves, Cardeal da Bahia e Primaz do Brasil, 1997: "O Projeto de Parceria Civil Registrada é deseducativo e lesivo aos valores humanos e cristãos".

D. Eugênio Salles, Cardeal do Rio de Janeiro, 1997-2003: "Os homossexuais têm anomalia e a Igreja é contra e será sempre contra o homossexualismo. Se todos os fiéis são obrigados a se posicionarem contra o reconhecimento legal das uniões homossexuais, os políticos católicos têm o dever moral de manifestar clara e publicamente seu desacordo e votar contra".

D. Silvestre, Arcebispo de Vitória, 1998: "Homossexualismo é doença".

Dom Eusébio Oscar Sheid, Arcebispo de Florianópolis, 1998: "O homossexualismo é uma tragédia. Gays são gente pela metade. Se é que são".

Dom Amaury Castagno, Bispo de Jundiaí, 1998-2002: "O homossexualismo é, simplesmente, uma aberração ética. A conduta homossexual é em si mesma execrável, como também o são o incesto, a pedofilia, o estupro e qualquer tipo de violência... O homossexualismo é antinatural, está mais que evidente que é algo contra a dignidade humana e o plano de Deus".

D. José Antônio Aparecido Tosi, Arcebispo de Fortaleza, 2000: "O homossexualismo é um defeito da natureza humana comparável à cleptomania, ao homicídio e à irascibilidade".
D. Raymundo Damasceno Assis, Secretário da CNBB, 2001: "É um perigo aprovar as uniões antinaturais dos homossexuais".

D. Aloysio Penna, Arcebispo de Botucatu, 2001: "Por maior que seja a misericórdia com que a Igreja trata os homossexuais, ela não pode deixar de pregar que os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados".
Com munição tão pesada, pais e mães continuam a repetir pelo Brasil afora: "prefiro um filho ladrão do que homossexual!" Não é à toa que nosso país é o campeão mundial de assassinato de gays, transgêneros e lésbicas. A cada dois dias um homossexual é barbaramente assassinado, vítima da homofobia. Nossos bispos devem pedir perdão à humanidade pois têm a mão suja de sangue! Esqueceram-se do ensinamento do "discípulo que Jesus amava": "onde há amor, Deus aí está!"

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LUIZ MOTT
Cx.Postal 2552 - 40022.260, Salvador, Bahia
Fone/Fax: (71) 328.3782 - 328.2262 - 9989.4748
www.luizmott.cjb.net
www.ggb.org.br

Professor Titular de Antropologia, UFBa
Comendador da Ordem do Rio Branco
Ex-Membro do Conselho Nacional de Combate a Discriminação da Presidência da República e da Comissão Nacional de Aids do Ministério da Saúde

Per scientiam ad veritatem, justitiam et felicitatem.

terça-feira, 10 de agosto de 2004

"Misericórdia quero e não holocausto" Mt. 12:7

Jesus registra nesta passagem do livro de Mateus um desejo que nasceu no coração do Pai: mostrar que práticas pagãs, como a hipocrisia religiosa e injustiça, estão erradas e tendem a manipular as pessoas quando usadas em nome de Deus. Podemos constatar isso através da demonstração feita por Jesus ao comer com pecadores (Mt. 9.10-12), juntamente com seus discípulos e republicanos. Automaticamente o Cristo, que não faz acepção de pessoas, foi questionado pelos fariseus:

"Por que come o vosso Mestre com publicanos e pecadores?" Mt. 9:11b

Jesus , porém, ouvindo isso, respondeu:

"Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos. Ide, pois, e aprendei o
que significa: Misericórdia quero, e não sacrifícios. Porque eu não vim chamar
justos, mas pecadores".

Nos nossos dias, não precisamos correr muito para nos depararmos com os escribas e fariseus - aqueles que segundo Jesus "dizem e não fazem". Aqueles que estão a nos julgar, a nos condenar. Eles estão em todos os lugares, nas esquinas, nas praças e principalmente nas igrejas, basta tão somente olharmos em nossa volta para nos debatermos com os acusadores, observadores da lei. Jesus não conformado com este comportamento, reservou aos fariseus algumas das críticas mais severas:

"Atam fardos pesados [e difíceis de carregar] e os põem sobre os ombros dos
homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los". (Mt.
23:4)

São estes mesmos fariseus, falsos donos da verdade, que fecharam o reino dos céus para muitos de nós, GLBT?s, imagem e semelhança de Deus, e possuidores da capacidade sublime de não fazer acepção de pessoas.

São estes guias cegos que Jesus abomina, não somente pela hipocrisia e injustiça, mas principalmente por negligenciarem os preceitos mais importantes da lei: o amor incondicional ao próximo, a misericórdia e a fé.

É esta raça de víboras que tem fechado a porta dos céus para milhões de homens e mulheres, que por serem diferentes, vivem aprisionados em seus próprios traumas psicológicos, decorrência de uma educação marginalizada e preconceituosa imposta pela sociedade, família e principalmente pelos fariseus que não se poupam em fazer julgamentos indevidos "em nome" de Jesus. Não foi à toa que por seis vezes, no mesmo capítulo, Jesus chamou esta classe de hipócritas, pois estavam mais preocupados com a aparência do que com a substância. Jesus, ao contrário, nos chamou para um compromisso espiritual e genuíno, onde o amor se tornou o maior de todos os mandamentos.

"Amar ao próximo como a si mesmo excede todos os holocautos e sacrifícios" (Mc. 12:33b)
MEDITAÇÃO NA PALAVRA

Abraçando a comunidade GLBT
Controle Absoluto

Texto para reflexão: Habacuque capítulo 1

O nome Habacuque significa o que abraça , não no sentido romântico, mas sim, de conforto. Precisamos deste conforto quando nos deparamos com a grande pergunta: Por que Deus permite que "isso" aconteça? Vivemos dias de violência. Guerras que não aprovamos nem queremos. Ainda assim, elas estão acontecendo em toda parte. A criminalidade aumenta. A homofobia causa mortes e parece que estamos atados, assistindo a tudo, sem poder fazer nada. Alguns, não conformados, estão marchando, fazendo protestos e manifestações. Mas, cada dia, mais pessoas estão morrendo, sendo feridas física e emocionalmente. Crianças em sofrimento; velhos desnorteados; jovens tendo seu futuro roubado. Por que Deus permite? Há também nossas questões pessoais: enfermidades, crises financeiras, crises nos relacionamentos afetivos, etc. Afinal, se Deus está no controle, por que tudo parece estar fora de controle?

O profeta Habacuque vivia em dias muito parecidos com os nossos ? uma época em que tudo parecia estar dando errado. O povo vivia na maldade, havia violência, corrupção, insegurança, opressão e injustiça . Habacuque estava muito perturbado. No entanto, ele sabia que quando temos um problema, devemos levá-lo a Deus. Foi exatamente isso que ele fez: orou. Continuou orando... mas não havia resposta! Então ele, perplexo, clamou a Deus e perguntou por quanto mais tempo deveria continuar a orar sobre o mesmo problema. Ele tinha estado a vigiar, esperando um avivamento e, nada.

Quantos de nós não estamos passando pela mesma situação? Oramos por pessoas que amamos, esperando que Deus as alcance e mude suas vidas, e nada acontece. Oramos pelos nossos problemas e o céu permanece calado. Parece que a oração simplesmente não alcança a Deus. O coração do profeta estava pesado com este aparente dilema: oração x silêncio. Aí aconteceu algo extraordinário! Deus respondeu a Habacuque! Mas o conteúdo da resposta é ainda mais extraordinária! No v. 5 Deus diz a Habacuque:
"tenho estado a responder sua oração. Você tem me acusado de silêncio, mas eu não tenho estado silencioso. Você simplesmente não sabe reconhecer minha resposta. Tenho respondido embora diferente da sua expectativa".
E então, a partir do v. 6 até ao 11, Deus passa a explicar como está respondendo. Ele diz que está levantando uma nação: os Caldeus. Na época de Habacuque os Caldeus eram um povo insignificante. Eles eram um povo estranho, hostil e sanguinário. "Eu estou por trás deste povo" disse o Senhor. Isso soa tão estranho, não é? Parece que o problema ficou maior ao invés de resolvido, pois como Deus vai resolver o problema original, criando um problema maior?

Às vezes também nos parece que "quanto mais oramos, mais assombração nos aparece!", não é assim?. A história mundial também afeta a fé de muitos. Por que Deus permite que as coisas tomem certos rumos? Por que um Deus justo e amoroso permite que os homens sofram? Por que Deus nos criaria depois permitiria que doenças, violência e a fome nos matassem? Ouvimos seguidamente estas perguntas que parecem ficar sem respostas. Deus não é ortodoxo! Ele sempre faz coisas de uma maneira diferente, levanta as pessoas "erradas" e opera de forma surpreendente. Os caminhos de Deus são misteriosos e precisamos reconhecer que há épocas em que, simplesmente não entendemos o Seu mover. A mente humana não alcança a variedade dos desígnios da obra de Deus.

Este era o problema que afligia a Habacuque. Ele estava perplexo com o estranho silêncio de Deus e, depois, quando soube como estava agindo, também não entendeu nada. Quantas vezes sentimos que Deus não está agindo, ou se está, é totalmente inacreditável que Ele esteja lidando com o problema aumentando-o ao invés de "solucioná-lo".

Para lidar com situações que desafiam nossa fé, há 4 passos importantes que devem ser observados:

O versículo 1: 12 é a chave:

Primeiro: Pare e pense. Não reaja emocionalmente. Não deixe que o pânico te domine.
Segundo: Reafirme para você mesmo as coisas básicas que você sabe sobre Deus. Não tente resolver seu problema imediatamente. Dê um passo para trás e medite no que você conhece sobre o caráter de Deus.
Terceiro: Com o caráter de Deus firmemente impresso em sua mente e coração, sob essa ótica, examine seu problema.
Quarto: Se de todo, não houver achado solução, deixe tudo nas mãos de Deus, pela fé, confiando que Ele lhe mostrará a resposta.
Deus é de eternidade a eternidade. Ele está assentado sobre a história. A história geral e a pessoal. Ele criou a história. Deus é Santo. Ele é O Poderoso EU SOU.. Ele é consistente consigo mesmo. Nunca finge. Nunca é falso. Deus é sempre Ele mesmo. Deus é imutável (Hb 1: 10 -12)."... Não morreremos." (1:12b) ? Portanto, apoiados pela fé Naquele que é para sempre SENHOR, mesmo assombrados e assustados, Ele nos sustentará com Sua fidelidade.

Deus não perdeu o controle sobre a história da humanidade nem tampouco sobre a história de sua vida.

Espere. Confie. A resposta virá.

Pra. Susan Hodge
suehodge@uol.com.br

segunda-feira, 9 de agosto de 2004

Dia do Orgulho Lésbico será comemorado em 19/08 em SP


A programação inclui a apresentação do espetáculo A Cicatriz é a Flor (foto), de Newton Moreno, com Luah Guimarãez e Marianna Senne, shows, exposições, palestras sobre Direito de famílias e leis antidiscriminatórias, oficinas sobre corpo e sexo, entre outras atividades.

O Orgulho Lésbico é celebrado em duas datas por organizações distintas. No dia 29/8 outros grupos lésbicos e a ABGLT comemoram o Dia da Visibilidade Lésbica.

As inscrições para as exposições e oficinas dos dias 20 e 21/8 podem ser feitas pelo site
Um Outro Olhar,

sábado, 7 de agosto de 2004

Medo de mulher

"A Bíblia, o mais denso repositório cultural
da humanidade,é uma coletânea de frases
depreciativas sobre o sexo feminino"

Dias atrás, numa visita de campanha, a prefeita de São Paulo estendeu a mão a um judeu ortodoxo, desses que usam chapéu e sobretudo para frio siberiano. O homem deixou a prefeita com a mão no ar. Negou-se a tocá-la. Esse tipo de religioso acredita que mulher menstruada é impura. Como não pode perguntar a todas qual é seu estado, prefere evitar contato físico com o sexo oposto. A suspeita sobre a mulher é um ponto comum às grandes religiões.

Em certos países islâmicos, elas têm de andar cobertas da cabeça aos pés, para não despertar a luxúria no vizinho. Meninas de 13 ou 14 anos casam-se com homens de qualquer idade, à escolha de seus pais, desde que já tenham menstruado. Em alguns casos, as parentas tiram-lhes os pêlos de todo o corpo antes do casamento. Assim, oferecem ao homem um reforço tátil e visual à convicção de que está mesmo se casando com uma menina intocada.

Na semana passada, o Vaticano deu sua contribuição a esse tema. Um documento da Santa Sé denunciou o feminismo por tentar diminuir as diferenças entre homem e mulher. Se a mulher ficar parecida com o homem nos papéis que ambos desempenham, conclui o Vaticano, o casamento passará a equivaler a uma união homossexual. Acostumados com a rigidez da Igreja, que só admite sexo com fins reprodutivos, os católicos fingem que algumas regras não existem e continuam freqüentando sua missa dominical. Caso contrário, todos os casais teriam quinze filhos.
O atrito criativo entre o progresso humano e os tabus religiosos é um fenômeno instigante. A teoria de que a Terra se move e não é o centro do universo tem apenas cinco séculos. Até então, era preciso dobrar-se ao tabu de que o homem, ponto culminante da criação, vivia no centro do cosmo, tendo todo o firmamento a prestar-lhe homenagem, dançando a sua volta.

As religiões são conservadoras porque surgiram em culturas muito antigas. Reproduzem normas dessas comunidades. Códigos religiosos, como os Dez Mandamentos, são documentos civilizatórios. Reprimem impulsos destrutivos do homem primitivo. Não matarás, não roubarás, não mentirás nos tribunais e não pularás guloso em cima da mulher alheia são regras de conduta hoje aplicadas por meio de leis. O tabu, que reprime a livre manifestação de impulsos anti-sociais, sempre foi um elemento de estabilidade. Quando se torna um entrave ao progresso, precisa ser superado.

Cristianismo, judaísmo e islamismo são três galhos da mesma árvore. Moisés e Jesus são aceitos como profetas no islamismo. Abraão é patriarca dos judeus, dos cristãos e dos muçulmanos. As três religiões surgiram no mesmo lugar. Não é, portanto, uma surpresa que os núcleos mais conservadores desses três grandes ramos religiosos tenham uma atitude retrógrada diante da mulher. A Bíblia, o mais denso repositório cultural da humanidade, é uma coletânea de frases depreciativas sobre o sexo feminino. Em mais de 200 citações, a mulher aparece como propriedade do homem e como fonte de volúpia e perdição. Talvez na origem essa atitude refletisse o pânico ancestral dos homens com a possibilidade de ter sua prole infiltrada secretamente por um filho do leiteiro.

O tabu sobre a mulher é maior entre muçulmanos e judeus tradicionalistas, mas também está presente no catolicismo conservador, que não admite sacerdotes do sexo feminino e despreza as conquistas do feminismo. Esse tabu será superado como foram outros. Ele se tornou um entrave. Sua extinção está escrita.

Tales Alvarenga

sexta-feira, 6 de agosto de 2004

O voto GLBT

Abaixo, lista de candidatos em todo o Brasil que possuem compromisso explícito em defesa das reivindicações da comunidade de gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros (GLBT).

São candidatos oriundos da comunidade GLBT que assumem abertamente sua orientação sexual. Esta coluna, Consciência Gay, indica, aos seus leitores, o voto para um destes candidatos, independente do partido que ele pertença. O importante, nestas eleições, é o voto GLBT. Partido político se torna algo secundário neste momento.

Cidade - Estado Candidato Vereador 2004 (Partido)

Alvorada - RS - João Carlos de Souza (Lilica) (PT)

Aracaju - SE - Katielly (PMDB)

Belo Horizonte - MG - Danilo Oliveira (PV)

Colônia - PI - Kátia Tapete (reeleição) (PFL)

Contagem - MG - Márcia Marão (PT)

Curitiba - PR - Katiely Lanzini (PFL)

Curitiba - PR - Eliziane Newton (PSB)

Curitiba - PR - Beto Kaiser (PV)

Curitiba - PR - Allan Johan (PSB)

Duque de Caxias - RJ - Charlene (x)

Esmeraldas - MG - Elder Mansueto dos Santos (PL)

Friburgo - RJ - Ferreira (PT)

João Pessoa - PB - Fernanda Bevenucc (PT)

Manaus - AM - Adamor Guedes (PFL)

Niterói - RJ - Paulo Roberto (PL)

Ponta Grossa - PR - Otair Luiz dos Santos (PT)

Rio de Janeiro - RJ - Virgínia Figueiredo (PT)

Rio de Janeiro - RJ - Lilia (PFL)

Rio de Janeiro - RJ - Ilka Viana (x)

Rio de Janeiro - RJ - Luiz Lago (x)

Rio de Janeiro - RJ - Tim Maya (x)

Rio de Janeiro - RJ - Xuxette de Holliday (x)

Salvador - BA - Marcelo Cerqueira (PV)

São Paulo - SP - Fernando Quaresma (PPS)

São Paulo - SP - Flávia Pereira (PT)

Teresina - PI - Samantha Brasil (PFL)


Cidade - Estado Candidato Vice-Prefeito 2004 (Partido)
Nova Iguaçu - RJ - Eugênio Ibiapino (PSTU)

x = (Partido não informado)

Como escolher seu candidato

Siga, por ordem de prioridade, uma das três opções abaixo.
  1. Escolha um candidato da comunidade GLBT que tenha como programa de campanha proposta de inclusão social dos homossexuais e a defesa das reivindicações da comunidade
  2. Não existindo um candidato da comunidade em sua cidade, escolha àquele que em seu programa inclua à defesa das reivindicações GLBT
  3. Não existindo nenhuma das opções acima escolha um candidato progressista que tenha uma linha de ação em defesa das liberdades civis e da democracia
"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna"
Jo 3:16


Homossexualidade não é doença: o reconhecimento oficial

Desde a década de 1970 as grandes instituições nacionais e mundiais da medicina e da psicologia foram, uma após a outra, excluindo a homossexualidade do rol das doenças e distúrbios, depois de perceber que não havia razões sustentáveis para tê-la nesse rol. (Organização Mundial de Saúde, revisão da Classificação Internacional das Doenças, CID-9, em 1985; CID-10 em 1995. Associação Americana de Psiquiatria, 1973; Associação Americana de Psicologia, Associação Americana de Medicina e Academia Americana de Pediatria em inúmeras ocasiões, etc).

Por definição, doença, enfermidade, moléstia ou distúrbio é algo que provoca dor, sofrimento, ou incapacita o indivíduo para funções necessárias ou desejadas. Qualquer análise séria e sem viés termina por concluir que a prática da homossexualidade em si não causa nenhuma dessas coisas:

existem males decorrentes de atividades sexuais inadequadas, como doenças sexualmente transmissíveis ou traumas por abuso sexual na infância, porém esses dizem tanto respeito à atividade heterossexual quanto à homossexual (na verdade ainda mais à heterossexual, por essa ser estatisticamente bem mais freqüente);

determinados sofrimentos psicológicos são usualmente encontrados entre homossexuais, inclusive um índice de suicídio juvenil três vezes superior ao dos heterossexuais, porém esses decorrem todos da rejeição social a que o homossexual se vê submetido, e não da homossexualidade em si.

A homossexualidade é parte inseparável da identidade pessoal
Do testemunho das ciências, ainda é fundamental entender que se chegou a um consenso ? não arbitrário mas conquistado duramente, muitas vezes a contragosto! ? de que via-de-regra a homossexualidade não é uma opção do indivíduo, e sim uma condição intrínseca a ele ? não menos que a cor da pele ou, mais uma vez, o fato de ser canhoto.

Não se pode comparar a homossexualidade, portanto, com algo como a prostituição, na qual, em que pesem todas as injunções sociais e da história pessoal, uma pessoa tem a possibilidade de entrar, permanecer ou sair, sem perda da sua identidade pessoal mais íntima. Já a orientação do desejo amoroso e sexual faz parte da identidade pessoal mais íntima ? tanto segundo a psicologia quanto segundo os depoimentos mais honestos dos próprios homossexuais.

As pessoas realmente homossexuais sentem que jamais poderiam deixar de sê-lo sem mutilar gravemente sua própria essência; sentem que se deixassem de sê-lo deixariam de ser elas mesmas; estariam suprimindo a existência de uma pessoa até a sua raiz mais íntima ? ou seja, estariam cometendo um "suicídio psicológico".
É a isto que os movimentos religiosos de "cura" ou "regeneração" vêm convidando pessoas.

Homossexuais "curados" nunca foram de fato homossexuais
Sem dúvida há relatos de pessoas que se sentiram "curadas" ou "libertas" da homossexualidade por esses movimentos. Além de serem estatisticamente insignificantes diante da população tratada, um estudo caso a caso revelaria que se trata de pessoas estruturalmente heterossexuais que, devido a abusos sexuais ou outras circunstâncias, haviam sido levados a uma vida de prática homossexual com a qual não se sentiam verdadeiramente identificados. ? É compreensível que essas pessoas específicas relatem o processo como positivo, pois o reencontro consigo mesmo é sempre positivo.

Encontraríamos também casos de pessoas bissexuais, uma variação que permite que o desejo se direcione mais ou menos indiferentemente quer a um sexo quer ao outro, de modo que na "cura" tais pessoas apenas fizeram a opção de cultivar exclusivamente uma das frentes já presentes em sua personalidade.

As pessoas efetivamente homossexuais não podem porém ser mudadas. Podem sufocar ou suprimir seu desejo, mas não mudá-lo de fato. Existem hoje grupos e movimentos de "ex-ex-gays" que testificam de sua felicidade a partir do momento em que pararam de lutar contra si mesmos, e da profunda infelicidade dos que ainda lutam contra si mesmos nos movimentos de "cura". ? Note-se que em 11.12.1998 a diretoria da American Psychiatric Association aprovou por unanimidade uma declaração oficial de que as tentativas de "curar" a homossexualidade representam um perigo à saúde psicológica, enquanto que a homossexualidade em si não o representa.

Pecado?
A tese da interdição bíblica: resposta

Porém não é apenas como "doença" que as Igrejas têm rechaçado a homossexualidade. Na verdade elas não o fariam, do mesmo modo como não ousam, hoje, rechaçar um portador de epilepsia, ou de câncer.
Elas rechaçam porque estão convencidas de que a homossexualidade é um pecado (o que as coloca naturalmente na posição paradoxal de considerar que uma doença, da qual o indivíduo é vítima, é ao mesmo tempo um pecado, do qual o mesmo indivíduo é culpado).

A base para considerar a homossexualidade um pecado consiste em seis passagens bíblicas, três do Velho Testamento e três do Novo, nem todas das quais podem ser ligadas com segurança à prática homossexual. Diversos autores têm buscado indicar o significado dessas rejeições ou interdições no seu próprio contexto histórico e cultural, mostrando que podem ser relativizadas do mesmo modo como outras interdições bíblicas hoje o são.

Com que base qualquer autoridade eclesiástica ou qualquer cristão pode declarar que podem ser relativizadas as prescrições quanto ao divórcio, contra o corte de cabelo das mulheres e o da barba entre os homens, contra o consumo de determinados animais, contra o trabalho no dia de descanso ou contra a cobrança de juros, sem falar do "não matarás", e não podem ser relativizadas as que dizem respeito à homossexualidade? A própria Bíblia não aprova o uso de "dois pesos e duas medidas".

Uma leitura ponderada da Bíblia, isto é, que leve em conta o número e a ênfase das menções aos diferentes erros ou pecados, nos faria ver que as prescrições contra a homossexualidade quase desaparecem diante da multidão das condenações ao trabalho no dia de descanso. No entanto, qual é o cristão moderno que se acha disposto a parar de comprar aos domingos (ou sábados, conforme o dia de descanso escolhido), ou a boicotar os estabelecimentos que não o respeitam? E qual o cristão que se encontra disposto a abrir mão do recebimento de juros, já que a Bíblia diz que até mesmo o pai de um filho que aceite receber juros morrerá por isso? (Ezequiel 18:10-13).

Ninguém, portanto, pode se sentir obrigado a cumprir uma parte da Bíblia por determinação de pessoas que não cumprem outras partes. Ou reconhecemos que todos (inclusive os homossexuais) podemos ser cristãos apesar desses descumprimentos, ou reconhecemos que nenhum de nós o é. O que fugir disso é injustiça e falsidade.

A tese da opressão demoníaca: resposta
Algumas Igrejas pentecostais, além disso, atribuem a homossexualidade a uma possessão ou opressão demoníaca, ou seja: a seres espirituais maléficos que invadem o indivíduo, e que podem portanto ser expulsos, deixando o indivíduo em um suposto "estado natural heterossexual."

A imensa maioria dos depoimentos pessoais nega porém essa interpretação, pois em outros casos onde se pode falar de possessão a pessoa efetivamente sente que há uma vontade estranha dentro do seu ser, um mal que não pertence à sua essência.

Já no caso das pessoas realmente homossexuais, com freqüência o amor e desejo por outra pessoa do mesmo sexo são sentidos como vindo do ponto mais íntimo e profundo do ser, o mesmo ponto de onde vêm todas as sensações do mais alto, mais nobre e sublime, justamente o ponto onde a pessoa mais sente o gozo de ser ela mesma e a alegria de estar livre ou liberta.

A tentativa de expulsar o foco do sentimento homossexual é sentida como um ataque à própria essência da pessoa ? e o momento em que ela aceita esse foco como bom e aceitável aos olhos de Deus é que é sentido como de libertação e intenso gozo espiritual.

Em todo mundo crescem os depoimentos de pessoas que buscaram a Deus durante anos e anos com esforços sinceros para transformar a sua homossexualidade, até que sentiram inequivocamente a Palavra viva do Senhor dizer-lhes em seu mais íntimo: "Eu te fiz assim porque Eu te quero assim. Tentar modificar-se é uma blasfêmia contra a perfeição da minha obra e uma rebelião contra minha vontade. Eu te fiz assim porque Eu te quero assim."

O que as igrejas são chamadas a fazer

Deus concede a cada pessoa a liberdade de, se quiser, se auto-excluir de Seu Amor pela sua forma de agir voluntária, porém proclama que Ele mesmo não deseja excluir a ninguém, e mais: que efetivamente não exclui a ninguém em razão do seu modo-de-ser.

Cabe às Igrejas aceitarem dentro de si, do modo que são, todos os homens e mulheres homossexuais que desejem fazer um uso responsável e amoroso da sua sexualidade: aceitar aberta e oficialmente a esses homens e mulheres e a seus companheiros ou companheiras como parte honrada e digna do Corpo de Cristo.

As Igrejas que não o fizerem estarão tentando excluir do Amor de Cristo não menos que 400.000.000 (quatrocentos milhões) de homens e mulheres simplesmente por serem como são, sem que isso tenha sida uma escolha voluntária; estarão portanto exercendo um papel de julgamento ou pré-julgamento que não foi delegado por Deus a nenhum ser humano.

Tais Igrejas não estarão pecando menos gravemente que aquelas que rejeitarem alguma pessoa pela cor de sua pele. Não foi para rejeitá-los que Deus criou esses quatrocentos milhões de homens e mulheres que não mudarão sua orientação sexual ? muitos dentre eles dos mais dedicados às obras de amor e bondade, e portadores em seus corações da mais legítima fé no Senhor.

Cabe às Igrejas orientar os seus fiéis para respeitarem a dignidade de todas as pessoas, na imensa variedade com que Deus as fez, incluindo aí expressamente o direito dos homossexuais de serem como são ? com destaque para as crianças e jovens, tanto na posição de quem deve respeitar quanto na de quem deve ser respeitado.

As Igrejas que não o fizerem estarão se fazendo coniventes com uma indescritível carga de sofrimento e opressão, cúmplices das violências psicológicas e muitas vezes físicas que são cometidas diariamente contra os homossexuais, até o assassinato, e envolvidas na culpa por um imenso número de suicídios de jovens que não conseguiram suportar a carga de desprezo e rejeição dirigida ao seu próprio ser.

Estarão, enfim, dizendo como a multidão a Pilatos: "que o seu sangue caia sobre nós e os nossos filhos".
Este manifesto não trata, portanto, do mero interesse de uma minoria, e sim de uma questão de não menos gravidade que as famosas teses de Lutero para a Cristandade inteira:

Os erros do passado podem ser creditados à conta da ignorância, e encarados sob o prisma do perdão; agora, porém, que a humanidade recebeu compreensão e consciência desses fatos, qualquer discriminação deixou de ser desculpável a qualquer título.

As Igrejas que se recusarem à aceitação plena dos homossexuais estarão se mostrando indignas do Amor e do Nome de Jesus Cristo, e não devem mais ter reconhecida nenhuma autoridade para falar em Seu Nome.
O verdadeiro Amor de Deus exige que nós seres humanos abramos mão do poder de excluir, que é arrogar-se o direito de julgar em Seu lugar quanto à salvação, e coloca esta questão como uma linha divisória na História da Cristandade no raiar do seu terceiro milênio. Quem tem ouvidos, ouça.